Pressionado, BC não manterá alta do juro

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Há uma contradição entre a política monetária conduzida pelo Banco Central (BC) e a ação e o discurso do Ministério da Fazenda na área fiscal. Enquanto o primeiro diz que a política fiscal é expansionista e que leva isso em consideração na hora de calibrar a taxa básica de juros (Selic), o segundo afirma que a política fiscal é neutra, dando a entender que há espaço para aumentar os gastos com o objetivo de melhorar a atividade. Esta contradição mostra que, na verdade, BC e Fazenda não estão afinados e que, por isso, a política econômica segue sem credibilidade, apesar do esforço do governo em provar o contrário.

Há uma contradição entre a política monetária conduzida pelo Banco Central (BC) e a ação e o discurso do Ministério da Fazenda na área fiscal. Enquanto o primeiro diz que a política fiscal é expansionista e que leva isso em consideração na hora de calibrar a taxa básica de juros (Selic), o segundo afirma que a política fiscal é neutra, dando a entender que há espaço para aumentar os gastos com o objetivo de melhorar a atividade. Esta contradição mostra que, na verdade, BC e Fazenda não estão afinados e que, por isso, a política econômica segue sem credibilidade, apesar do esforço do governo em provar o contrário.

A opinião é da economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour. “Há muito tempo o governo diz que vai fazer uma coisa e acaba fazendo outra. Isso já produziu tamanho desgaste de credibilidade que, para ter um choque de credibilidade, o governo precisa de uma ação efetiva e não só de um discurso”, critica Solange nesta entrevista ao Valor.

Para a economista, o BC fez o diagnóstico correto ao iniciar o ciclo de alta de juros, mas dificilmente manterá essa política porque a economia está crescendo muito pouco e o país já entrou em período pré-eleitoral. Solange acha que o BC está atuando para manter a inflação em torno de 6%, mas não deverá ir além disso em 2014.

“Não acredito em discurso ‘hawkish’ [conservador] do BC. Já acompanhamos vários discursos como este que o BC vem tentando fazer agora, mas eles foram seguidos de ações insuficientes para convencer o mercado de que a intenção é desinflacionar a economia”, diz ela, que aposta que, quando a inflação diminuir um pouco, o BC será pressionado a interromper o ciclo de aperto monetário. “Em vários momentos em que tivemos esse discurso mais duro do BC, ele foi atropelado quando a inflação começou a melhorar.”

Solange, que fez sua formação acadêmica na PUC do Rio, está muito pessimista com o desempenho da economia. Acredita que o segundo semestre será “ruim”, com baixo crescimento, arrefecimento do mercado de trabalho, queda do salário real, aumento do déficit em conta corrente para 4% do PIB e um possível rebaixamento da classificação de risco da economia brasileira.

Extremamente cética quanto aos propósitos do governo Dilma Rousseff, a economista da ARX Investimentos prevê que 2015 será o ano do ajuste, seja qual for o governo. “Acho que vai ocorrer [uma mudança] porque a sociedade não está mais aguentando atividade baixa com inflação alta”, assinala.

A seguir, a íntegra da entrevista:

Valor: Nos últimos três meses, o governo, aparentemente, voltou a dar autonomia ao BC para conduzir a política monetária e deixou o câmbio flutuar. Na área fiscal, promete cumprir a meta. Por que ainda prevalece uma forte desconfiança por parte do mercado e dos agentes econômicos quanto ao desempenho da economia?

