A percepção de que a demanda por crédito das empresas é fraca reflete uma disparidade entre dois universos de tomadores: os que buscam recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e os demais. Nos dados de crédito do Banco Central, no acumulado de 2013 até abril, as concessões a empresas com recursos livres cresceram 4,4% ante igual período de 2012, somando R$ 467,6 bilhões. Nos recursos direcionados, o incremento foi de 49,5%, totalizando R$ 77,89 bilhões.
A percepção de que a demanda por crédito das empresas é fraca reflete uma disparidade entre dois universos de tomadores: os que buscam recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e os demais. Nos dados de crédito do Banco Central, no acumulado de 2013 até abril, as concessões a empresas com recursos livres cresceram 4,4% ante igual período de 2012, somando R$ 467,6 bilhões. Nos recursos direcionados, o incremento foi de 49,5%, totalizando R$ 77,89 bilhões.
"Os desembolsos de recursos do BNDES estão sensacionais, puxados pela demanda por máquinas e equipamentos no agronegócio. Em algumas parcerias público privadas de infraestrutura a situação também é boa. Já no varejo e na indústria em geral, pouco se faz além do dia a dia do capital de giro", afirma José Ramos Rocha, do Bradesco. Só no banco da Cidade de Deus, as contratações de recursos do BNDES por empresas de pequeno e médio porte saíram de R$ 1,9 bilhão, no primeiro trimestre de 2012 para R$ 2,7 bilhões no mesmo intervalo de 2013.
Tanto que, longe do universo dos recursos direcionados, prevalece a interpretação de que 2013 não será fácil para as áreas de crédito de empresas dos bancos. "O começo do ano foi mais fraco que esperávamos, em especial no 'middle market' [médias empresas]", afirma Alexandre Sinzato, diretor de relações com investidores do ABC Brasil. No começo do ano, o banco fixou como meta um avanço entre 18% e 22% nas empresas de médio porte. Nos primeiros três meses do ano, o saldo de crédito a esse segmento recuou 4,9%. "Por enquanto não revisamos a projeção de crescimento em médias empresas neste ano, mas ele está bem mais desafiador".
"O clima de indefinição da economia afastou a necessidade de recursos para investimentos ou capital de giro adicionais. Por outro lado, temos visto muita troca de dívidas", relata Fernando Freiberger, diretor do segmento de pequenas e médias empresas do HSBC. "O mercado está muito líquido e o rouba monte entre os bancos por empresas com bons resultados é pesado. Nesses casos, o crédito acaba ficando mais longo, mais barato e com menos garantias."
Freiberger afirma, porém, que esse é o retrato de apenas uma parcela das companhias. Se por um lado falta demanda no mercado, por outro há empresas com problemas crescentes, que vêm alimentando as estatísticas de recuperações judiciais. Isso tem feito aumentar o rigor na concessão de crédito para companhias de médio porte com perfis parecidos aos das que recorreram ao instrumento. Os pedidos de recuperação judicial avançaram 13,6% até maio. Em 2012, na mesma comparação, o avanço era de expressivos 70,7%.
"Nas médias empresas, a inadimplência subiu a um patamar alto no ano passado e ficou lá desde então. Nas grandes empresas, a inadimplência subiu também, mas já deu sinais de melhora", diz Sinzato, do ABC Brasil. "É um cenário que tem nos deixado mais rigorosos, sim, na concessão."
No Bradesco, o segmento de "middle market", vem sendo analisado com mais critério e a monitoração das empresas do segmento tem sido mais intensa, segundo José Rocha. "Afinal, quem chega primeiro na empresa com dificuldades amarra melhor as garantias", afirma.
Sondagem conduzida pela Confederação Nacional da Indústria captura, em parte, essa maior restrição. No primeiro trimestre, houve uma piora da percepção da indústria de acesso ao crédito. Em março, o índice que avalia a dificuldade de acesso ao crédito foi de 42,3 pontos, o menor nível desde o segundo trimestre de 2009. O indicador varia de 0 a 100 pontos, sendo que valores abaixo de 50 indicam dificuldade de obter recursos bancários. Na sondagem anterior, estava em 43,7 pontos.
"Isso indica maior complexidade na hora de o empresário conseguir crédito. Pode ser desde um aumento na burocracia da concessão como uma seletividade maior mesmo", afirma Danilo Garcia, economista da CNI responsável pela sondagem. "Nas conversas com as empresas percebemos que há, em alguns casos, opção por recursos mais caros, mas menos burocráticos de aprovar. Isso não é o ideal."
O efeito calendário do começo do ano também pode ter agido sobre a demanda por uma das principais linhas de crédito a empresas: o capital de giro, que representa cerca de metade do estoque de pessoa jurídica. "Historicamente, o começo do ano tem uma menor demanda das empresas por crédito para capital de giro, motivada, principalmente, pelo recebimento das vendas de fim de ano", afirma Adilson Anísio, diretor de micro e pequenas empresas do Banco do Brasil.
Nos desembolsos acumulados até abril, as linhas de capital de giro cresciam 5,3% ante o ano passado, somando R$ 105,80 bilhões. A questão é que, em abril, quando o efeito sazonal já deveria começar a arrefecer, a modalidade desacelerou ainda mais, mostrando uma queda de 5% ante o mesmo mês do ano passado.