A expansão das carteiras de empréstimo em ritmo bem mais forte que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi uma das razões alegadas pela agência de classificação de risco Moody"s para justificar a redução das notas de longo prazo do Banco Nacional de Desenvolvimento e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal.
A expansão das carteiras de empréstimo em ritmo bem mais forte que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi uma das razões alegadas pela agência de classificação de risco Moody"s para justificar a redução das notas de longo prazo do Banco Nacional de Desenvolvimento e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal.
Em relatório divulgado ontem, a Moody"s detalhou as razões que a levaram à decisão, anunciada na véspera, de rebaixar os ratings atribuídos às duas instituições. As notas de crédito de longo prazo da Caixa, do BNDES e de sua empresa de participações BNDESPar foram reduzidas "A3" para "Baa2" - mesma classificação atribuída ao país.
A agência destacou que os ativos totais e os empréstimos brutos do BNDES avançaram, desde 2008, a taxas compostas anuais de 29% e 24%, respectivamente. Enquanto isso, a expansão nominal do PIB foi de 11%. Para a Moody"s, trata-se de uma "evidência de que o balanço do BNDES tem sido usado como uma ferramenta de política econômica anticíclica".
No caso da Caixa, o crescimento dos empréstimos foi ainda maior nos últimos três anos, de 42%. As dez maiores exposições de crédito representavam 119% do chamado capital de nível 1 (de melhor qualidade) da instituição no fim do ano passado.
A Moody"s também destacou a preocupação com a crescente dependência do BNDES em obter funding do governo, e da Caixa em levantar recursos de mercado que não os depósitos. Na leitura da agência, a base de capital dos dois bancos tem "se deteriorado".
O relatório apontou que, ao mesmo tempo em que dependem de mais funding, Caixa e BNDES "têm sido chamados a distribuir dividendos consideráveis ao governo ao longo dos últimos anos, o que no geral tem ofuscado as recentes injeções de capital". Juntos, BNDES e Caixa responderam por 74% de todos os dividendos pagos por companhias do governo em 2012, contribuição que foi essencial para o governo alcançar as metas fiscais.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse não ver razões para a redução nas notas dessas instituições. "Não sei por que a Caixa e o BNDES estão sendo rebaixados", afirmou, durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. "Os bancos públicos brasileiros são administrados com transparência e eficiência. Todos os bancos públicos, não só BNDES e Caixa", disse.
Segundo Mantega, os bancos públicos têm aumentado o volume de empréstimos ao mesmo tempo em que mantêm a inadimplência em níveis mais baixos que a dos bancos privados. "Nunca o BANCO DO BRASIL, a Caixa e o BNDES estiveram tão sólidos quanto estão hoje", afirmou.
No Rio, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou que a nota do banco atribuída pela Moody"s estava acima da classificação soberana do Brasil e, agora, foi alinhada.
Segundo Coutinho, a decisão da Moody"s não é motivo de preocupação e não teve impacto no mercado. "O banco não está preocupado. Não houve impacto nos mercados em relação ao yield (a remuneração do título) do banco", destacou.
Os bônus do BNDES com vencimento em 2020 eram negociados ontem à tarde na mínima histórica, a 114% de seu valor de face e com "yield" de 3,3%. Porém, os títulos já vinham em trajetória declinante nos últimos meses.
Para Carlos Gribel, diretor de renda fixa para a América Latina da corretora americana INTL FCStone, o preço dos bônus vem caindo devido a uma "visão pior de Brasil" e não a fatores específicos do banco. (Colaboraram Talita Moreira, Yvna Sousa, Leandra Peres, Edna Simão, Diogo Martins e Chico Santos)