Solange Srour: Na política fiscal essa promessa está sendo feita constantemente e há muito tempo. Mas cada vez que se abre o noticiário, tem coisa nova. Na quarta-feira foi a notícia dos fundos energéticos [que, segundo “O Estado de S.Paulo”, serão financiados com empréstimos de bancos públicos]. Hoje é o leilão de Libra [campo de petróleo da camada pré-sal] que vai entrar como receita para ser gasta. É noticiado que o governo vai cumprir a meta, mas, no dia seguinte, os jornais contradizem o que o governo e principalmente o ministro Mantega vêm dizendo. Não adianta, portanto, anunciar o cumprimento de uma meta sem que se faça um corte de gastos. Não adianta dizer que vai cumprir uma meta com receita de dividendos e ao mesmo tempo fazer aportes do Tesouro em fundos que não aparecem como gasto primário num determinado momento, mas que vão aparecer em algum dia. Isso tem sido sistemático desde o início da gestão da presidente Dilma. Além disso, o BC vem dizendo que a política fiscal é expansionista nos seus documentos, mas ao mesmo tempo temos o ministro que disse há poucos dias à revista “Veja” que a política fiscal é neutra. Então, claramente, não estão falando a mesma língua, apesar de, em alguns momentos, tentarem passar para a imprensa a ideia de que estão afinados porque a Dilma resolveu consertar tudo. Mas como o ministro dá uma entrevista afirmando que a política fiscal é neutra, enquanto o BC diz que ela é expansionista e que por isso está subindo juros e vai levar em consideração essa política nos próximos movimentos? Esse episódio foi muito ruim. Além disso, ficou claro que não há nenhuma expectativa de o ministro mudar essa política que ele considera certa. Ele diz ‘como vamos acabar com as desonerações no atual estado da economia?’. Quer dizer, BC e Fazenda continuam  não falando a mesma língua, apesar de tentarem mostrar isso para o mercado.

Valor: A senhora atribui a falta de confiança dos agentes a essa falta de sintonia?

Solange: Há muito tempo o governo diz que vai fazer uma coisa e acaba fazendo outra. Isso já produziu tamanho desgaste de credibilidade que, para ter um choque de credibilidade, o governo precisa de uma ação e não só de um discurso. O próprio BC já fez vários discursos ‘hawkish’ no início do aperto monetário e o mercado começou de fato a acreditar na possibilidade de termos um ciclo de aperto monetário suficiente para conter a inflação.

Valor: E agora, continua acreditando?

Solange: Todo o mundo tem uma expectativa de inflação para este ano inferior à do ano passado, por diversos motivos que não são os da política monetária, mas o mercado não consegue baixar expectativas mais longas.

Valor: Por quê?

Solange: Porque sabe que a atitude do BC não é tentar trazer a inflação para baixo. É simplesmente manter a inflação onde ela está e, se possível, em patamar um pouco menor que o do ano passado. Por isso, não acredito em discurso ‘hawkish’ do BC. Já acompanhamos vários discursos ‘hawkish’ como este que o BC vem tentando fazer agora. Mas os discursos foram seguidos de ações insuficientes para convencer o mercado de que a intenção é desinflacionar a economia.

Valor: Agora não é diferente?

Solange: No início do aperto monetário, todos os discursos do BC eram no sentido de controlar a inflação sem afetar muito a atividade. Sempre tinha essa indicação de atividade, que não é um mandato do BC. O mandato é a estabilidade de preços e a estabilidade financeira. Dizer no início de um aperto monetário que vai trazer a inflação para baixo, mas sem afetar muito a atividade, já levanta dúvidas sobre se o BC sabe qual é o diagnóstico da inflação.

Valor: Qual é o diagnóstico?

Solange: A inflação não é só por causa de um choque de oferta ou um problema de expectativa. É um problema de demanda. O mercado de trabalho estava muito apertado porque o governo insistiu numa política de incentivar o consumo até onde não dava mais. Se eles têm um diagnóstico errado e, já no início do aperto monetário, mostram que sempre estão de olho na atividade, que ainda está fraco, o discurso ‘hawkish’ tem sempre um ‘porém’. Agora, eles dizem que estão querendo desinflacionar, mas ao mesmo tempo afirmam que a atividade econômica não está tão ruim assim, quer dizer, tentando levantar o ‘animal spirit’ [o espírito animal dos empresários]. Se a gente tem uma expectativa de que a atividade está realmente ruim e que vai continuar piorando, não tenho como acreditar que o aperto vai ser suficiente para trazer a inflação para baixo. Ele será suficiente apenas para manter a inflação nessa região de conforto, perto de 6%.

Valor: A senhora duvida, então, de que o BC vá fazer o aperto necessário para levar a inflação até a meta de 4,5%?

Solange: Se a atividade continuar fraca como eu vejo e grande parte do mercado espera neste segundo semestre, pior que as projeções da pesquisa Focus ou dos economistas, não acredito que nesse cenário o BC vá atuar para trazer a inflação para baixo. O objetivo do BC hoje é manter a inflação em torno de 5,80% até o fim do ano.

Valor: E em 2014?

