A lenta migração do cliente de alta renda para o risco

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Um olhar para fora, mas ainda com os pés fincados no conservadorismo. O cliente do varejo de alta renda, espremido entre os tomadores de crédito e os grandes investidores, está angustiado diante do baixo retorno nos fundos de investimento tradicionais. Ainda, entretanto, sem grande disposição para correr risco. É com essa demanda em mente que os gestores de grandes bancos têm criado produtos para conquistar esse público. A alta renda, ou pré-private, tem R$ 178 bilhões aplicados em fundos, segundo os últimos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), de janeiro. O volume investido tem crescido. Nos últimos cinco anos, avançou 75%. Ficou aquém, entretanto, do crescimento do mercado. A participação do varejo de alta renda no conjunto diminuiu de 9,7% em dezembro de 2007 para 7,9% ao fim de 2012. Os bancos querem criar ferramentas para que esse público aprenda a diversificar o portfólio dentro do universo dos fundos. "Esse é um cliente que, no passado recente, em função dos juros elevados, vivia na renda fixa tranquilamente. Agora, quando a renda fixa sequer consegue acompanhar a inflação, é quem fica mais intranquilo", diz Osvaldo do Nascimento, diretor executivo de investimentos do Itaú Unibanco. "Ele está em processo de aprendizado, ainda não preparado para sofrer volatilidade, mas já buscando diversificação", afirma. O Itaú - dono do maior volume sob gestão no segmento de alta renda, sob as bandeiras Personnalité e Uniclass - lançou um produto em dezembro que reflete bem suas impressões sobre a demanda. O fundo, chamado de "dinâmico", foi inspirado em uma estratégia que surgiu nas prateleiras de gestoras americanas nos últimos dois anos. Conhecida lá fora como "risk parity", consiste em ajustar os tipos e volumes de ativos em carteira de acordo com a oscilação dos seus preços. A regra é manter a volatilidade estável. O fundo pode operar ações, câmbio, inflação, ouro e juros. Mas, se, por exemplo, o dólar começar a oscilar muito, perde participação ou até some da carteira. A estratégia evita grandes ganhos, mas também permite fugir de fortes prejuízos. Outra arma dos bancos para atrair o varejo de alta renda são os fundos imobiliários. O Itaú tem três portfólios disponíveis para esse cliente. Essa também é uma aposta do BANCO DO BRASIL para o segmento Estilo. "Os fundos imobiliários já tiveram sucesso junto a esse público no ano passado e imaginamos que vão continuar tendo um bom apelo", afirma Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM. O banco já se prepara para oferecer outro fundo imobiliário nos moldes do BB Progressivo, que investe em imóveis ocupados por agências bancárias. O cliente de alta renda, diz Takahashi, tem um planejamento financeiro mais adequado, o que permite oferecer fundos que exigem maior prazo de permanência. Além de estruturar esse tipo de produto, a BB DTVM quer enxugar a prateleira. "Estamos revisando nosso portfólio como um todo para ter algo mais simplificado e adequado à nova realidade." As famílias de fundos DI e renda fixa, por exemplo, devem encolher. Fundos de inflação, que renderam 21,7% em média no ano passado, também estão no cardápio oferecido pela BB DTVM para esse público. A indicação, entretanto, não é do ponto de vista do ganho de capital, mas da proteção contra a inflação. Com uma alta de juros no horizonte, as carteiras carregadas de títulos mais longos podem perder bastante. "Temos dito à nossa força de vendas que tome bastante cuidado, porque esse é um produto de bastante volatilidade", diz Takahashi. A corrida para o risco ainda não é tão evidente, afirma. "No topo da pirâmide já percebemos uma tendência a diversificar um pouco mais, mas ainda nos produtos de mais fácil compreensão." Na gestora do Bradesco, o cardápio também está em revisão, para se concentrar nas estratégias mais atraentes. "O multimercado neste momento é a grande vedete", diz Marcos Daré, diretor de investimentos do banco, que atende a alta renda com as marcas Prime e Exclusive. Para ele, esse tipo de carteira, que opera diferentes ativos, seria uma transição. "O cliente mais conservador não vai pular direto para o fundo de ações", afirma. Para quem quer ir à renda variável, Joaquim Levy, diretor superintendente da gestora do Bradesco, aposta em um fundo, lançado no ano passado, que aplica em BDRs, recibos de ações de empresas estrangeiras negociadas na bolsa brasileira. "Acho que a atenção desse cliente vai crescer, principalmente se a economia americana se mantiver bem", diz. Na renda fixa, considera, o crédito privado deve continuar a atrair. Quem quiser ousar nos fundos de ações, acreditam os gestores, não vai optar pelos produtos indexados a índices, como o Ibovespa. O HSBC, que atende à alta renda com a marca Premier, intensificou a oferta de sua carteira de "small caps", com ações de empresas de menor liquidez. "Depois de quase três anos com a bolsa de lado, achamos que o cliente vai querer comprar produtos de gestão ativa", diz Alcindo Canto, diretor de distribuição da HSBC Global Asset Management. O executivo do HSBC também acredita em uma migração dos fundos DI para uma renda fixa turbinada. A gestora reabriu no começo do ano um portfólio desse tipo, com 70% do patrimônio aplicado em papéis de crédito privado. Para os mais arrojados, outra opção, ainda no forno, será um fundo multimercado que vai comprar ativos no exterior, dentro do limite legal de 20% do patrimônio. A gestora também estuda lançar um fundo do tipo "long biased", que não fica somente "comprado" em ações, o que garante um colchão em momentos de queda. "Quando a bolsa fica sem tendência, é importante que o gestor possa usar a posição vendida", diz Canto. Em 2012, teve até investidor de alta renda, órfão dos juros altos, que apelou para a poupança, diz o executivo do HSBC. "No primeiro teste, o investidor não correu muito para o risco", afirma. Já o primeiro mês do ano, diz, foi alvissareiro. Foi o melhor janeiro dos últimos cinco anos em captação líquida nos três multimercados oferecidos ao cliente de alta renda do banco. "Com certeza em 2013 as pessoas vão se obrigar a conhecer um pouco mais", diz, acrescentando que a demanda por consultoria do cliente do Premier no Brasil ainda é muito inferior ao de outras praças, como da sede, em Londres. "O cliente está incomodado, mas ainda não começou a agir, está na inércia", diz Aquiles Mosca, estrategista de investimentos da Santander Asset Management. Para atender à necessidade de diversificação, sem ferir a aversão a risco, a gestora tem montado fundos de capital protegido para os clientes sob as bandeiras Van Gogh e Select. "Se tudo der errado, o cliente retira o recurso que aplicou inicialmente", afirma Mosca. Para março, por exemplo, está prevista uma carteira com aplicação inicial de R$ 5 mil e prazo de 15 meses, em que o cliente ganha um pouco se o Ibovespa subir e nada se cair. Mosca também aposta na busca desse cliente por renda. A gestora lançará em março um fundo de boas pagadoras de dividendos que deposita os proventos em conta corrente. O formato mais comum no mercado é o que incorpora esse valor à cota. Os fundos de inflação também se mantêm indicados, mas em uma carteira com papéis mais curtos. Os menus estão recheados. Resta saber se o investidor vai sair da primeira página. "O varejo ainda não está indo para os multimercados. Ações, nem pensar. Mas vamos tentar ajudar nessa migração", diz Mosca.

