Fernando Scheller
Fernando Scheller
Caso as expectativas se confirmem, a abertura de capital da BB Seguridade - empresa de seguros, previdência e capitalização do BANCO DO BRASIL - deverá movimentar mais de R$ 12 bilhões. Isso será suficiente para tornar a operação o segundo maior IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) da história da BM&F Bovespa. Especialistas apostam que, caso a empreitada seja bem sucedida, pode ser suficiente para acelerar a chegada de outras empresas brasileiras ao mercado de capitais.
O mercado brasileiro de IPOs está quase praticamente parado desde julho de 2010. Nos primeiros sete meses daquele ano, 11 empresas brasileiras chegaram à Bolsa; desde então, no entanto, só outras cinco seguiram o mesmo caminho - e a única oferta de ações bilionárias foi a do banco de investimentos BTG Pactuai, que arrecadou R$ 3,2 bilhões.
No segundo semestre de 2010, diante da piora da crise europeia, várias empresas desistiram da abertura de capital, incluindo a agência de viagens CVC, a fabricante de alimentos Camil, a construtora WTorre e a companhia de moda InBrands.
A insegurança das empresas em relação à receptividade do investidor se reflete em números: em 2009, os IPOs arrecadaram R$ 23,8 bilhões; no ano passado, o resultado caiu para R$ 3,9 bilhões, o menor resultado desde 2004, de acordo com dados da BM8cFBovespa.
Embora o Brasil tenha decepcionado investidores nos últimos 12 meses - especialmente com o crescimento de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, muito abaixo das expectativas inicialmente divulgadas o consenso entre analistas é que existe interesse externo por bons ativos brasileiros. Uma pesquisa mundial da Ernst Young mostra que o Brasil é o terceiro mercado na mente dos investidores, atrás somente dos Estados Unidos e da China.
Para Ivan Clark, sócio e líder da área de mercado de capitais da PwC Brasil, o Brasil tem ativos importantes que poderão atrair a atenção do investidor internacional. "Existem cerca de 150 empresas que hoje estão praticamente prontas para ir ao mercado. E tudo uma questão de encontrar o "timing7 correto", explica. "E tem muito recurso lá fora procurando oportunidade em mercados de riscos calculados."
"Empurrão7. Clark diz que o IPO da BB Seguridade pode ser justamente a "janela" que o mercado esperava para adotar uma atitude mais agressiva em relação às aberturas de capital. "A BB Seguridade é uma empresa com receita quase garantida, é o tipo de negócio que o banco consegue projetar quanto será arrecadado. E o tipo de projeto que pode animar os IPOs que hoje estão represados."
Em alguns casos, a opção pelo IPO também se torna uma necessidade, afirma o sócio-líder em mercados estratégicos da Ernst Young Terco, André Viola Ferreira. "Existem negócios que precisam captar recursos para financiar o crescimento de uma determinada divisão", explica o especialista. "E há também gente querendo sair (do investimento)", diz ele, referindo-se aos fundos de private equity, que investiram pesadamente em empresas locais nos últimos anos.
Embora acredite que o IPO da BB Seguridade tenha um valor "fora da curva" da média do mercado brasileiro, o sócio responsável pela área de mercado de capitais do Tozzini Freire, Antonio Felix de Araújo Cintra, acredita que, caso o preço da ação fique perto do teto estipulado - de R$ 18 - e haja interesse pelos lotes extras, outros investidores podem ver motivos para apostar em outros negócios nacionais.
"Acho que isso vai ser verdade especialmente para as empresas que já têm um histórico de atividades, enquanto as dificuldades serão maiores para aquelas que acessem o mercado de capital apenas com propostas relativas a projetos futuros", explica o especialista.
Fonte: ANABB