Solange: Eles vão tentar fazer com que a inflação fique no mesmo patamar, contando com as desonerações que ainda serão feitas.

Valor:  O governo acredita que, no segundo trimestre, o Brasil cresceu mais que no primeiro. Mas o BC está vendo arrefecimento no terceiro e atribui isso à falta de confiança dos empresários. Como a senhora está vendo a conjuntura?

Solange: Estou vendo exatamente isso. O segundo trimestre pode ser igual ou um pouquinho melhor que o primeiro, mas nada muito melhor — algo entre 0,6% e 0,8% de crescimento. Para o terceiro trimestre, temos vários motivos para o desânimo.

Valor: Quais?

Solange: As manifestações populares terão impacto importante nos números porque, de fato, isso afetou a indústria e o comércio. Algumas fábricas tiveram que fechar mais cedo, mas também teve um noticiário muito ruim em torno da inflação e até mesmo em torno da derrocada do Eike Batista. Foram várias notícias realmente afetando a confiança. Em termos estruturais, não tem nada que leve à recuperação da economia diante de quadro de incerteza tão grande quanto o que estamos vivendo. Mesmo que não houvesse as manifestações ou tanto o noticiário microeconômico ruim que tivemos no terceiro trimestre, acho que não há nada que faça o espírito animal voltar.

Valor: O BC acredita que, ao combater a inflação com juros mais altos, ajudará aumentar a confiança.

Solange: O BC tomou esse trabalho para si. E vai cuidar da inflação porque temos um problema de credibilidade. O diagnóstico está certo, mas tenho um pouco de pena que tenha chegado tão tardiamente. Porque esse diagnóstico, na verdade, não veio agora. Veio no início do aperto monetário quando o BC disse que o problema da inflação era de oferta e não de demanda. Mas por que estou tão incrédula agora com a ideia de o BC trazer a inflação abaixo de 5%? Primeiro, porque 2014 é um ano eleitoral e o BC sabe que o ciclo político é realmente importante, principalmente agora, que o PT pode ficar fora do poder. Segundo, porque em vários momentos em que tivemos esse discurso mais duro do BC, ele foi atropelado quando a inflação começou a melhorar.

Valor: A senhora está vendo isso novamente?

Solange: Na semana passada, tivemos declarações do BC, via deputados, de que [o IPCA de 0,03% em julho] não é um número só, mas sabemos que, assim que tivermos um número melhor, essa guarda toda que foi montada vai cair. Para acreditar é preciso ter uma sequência de inflação boa, realmente com os núcleos caindo, e esperar que o BC tenha sangue-frio para promover o aperto monetário mesmo diante de índices de inflação menores. O BC está com um discurso tão enfático sobre credibilidade, mas saiu o IPCA e, no mesmo momento, a presidente Dilma afirmou que a inflação está sob controle. Mas todo mundo sabe que está sob controle porque não teve reajuste de ônibus.

Valor: O BC precisa só ter mais sangue-frio ou precisa ter mais autoridade?

Solange: O BC tem que ter mais autoridade e para isso precisa nadar contra a maré quando a situação for para baixar a guarda. Quando as expectativas pararem de piorar, não é porque a batalha estará ganha. As expectativas têm influência muito grande na inflação corrente, mas, se percebemos que os preços no atacado agrícola estão cedendo, vamos baixar as projeções para a inflação. Mas vamos combinar que dependemos fortemente das próximas coletas. E não adianta o BC ser o bastião da credibilidade do governo. Se as políticas fiscal e creditícia estiverem atuando contra o BC, a inflação não vai retroceder. Estamos vendo discussão sobre novos aportes no BNDES, um crédito direcionado que não para de se expandir e a política fiscal, que, segundo o ministro, é neutra, ou seja, tem espaço até para ser expansionista caso a atividade se deteriore. O BC tem que ter autoridade e sintonia com o resto do governo. E essa sintonia eu não vejo acontecer nos próximos 18 meses, até as eleições, porque, obviamente, o resto do governo está trabalhando visando à eleição, em um processo totalmente antecipado. Vejo o BC numa posição realmente dificílima porque levou para si o bastião da credibilidade ao mesmo tempo em que a discussão política começou intensamente em um momento de atividade ruim. A situação é realmente difícil, mas poderia ter sido mais fácil.

