Estarão os bancos entre as maiores vítimas da onda de vendas no mercado global de bônus, com o aumento dos custos dos financiamentos? Assim como o barco de Ulisses ao passar entre Cila e Caríbdis, os bancos precisam navegar por um aumento em seus custos de financiamento, tendo de um lado taxas de juros mais altas no mercado e do outro, as demandas das autoridades reguladoras.
Estarão os bancos entre as maiores vítimas da onda de vendas no mercado global de bônus, com o aumento dos custos dos financiamentos? Assim como o barco de Ulisses ao passar entre Cila e Caríbdis, os bancos precisam navegar por um aumento em seus custos de financiamento, tendo de um lado taxas de juros mais altas no mercado e do outro, as demandas das autoridades reguladoras.
Os spreads médios dos bônus dos bancos da União Europeia (UE) - a diferença entre o que os bancos podem tomar emprestado em comparação a um título soberano referencial, como os do Tesouro de EUA ou Alemanha - atingiram 95 pontos-base este mês, em meio a expectativas dos investidores de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano), poderá acabar com sua política expansionista, segundo apontam números da Dealogic.
Os bancos americanos viram seus spreads aumentarem para 122 pontos-base na metade de junho, de 12,5 pontos-base uma semana antes, embora tenha havido um recuo de lá para cá. "Há medo no ar e portanto a ordem do dia é ter cautela", diz um banqueiro experiente de Londres. "Os juros do mercado subiram rapidamente e isso não dá para aceitar com calma, mas os bancos estão mais preocupados com a alta dos spreads dos empréstimos."
Também contribuindo para o nervosismo dos investidores está o custo do seguro contra calotes de uma cesta de instituições financeiras europeias, que subiu 19 pontos-base desde o fim de maio, segundo o índice Markit iTraxx Senior Financials Index.
Mas isso esconde diferenças. Embora o custo de um "credit default swap" (CDS, proteção contra calote da dívida) do Deutsche Bank tenha aumentado menos de 5 pontos-base, o mesmo seguro para o Bank of Scotland aumentou 66 pontos-base.
"Certamente os emissores estão sensíveis a seus níveis de financiamento", diz Jeff Tannenbaum, diretor de mercados de dívida do Bank of America Merrill Lynch para instituições financeiras europeias. "Mais importante que a alta das taxas de juros é a volatilidade dos spreads dos bancos, que para várias instituições financeiras europeias está até 40 pontos-base mais alta nas últimas três semanas."
Essa alta poderá tirar o brilho do desempenho das ações dos bancos. Nos EUA, elas estão, durante a maior parte deste ano, entre os setores de melhor desempenho do índice S&P 500.
A elevação das taxas de juros deverá ajudar a aumentar as margens dos empréstimos, mas os bancos estão sendo pressionados em outras frentes. A queda dos preços dos bônus não só afetaram o valor de suas posições em dívidas, como os bancos americanos e europeus deverão sofrer restrições mais duras de capital, e o governo americano está limitando os lucros sobre os financiamentos imobiliários.
Tudo isso significa que os bancos poderão enfrentar obstáculos difíceis. Tradicionalmente, os bancos "têm um desempenho muito fraco durante as normalizações do Fed", diz Barry Knapp, diretor de estratégia de ações do Barclays para os EUA.
Contribuindo para o impacto dos custos mais altos de financiamento está o baixo crescimento econômico. A menor demanda por empréstimos limita a capacidade dos bancos de compensar o aumento dos custos repassando-os para os clientes, na forma de empréstimos mais caros. "No momento, é difícil quantificar o tamanho do golpe que os bancos sofrerão por causa da alta das taxas de juros", diz Suki Mann, diretor de estratégia de crédito do Société Générale.
"É improvável que eles compensem suas perdas nos mercados de bônus no curto prazo, uma vez que o baixo crescimento econômico limita o número de oportunidades de empréstimos lucrativas, embora as curvas de rendimento mais acentuadas ajudem", diz.
As pressões reguladoras ameaçam pressionar ainda mais os balanços dos bancos e os custos dos financiamentos. O percentual dos empréstimos e investimentos que os bancos comprometem para proteger os credores deverá disparar se as autoridades reguladoras da UE decidirem proteger todos os depósitos de varejo se um banco entrar em default. Isso deixaria os bancos com um volume reduzido de capital não securitizado para lidar com crises. No momento, essa relação média para os bancos da UE está em 22,5%, segundo pesquisa do Banco de Compensações Internacionais (BIS). Mas o BIS calcula que o número vai subir para quase 70% se todos os depósitos de varejo tiverem que ser protegidos.
As preferências dos depositantes e a alta dos juros contribuem para o maior risco para os detentores de bônus, reduzindo a possibilidade de os bancos fornecerem crédito não securitizado barato.
"A alta das taxas de juros poderá levar a uma mudança estratégica da parte de alguns investidores, que antes estavam preparados para comprar dívida subordinada", diz Khalid Krim, diretor de soluções de capital do Morgan Stanley para a Europa. "O que está deixando algumas pessoas nervosas é a volatilidade dos spreads de crédito dos bancos - antes, os bancos podiam tomar emprestados a custos menores do que as empresas e obter uma margem quando emprestavam esses recursos, mas esta dinâmica mudou", afirma.
Um consolo é que os balanços dos bancos estão mais fortes hoje do que durante a crise financeira, consequência das exigências de capital mais rígidas previstas no Acordo da Basileia 3.
Além disso, embora na média o spread dos bônus de bancos da UE tenha chegado a 60 pontos-base sobre o índice referencial até agora no mês, isso se compara a um spread de 135 pontos-base em abril, segundo a Dealogic.
"O caminho para a recuperação vai demorar", afirma Krim. "Os investidores dos mercados de capitais precisam ser pacientes, para permitir que os bancos implementem seus planos e demonstrem os benefícios do novo regime."