A alta dos juros no mercado futuro e das taxas dos títulos públicos começa a afetar os custos de captação das empresas nas ofertas de títulos de dívida como debêntures. As taxas do depósito interfinanceiro (DI), que acompanha a Selic, e dos papéis do governo atrelados à inflação são usadas como referência para as emissões privadas. As ofertas de ações, que ensaiaram uma retomada nos primeiros meses deste ano, também podem ficar comprometidas.
A alta dos juros no mercado futuro e das taxas dos títulos públicos começa a afetar os custos de captação das empresas nas ofertas de títulos de dívida como debêntures. As taxas do depósito interfinanceiro (DI), que acompanha a Selic, e dos papéis do governo atrelados à inflação são usadas como referência para as emissões privadas. As ofertas de ações, que ensaiaram uma retomada nos primeiros meses deste ano, também podem ficar comprometidas.
Embora ninguém espere uma paralisação do mercado de debêntures, a tendência é que os prêmios pagos pelas empresas em relação aos títulos do governo aumentem caso a incerteza externa se mantenha. Pelo menos nas duas emissões previstas para acontecer até o fim deste mês: a da concessionária Rodovias do Tietê, de R$ 1,065 bilhão, e a da distribuidora de gás Comgás, de R$ 400 milhões. Ambas possuem o benefício da lei que reduziu para zero a alíquota de imposto de renda para estrangeiros e pessoas físicas nas captações voltadas a projetos de infraestrutura.
Mas com a decisão do governo de acabar com a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em aplicações de renda fixa, as chamadas debêntures de infraestrutura passaram a sofrer concorrência dos títulos públicos pelos recursos do investidor de fora do país, agora bem mais escassos diante da mudança no cenário externo.
A elevação dos juros no mercado futuro também mexe no custo e no apetite dos investidores pelos papéis de empresas. A taxa de juros da maior parte das captações recentes foi definida a partir da taxa do depósito interfinanceiro (DI), que acompanha a Selic, mais um prêmio de risco (spread) fixo. O chamado CDI é também a referência da maioria dos fundos de investimento, principais compradores de debêntures.
Com a alta dos juros, a parte fixa da taxa paga pelos títulos privados na carteira dos fundos acaba ficando proporcionalmente menor. Dessa forma, a tendência é que os gestores exijam spreads maiores ou a vinculação das emissões a um percentual do CDI, o que acabaria com o risco de flutuação da taxa, segundo uma fonte.
Para um executivo de banco de investimento, ainda é cedo para determinar o impacto da piora dos mercados nas emissões. "O ideal seria não vir a mercado neste momento, mas ainda não vejo nenhum grande efeito nas captações", diz. Ele lembra que praticamente todas as operações realizadas no mercado brasileiro contam com garantia firme dos bancos, que ficam com os papéis que eventualmente não são vendidos no mercado.
As emissões de títulos de dívida no país já passaram por um difícil teste em 2011, com o agravamento da crise fiscal europeia. Na ocasião, o mercado não apenas se manteve ativo como várias empresas que pretendiam realizar captações externas mudaram os planos e se financiaram no país. "A diferença é que naquela época o ciclo no país era de queda de juros, agora é o contrário", pondera uma fonte.
A piora no cenário também pode afetar as ofertas de ações, que vinham se recuperando após um 2012 fraco. A tendência é que as empresas que ainda não registraram suas operações na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aguardem um momento melhor. É possível que novas operações só sejam lançadas após as férias de verão do hemisfério Norte.
"O pessoal que já tomou a decisão de ir a mercado não desistiu ainda", diz um banqueiro. "Quem estava se preparando, mas ainda não fez o arquivamento, continua trabalhando, só que não deve fazer nada agora."
Porém, ainda não está claro se haverá, de fato, algum impacto na demanda e nos preços das ofertas, afirma outro banqueiro.
Entre as empresas que preparam ofertas iniciais, mas não protocolaram as operações, estariam a ViaVarejo, do Grupo Pão de Açúcar, e a companhia de armazenamento de dados Locaweb.
A companhia aérea Azul, a CPFL Renováveis e a Votorantim Cimentos, por sua vez, já deram entrada em seus pedidos. No caso da Votorantim, a fixação do preço por ação está prevista para o dia 19.