BC corre risco de inflação se acomodar no teto

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O Banco Central tem que deixar claro qual é o limite da inflação com a qual está disposto a conviver, para evitar que o IPCA se acomode perto do teto da meta, de 6,5%. Essa é a opinião do diretor da Nomura Securities Tony Volpon. "O governo deveria admitir que a inflação vai rodar na casa dos 5,5% por algum tempo", afirma. Volpon espera que o BC eleve a Selic em 150 pontos, para 8,75% ao ano, a partir de abril ou maio. O principal objetivo da ação é melhorar sua credibilidade. Veja, a seguir, os principais pontos da entrevista concedida ao Valor:

O Banco Central tem que deixar claro qual é o limite da inflação com a qual está disposto a conviver, para evitar que o IPCA se acomode perto do teto da meta, de 6,5%. Essa é a opinião do diretor da Nomura Securities Tony Volpon. "O governo deveria admitir que a inflação vai rodar na casa dos 5,5% por algum tempo", afirma. Volpon espera que o BC eleve a Selic em 150 pontos, para 8,75% ao ano, a partir de abril ou maio. O principal objetivo da ação é melhorar sua credibilidade. Veja, a seguir, os principais pontos da entrevista concedida ao Valor:

 

Valor: Após a leitura da ata do Copom, o senhor acredita que o BC prepara uma alta de juros?

 

Tony Volpon: A decisão de subir juros é muito importante por causa das expectativas. O BC tem que deixar muito claro qual é o limite da inflação com a qual está disposto a conviver. Se não atuar agora, a inflação vai se estabelecer em um novo ponto de equilíbrio, perto de 6%. Aí, qualquer choque exógeno joga a taxa para 7%. Minha projeção de juros é de um aumento de 150 pontos, a partir de maio, ou abril. Isso é necessário para levar a inflação para perto de 5,5% neste e no próximo ano. Senão, o IPCA vai para 6%. Essa é uma escolha que eles têm que fazer agora.

 

Valor: Qual será a variável chave para determinar o próximo passo do Banco Central?

 

Volpon: O alerta de cautela feito pelo BC na ata é para ver se o efeito da desoneração será sentido em março ou em abril. E há grande dúvida sobre o tamanho do impacto, que pode ser de zero a 0,6 ponto. Outra possibilidade é que eles vão querer ver o PIB do primeiro trimestre e se, de fato, está ocorrendo uma recuperação. Acho que eles não vão querer dar juros se não houver uma recuperação. Se o PIB vier fraco, então a ação pode ficar para maio ou até depois.

 

Valor: E como o BC deve conduzir o câmbio nesse cenário?

 

Volpon: Eles têm sinalizado que querem o câmbio estável para que a inflação caia no segundo semestre. Então, por que não deixar o dólar cair para R$ 1,90? A questão é que, além da preocupação com a indústria, a balança comercial tem desapontado muito nos últimos meses. Isso complica a estratégia de usar o câmbio de maneira mais pró-ativa para o combate à inflação. A tendência do fluxo e da balança comercial indica que você precisa de um câmbio mais fraco.

 

Valor: Há perda de credibilidade junto ao investidor estrangeiro?

 

Volpon: O governo percebeu que tem um problema de imagem junto aos investidores. Seria benéfico dar a indicação de que trabalha junto ao mercado, não contra. Demonstrar que eles prezam estabilidade de preços como um valor em si e único seria importante para recuperar a credibilidade junto ao investidor estrangeiro, que hoje está na dúvida. E podemos estar vivendo um momento atípico em que aumentar juros de forma moderada pode ajudar a aumentar a confiança e favorecer o crescimento, especialmente por meio de investimento. Você tem um quadro de falta de confiança hoje e, sem confiança, não se investe. Uma das coisas que podem mudar isso é mostrar que há uma política monetária que não permitirá que a inflação vá para 6,5%. Mas o governo deveria também admitir que a inflação vai ficar ao redor dos 5,5% por algum tempo. O [Armínio] Fraga [ex-presidente do BC] mudou a meta em alguns momentos. Em vez de ficar perseguindo o impossível ou prometendo o que não vai ser entregue, o governo poderia mudar a meta, explicando que há um choque de inflação de serviços. Isso seria perfeitamente aceitável.

 

Valor: Diante disso, o que esperar do câmbio no Brasil?

 

Volpon: Tendo a pensar que no curto prazo a gente deve caminhar para R$ 1,90, porque acredito no aperto monetário e que ele vai trazer um maior ânimo com relação ao Brasil. E isso chama mais fluxo. A médio e longo prazos, contudo, acho que caminhamos para um câmbio mais fraco, tanto pela questão da política monetária americana quanto pela necessidade de o Brasil fazer uma mudança de preços relativos. O país está muito caro, a indústria sofrendo, e a única maneira de se fazer essa mudança é com o câmbio mais desvalorizado em termos reais. O governo tentou fazer isso no ano passado, mas não deu certo, porque tivemos inflação. Acredito que essa mudança de preços seja uma história mais para depois das eleições, porque esse ajuste pode gerar uma recessão num primeiro momento. Essa mudança [do câmbio] não seria de 10%, mas além disso. Acho que a solução tem que ser algo como em 2003. Naquele ano, teve aquela desvalorização brutal que colocou o câmbio num patamar competitivo e o BC aumentou os juros. Com isso, diminuiu a demanda interna e houve uma transferência de recursos para o setor industrial e de exportáveis. Foi a época em que tivemos muita demanda por exportação. Temos que olhar para 2003 como parâmetro. No curto prazo vai haver um custo, mas isso colocaria a economia numa posição de dar uma disparada no crescimento.

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