Um olhar para fora, mas ainda com os pés fincados no conservadorismo. O cliente do varejo de alta renda, espremido entre os tomadores de crédito e os grandes investidores, está angustiado diante do baixo retorno nos fundos de investimento tradicionais. Ainda, entretanto, sem grande disposição para correr risco. É com essa demanda em mente que os gestores de grandes bancos têm criado produtos para conquistar esse público.

A alta renda, ou pré-private, tem R$ 178 bilhões aplicados em fundos, segundo os últimos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), de janeiro. O volume investido tem crescido. Nos últimos cinco anos, avançou 75%. Ficou aquém, entretanto, do crescimento do mercado. A participação do varejo de alta renda no conjunto diminuiu de 9,7% em dezembro de 2007 para 7,9% ao fim de 2012. Os bancos querem criar ferramentas para que esse público aprenda a diversificar o portfólio dentro do universo dos fundos.

"Esse é um cliente que, no passado recente, em função dos juros elevados, vivia na renda fixa tranquilamente. Agora, quando a renda fixa sequer consegue acompanhar a inflação, é quem fica mais intranquilo", diz Osvaldo do Nascimento, diretor executivo de investimentos do Itaú Unibanco. "Ele está em processo de aprendizado, ainda não preparado para sofrer volatilidade, mas já buscando diversificação", afirma.

O Itaú - dono do maior volume sob gestão no segmento de alta renda, sob as bandeiras Personnalité e Uniclass - lançou um produto em dezembro que reflete bem suas impressões sobre a demanda. O fundo, chamado de "dinâmico", foi inspirado em uma estratégia que surgiu nas prateleiras de gestoras americanas nos últimos dois anos. Conhecida lá fora como "risk parity", consiste em ajustar os tipos e volumes de ativos em carteira de acordo com a oscilação dos seus preços. A regra é manter a volatilidade estável. O fundo pode operar ações, câmbio, inflação, ouro e juros. Mas, se, por exemplo, o dólar começar a oscilar muito, perde participação ou até some da carteira. A estratégia evita grandes ganhos, mas também permite fugir de fortes prejuízos.

Outra arma dos bancos para atrair o varejo de alta renda são os fundos imobiliários. O Itaú tem três portfólios disponíveis para esse cliente. Essa também é uma aposta do BANCO DO BRASIL para o segmento Estilo. "Os fundos imobiliários já tiveram sucesso junto a esse público no ano passado e imaginamos que vão continuar tendo um bom apelo", afirma Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM. O banco já se prepara para oferecer outro fundo imobiliário nos moldes do BB Progressivo, que investe em imóveis ocupados por agências bancárias.

