Quando se fala em aposentadoria, é comum ouvir especialistas comentando sobre a dificuldade de se encarar essa fase devido à importância que o trabalho tem na identidade da pessoa.
Quando se fala em aposentadoria, é comum ouvir especialistas comentando sobre a dificuldade de se encarar essa fase devido à importância que o trabalho tem na identidade da pessoa.
Lilian Graziano, psicóloga, coach e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento (IPPC), de São Paulo (SP), define identidade como aquilo que percebemos de peculiar em um indivíduo (ou um grupo) e que o diferencia dos demais.
Para a especialista, se a pessoa se dedicar intensa e prioritariamente à profissão durante uma vida inteira, em detrimento de outras frentes possíveis, a chance de ela se sentir perdida na fase da aposentadoria é grande. Ou seja, será muito mais trabalhoso ressignificar a existência e entender seu papel em um novo contexto. “Ter uma profissão e viver intensamente o seu meio corresponde a um forte sentimento de pertencimento, com implicações profundas na percepção que temos de nós mesmos e do mundo a nossa volta”, analisa.
Identidades possíveis
Lilian comenta que perguntas como “Afinal, de que grupo seremos agora?” e “Que utilidade teremos?” são comuns se não houver equilíbrio ao longo da vida nas várias frentes possíveis.
“É preciso dedicar tempo à família, aos amigos, ter um hobby. Assim, a percepção que teremos de nós mesmos não estará tão fortemente associada a uma única atividade ou grupo social. Ainda, nossa ideia de vida dinâmica e produtiva estará menos associada ao conceito de utilidade fortemente ligado ao trabalho”, reflete Lilian.
Luciana Fernandez, aposentada há quatro anos, precisou de apoio psicológico para encarar a aposentadoria de forma amigável. “Hoje, todas as mulheres fazem faculdade e trabalham. Ocupam cargos tão relevantes quanto os homens. Na minha época não era bem assim. Mas eu fiz faculdade de contabilidade, abri uma consultoria e trabalhava muito. O meu negócio era minha vida”, conta.
A identidade de Luciana era seu trabalho. Ela admite que por anos seguidos, muitas vezes, deixou a saúde, o lazer e a família de lado priorizando o trabalho. “Temos que valorizar nossa profissão, mas aconselho aos meus filhos que saibam equilibrar as diversas frentes da nossa vida. Hoje, acredito que somos um somatório: trabalho, família, amigos, vida social, cuidado com a saúde, lazer etc. Senti um vazio enorme logo depois dos primeiros meses de aposentada, a ponto de não me sentir útil e respeitada e cair de cama. A terapia me ajudou a enxerga os vários aspectos da vida e a cuidar deles”, relata.
Vivências
Lilian explica que uma vida significativa se estabelece de acordo com as vivências experimentadas. “Em psicologia positiva costumamos falar em flow para descrever o quão significativa pode ser uma experiência. Entramos em flow quando exercemos uma atividade para a qual damos nosso melhor, absolutamente focados, de forma espontânea, pela simples gratificação que sentimos por realizá-la, e não por sua finalidade”, diz a psicóloga.
A profissional recomenda que as pessoas realizem atividades que proporcionem prazer. Seja como tentativa de equilibrar as várias frentes da vida ou como forma de enfrentar a transição do trabalho para a aposentadoria