Valor: Como seria mais fácil?

Solange: Se a inflação não tivesse estacionado em 6% há quatro anos. No final das contas, foi construída uma história ruim, algo que já vem, na verdade, desde 2008, quando a inflação ficou próxima de 6% e, em 2009, só caiu [para 4,3%] porque foi um ano de crise. Existia uma ilusão no governo de que a inflação podia ficar estável em torno de 6% e não haveria problema nenhum. Na verdade, não é um equilíbrio você ter uma inflação de 6% no Brasil por tanto tempo porque, no fundo, não é 6% para ninguém. É 6% para a imprensa e no site do BC. Porque as pessoas que não têm, na sua cesta de consumo, um peso significativo de energia elétrica, automóvel e linha branca, produtos e tarifas que foram desonerados, sofrem com uma inflação muito maior do que essa. O BC está em uma situação difícil, mas não está isento de culpa porque a inflação está há muito tempo em 6%. Uma coisa é ter num ano um choque negativo. Outra é ter uma história de inflação elevada por muito tempo e, no momento atual, ter uma atividade fraca por causa de problemas de diagnóstico do governo em relação à oferta e ainda receber um choque cambial da magnitude que estamos tendo se os desenvolvimentos nos EUA continuarem positivos. Estamos numa situação bem difícil.

Valor: A senhora acha que a presidente Dilma está encarando este momento como um cabo de guerra entre mercado e governo?

Solange: Faço essa leitura desde o início do governo. A presidente nunca se preocupou com os investidores, seja do setor real ou do financeiro. A visão de que o setor financeiro é especulador é intrínseca a este governo. O mercado financeiro atua exatamente para dar complementaridade ao setor real da economia. Sem a intermediação financeira, estaríamos retrocedendo anos e anos. Seja do ponto de vista macro ou microeconômico, essa função nunca foi levada em conta. Vejo este governo tomando medidas sem considerar qual vai ser a reação dos investidores. E qualquer medida é eficaz se levar em conta os investidores. Não se decide a economia sem considerar o que acontecerá com os agentes econômicos, sem considerar as suas expectativas. Este governo se vê centralizador e acredita que pode mexer na macro e na microeconomia da forma que quiser e esperar o resultado. Esse modelo realmente não deu certo e não consigo ver uma mudança agora de cabeça.

Valor: Mas o governo não vem atendendo, ultimamente, às demandas do mercado?

Solange: Tomou ações pró-mercado, como retirar o IOF das aplicações de investidores estrangeiros em renda fixa e derivativos cambiais. Mas fez isso porque o câmbio estava subindo fortemente, com uma inflação enorme e no momento em que a presidente está perdendo popularidade. Não vejo isso como medida pró-mercado. No momento em que o câmbio começar a valorizar, seja porque o Brasil vá melhorar seus fundamentos e crescer ou até porque o governo faça algum arranjo na política fiscal, não tenho dúvida de que o governo voltará a intervir e com essas mesmas medidas que provocam distorção. Não vejo mudança na racionalidade do governo.

Valor: A senhora não acha que o Brasil está crescendo pouco porque houve uma redução da capacidade de expansão, provocada por outros fatores?

Solange: O mau gerenciamento da economia levou a uma queda do PIB potencial. Perdemos quatro anos. Desde 2009, só se incentiva o consumo, acreditando que assim teremos investimentos. E não é assim porque a economia, para investir, esbarra na falta de poupança. Deveria ter havido um incentivo aos investimentos não só do ponto de vista micro, de melhor regulação, gerenciamento de expectativas e menos intervenção, mas também gerando menos consumo.

Valor: Estimular o consumo não foi uma forma de estimular o investimento?

Solange: No momento em que se estimula o consumo da maneira que se fez, está se gerando inflação porque os investimentos não conseguem crescer no ritmo necessário para atender ao consumo. Isso acabou levando a um aperto monetário, à redução do crédito e também do consumo. O superincentivo ao consumo acabou travando os investimentos.

Valor: O governo apostava no contrário.

Solange: Realmente, o governo acreditava exatamente no contrário, que incentivando o consumo iria gerar investimento, esquecendo da restrição que existe, que é a poupança. Não adianta crescer, crescer e crescer, achando que vai dar para atender ao consumo. Tivemos que usar a política monetária e a política macroprudencial, que do ponto de vista de arrefecer o crédito foi importante e deu muito certo, mas no fim das contas também acabou levando à queda do investimento. No fundo, tudo é resultado de um diagnóstico errado sobre como a economia funciona.