O cliente de alta renda, diz Takahashi, tem um planejamento financeiro mais adequado, o que permite oferecer fundos que exigem maior prazo de permanência. Além de estruturar esse tipo de produto, a BB DTVM quer enxugar a prateleira. "Estamos revisando nosso portfólio como um todo para ter algo mais simplificado e adequado à nova realidade." As famílias de fundos DI e renda fixa, por exemplo, devem encolher.

Fundos de inflação, que renderam 21,7% em média no ano passado, também estão no cardápio oferecido pela BB DTVM para esse público. A indicação, entretanto, não é do ponto de vista do ganho de capital, mas da proteção contra a inflação. Com uma alta de juros no horizonte, as carteiras carregadas de títulos mais longos podem perder bastante. "Temos dito à nossa força de vendas que tome bastante cuidado, porque esse é um produto de bastante volatilidade", diz Takahashi. A corrida para o risco ainda não é tão evidente, afirma. "No topo da pirâmide já percebemos uma tendência a diversificar um pouco mais, mas ainda nos produtos de mais fácil compreensão."

Na gestora do Bradesco, o cardápio também está em revisão, para se concentrar nas estratégias mais atraentes. "O multimercado neste momento é a grande vedete", diz Marcos Daré, diretor de investimentos do banco, que atende a alta renda com as marcas Prime e Exclusive. Para ele, esse tipo de carteira, que opera diferentes ativos, seria uma transição. "O cliente mais conservador não vai pular direto para o fundo de ações", afirma.

Para quem quer ir à renda variável, Joaquim Levy, diretor superintendente da gestora do Bradesco, aposta em um fundo, lançado no ano passado, que aplica em BDRs, recibos de ações de empresas estrangeiras negociadas na bolsa brasileira. "Acho que a atenção desse cliente vai crescer, principalmente se a economia americana se mantiver bem", diz. Na renda fixa, considera, o crédito privado deve continuar a atrair.

Quem quiser ousar nos fundos de ações, acreditam os gestores, não vai optar pelos produtos indexados a índices, como o Ibovespa. O HSBC, que atende à alta renda com a marca Premier, intensificou a oferta de sua carteira de "small caps", com ações de empresas de menor liquidez. "Depois de quase três anos com a bolsa de lado, achamos que o cliente vai querer comprar produtos de gestão ativa", diz Alcindo Canto, diretor de distribuição da HSBC Global Asset Management.

O executivo do HSBC também acredita em uma migração dos fundos DI para uma renda fixa turbinada. A gestora reabriu no começo do ano um portfólio desse tipo, com 70% do patrimônio aplicado em papéis de crédito privado. Para os mais arrojados, outra opção, ainda no forno, será um fundo multimercado que vai comprar ativos no exterior, dentro do limite legal de 20% do patrimônio. A gestora também estuda lançar um fundo do tipo "long biased", que não fica somente "comprado" em ações, o que garante um colchão em momentos de queda. "Quando a bolsa fica sem tendência, é importante que o gestor possa usar a posição vendida", diz Canto.

Em 2012, teve até investidor de alta renda, órfão dos juros altos, que apelou para a poupança, diz o executivo do HSBC. "No primeiro teste, o investidor não correu muito para o risco", afirma. Já o primeiro mês do ano, diz, foi alvissareiro. Foi o melhor janeiro dos últimos cinco anos em captação líquida nos três multimercados oferecidos ao cliente de alta renda do banco. "Com certeza em 2013 as pessoas vão se obrigar a conhecer um pouco mais", diz, acrescentando que a demanda por consultoria do cliente do Premier no Brasil ainda é muito inferior ao de outras praças, como da sede, em Londres.

"O cliente está incomodado, mas ainda não começou a agir, está na inércia", diz Aquiles Mosca, estrategista de investimentos da Santander Asset Management. Para atender à necessidade de diversificação, sem ferir a aversão a risco, a gestora tem montado fundos de capital protegido para os clientes sob as bandeiras Van Gogh e Select. "Se tudo der errado, o cliente retira o recurso que aplicou inicialmente", afirma Mosca. Para março, por exemplo, está prevista uma carteira com aplicação inicial de R$ 5 mil e prazo de 15 meses, em que o cliente ganha um pouco se o Ibovespa subir e nada se cair.

Mosca também aposta na busca desse cliente por renda. A gestora lançará em março um fundo de boas pagadoras de dividendos que deposita os proventos em conta corrente. O formato mais comum no mercado é o que incorpora esse valor à cota. Os fundos de inflação também se mantêm indicados, mas em uma carteira com papéis mais curtos.

Os menus estão recheados. Resta saber se o investidor vai sair da primeira página. "O varejo ainda não está indo para os multimercados. Ações, nem pensar. Mas vamos tentar ajudar nessa migração", diz Mosca.

FONTE: Valor Econômico

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