Renegociações mantêm calotes sob controle, mas números tendem a piorar ao longo do ano, segundo analistas
Renegociações mantêm calotes sob controle, mas números tendem a piorar ao longo do ano, segundo analistas
Léa De Luca lluca@brasileconomico.com.br
Os bancos públicos continuaram expandindo o crédito, mas a inadimplência segue comportada. Segundo analistas, é o que devem revelar os balanços deBANCO DO BRASIL (BB) e Caixa, que serão divulgados nas próximas semanas - o do BB está marcado para o dia 15 e o da Caixa, que não tem capital aberto na bolsa, ainda não tem data definida para ser divulgado.
Há muitas possíveis explicações para o calote continuar em baixa nos bancos públicos, apesar do aumento do crédito muito acima da média do mercado - na Caixa, foi de 42% e no BB, de 23,1%.
Para Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, a inadimplência está em níveis bem abaixo do seus pares privados nos bancos públicos por uma razão estratégica "Antes de as operações completarem 90 dias de atraso, os bancos procuram os clientes para renegociar, e elas voltam para o curso normal sem entrar na rubrica de devedores duvidosos", diz.
Procurado pela reportagem, o BB informou que está em período de silêncio por conta, exatamente, da proximidade da divulgação do seu balanço - como a institui- ção tem capital aberto, é proibida de prestar informações prévias para evitar que alguns investidores possam, eventualmente, se beneficiar disso. Mas, perante críticas e desconfianças semelhantes, o banco já se defendeu publicamente mais de uma vez, afirmando que não está correndo mais riscos nem mudou sua política de crédito , a não ser pelo fato de estar cada vez mais focando em opera- ções de créditos para seus pró- prios correntistas, o que o preservou, por exemplo, de calotes maiores em operações de financiamento de automóveis. O crédito ao agronegócio, onde o banco tem larga tradição, está com inadimplência de 0,6%, em média.
"A Caixa, porém, pode estar se arriscando mais do que o BANCO DO BRASIL, uma vez que tem ingressado em searas desconhecidas", disse uma fonte que preferiu não se identificar. A Caixa não está sujeita a período de silêncio mas, procurada, não respondeu à reportagem do Brasil Econômico até o fechamento desta edição.
Desde a eclosão da crise de 2008, os bancos públicos vem sendo usados pelo governo para injetar liquidez no mercado e fomentar o crescimento por meio do aumento da oferta de crédito. Apesar disso, o índice de atrasos não disparou. "Porém, 2013 será o ano da verdade, quando saberemos de fato o quanto essa política de expansão do crédito a todo custo afetou a qualidade da carteira dos bancos", diz Rodrigues.
Franklin Santarelli, diretor responsável pela análise do setor financeiro na América Latina da Fitch Ratings, também espera uma piora da inadimplência nesses bancos ao longo do ano, mas não se arrisca a dizer quanto essa inadimplência vai piorar daqui para frente. "É a primeira vez que a capacidade de pagamento da famosa nova classe média brasileira é testada em ambiente de crescimento baixo", lembra, em entrevista por telefone em seu escritório em Nova York.
Santarelli não espera, porém, ver uma deterioração das carteiras desses bancos nos balanços do primeiro trimestre. Para ele, a tendência vai ficar mais clara dentro de alguns meses. No entanto, diz, não considera a piora na inadimplência um problema para esses bancos: "Eles tem a garantia do governo, e enquanto o governo mostrar que pode apoiar os negócios desses bancos, como vem fazendo - inclusive com injeção de recursos para reforçar a capacidade desses bancos, como fez em 2012 - o grau de risco dessas instituições, para nós, segue inalterado", explica.
A inadimplência, segundo dados mais recentes do Banco Central, ficou em 1,9%, em média, nas instituições públicas - praticamente ametade da média dos bancos privados.
Além da estratégia de renegociação, há outras explicações para essa taxa destoante - e uma das mais importantes reside no mix de produtos. Alguns desses bancos, como o BNDES, tem em suas carteiras muitas operações com grandes empresas, onde o calote tradicionalmente é bem mais baixo do que no crédito ao consumo (a carteira de empréstimos a empresas do BNDES registrou inadimplência de 0,5% em março último). Na Caixa, por sua vez, há predominância da carteira de financiamentos imobiliários, também tradicionalmente menores do que a média. No crédito imobiliário a pessoas jurídicas, a inadimplência em março era de 0,3%; para pessoas físicas as taxas são mais altas, mas nada comparado aos 4,5% das linhas de consumo.