Valor: Que diagnóstico?

Solange: É a ideia de que, ao incentivar a demanda, você imediatamente cria oferta. Isso não deu certo em nenhum lugar do mundo. E não ia dar certo no Brasil. Esse diagnóstico errado de que o consumo traz investimento, mesmo agora com o governo reconhecendo que país precisa de oferta, não morreu. Está vivo no governo. Não à toa, o governo não acabou com o IPI reduzido da linha branca e dos automóveis. O PIB potencial está mais para 3% do que para 5% ao ano.

Valor: Como a senhora vê a economia daqui em diante?

Solange: Nos próximos 18 meses, vejo a economia tão estagnada quanto está agora. O mercado de trabalho vai começar a sentir. As empresas estão com margens apertadas e não vão conseguir manter o nível do emprego como está hoje, embora eu não ache que o desemprego vá subir tanto. A inflação não vai arrefecer. Medido pela inflação de fato, isto é, não manipulada por desonerações, o salário cairá bastante. E a confiança do investidor não vai melhorar porque ele não vê mudança forte no governo. Restaurar a confiança depende de ação e não só de discurso. O cenário externo também não ajuda. A China está desacelerando. Seu crescimento real está mais para 7% e isso não vai ajudar a puxar nossas exportações. E o crescimento dos EUA ajuda mais os próprios americanos a saírem da crise, mas não é um crescimento capaz de levar o PIB mundial para cima em 2014. Nem o Federal Reserve está enxergando esse cenário, tanto que está diferenciando bastante as suas políticas de menos liquidez e subida de juro. O cenário para o Brasil até as eleições é de atividade muito fraca e de inflação controlada por outras vias para que não fique acima de 6% ou fique entre 6% e 6,5%. Isso faz de 2015 um ano que será muito difícil, independentemente de quem ganhar a eleição. Será o ano do ajuste. Ao mesmo tempo, dependendo do resultado das eleições, poderemos ter uma melhora muito grande porque a situação está tão ruim, as contas públicas tão deterioradas e a política monetária tão sem credibilidade que a volta do tripé [macroeconômico] pode trazer uma melhora substancial para o Brasil. É como se fôssemos começar do zero de novo. E há muito a ser feito. Pode haver melhora substancial dos preços dos ativos, da confiança e isso traz crescimento também. Toda melhora que vejo para o Brasil é no pós-2015, dependendo de uma  mudança da matriz econômica. Acho que vai ocorrer porque a sociedade não está mais aguentando atividade baixa com inflação alta.

Valor: A senhora vê risco de rebaixamento do risco soberano?

Solange: De “downgrade” vejo risco, sim, porque as informações sobre política fiscal estão cada dia piores. Não adianta acreditar que, mesmo melhorando as contas públicas, as transferências de fundos pelo Tesouro não serão percebidas pelo mercado. Ao mesmo tempo fazer um leilão do campo de Libra e usar parte importante da receita para entrar como superávit primário é um absurdo.

Valor: Por quê?

Solange: Porque as pessoas sabem que isso é trazer uma riqueza a valor presente e deixar as contas para o futuro. Vejo o risco de “downgrade” principalmente se o crescimento piorar, como acho que o mercado está esperando, porque as ações fiscais se intensificam e a relação dívida/PIB fica pior.

Valor: Nesse cenário, a senhora vê possibilidade de crise no balanço de pagamentos?

Solange: Vamos continuar nesse ritmo de deterioração forte. O câmbio desvalorizado até ajuda as exportações, mas o câmbio real é menor que o ganho nominal. O ganho com exportação não será tão imediato, então, a balança comercial deve continuar piorando. E nesse ponto a Petrobras é muito importante. Vai gerar um déficit comercial enorme neste ano. O investimento externo direto, que vem ajudando o Brasil de forma importante, não deve ficar imune no ano que vem a tantas incertezas domésticas que teremos pela frente, inclusive políticas. Não vejo crise, mas piora da conta corrente. Devemos chegar a um déficit próximo a 4% do PIB no fim do ano que vem.

 Fonte: Valor Econômico

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