Os números de crédito divulgados ontem pelo Banco Central (BC), com base numa nova metodologia, confirmaram que o custo médio do crédito para o tomador final no Brasil é mais baixo do que se pensava. Incluídas informações sobre o crédito direcionado, parte relevante mas até então ignorada, o BC concluiu que a taxa média de juros estava em 18% e não em 28,1% ao ano em dezembro de 2012, como indicava a amostra anterior - que limitava-se a operações com recursos de livre aplicação pelo sistema financeiro. No início de 2013, porém, a taxa subiu a 18,5% ao ano, interrompendo uma trajetória de queda de 10 meses. Em janeiro, tomar crédito ficou mais caro tanto para famílias quanto para empresas. A demanda foi menor nos dois segmentos, enquanto a inadimplência deu sinais de estabilidade. O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, vê esse movimento como uma acomodação de taxas e não como início de um ciclo de alta. Para ele, "era natural" que os juros registrassem alguma oscilação para cima após tantos meses de recuo. A queda nos meses anteriores foi favorecida não só pela redução das taxas de captação. Houve também redução do spread bancário, que caiu de 15,6 pontos percentuais para 11,5 pontos percentuais de fevereiro a dezembro. Em janeiro, foi justamente o spread que voltou a subir, alcançando na média 12,2 pontos percentuais, pois a taxa média de captação seguiu recuando, para 6,3%. O juro médio final apurado de acordo com a metodologia nova subiu de 24,3% para 24,6% ao ano nas operações com pessoas físicas e de 13,3% para 13,9% para as pessoas jurídicas. Ainda assim, ficou em patamar abaixo do que estava em fevereiro de 2012 (respectivamente 31,1% e 18,4% ao ano), como mostrou a nova série histórica do BC, retroativa a março de 2011. A inclusão do crédito direcionado nas estatísticas revelou taxas médias menores mesmo com um ajuste no conceito adotado pelo BC. A autoridade passou a classificar todas as operações contratadas com recursos de aplicação obrigatória pelas instituições financeiras (caderneta de poupança, por exemplo), mesmo que parcela delas seja a taxas de mercado. O crédito direcionado é mais barato que o livre porque, na sua maior parte, as taxas são reguladas. Na média, o crédito livre foi tomado a 26,1% ao ano em janeiro, sendo 34,5% ao ano para famílias e 18,8% ao ano para empresas. Enquanto isso, as taxas do direcionado foram, respectivamente, de 7,2%, 6,6% e 7,6% ao ano apenas. A opção do BC de mudar a metodologia é importante não só pela fatia que o direcionado representa no estoque total de crédito, superior a 40%. É relevante também por causa da política do atual governo para os bancos federais, pressionados a acelerar operações para ajudar no crescimento da economia. Tal política tende a fazer com que o crédito direcionado, mais forte nos estatais, siga se expandindo a taxas maiores que o crédito livre e ganhando espaço. Em janeiro, essa tendência se manteve, com o estoque aplicações obrigatórias subindo 1% e o de aplicações livres caindo 0,7%. Em 12 meses, enquanto o primeiro registrou expansão de 21,5%, o segundo avançou somente 13,1%. No total, o estoque de empréstimos e financiamentos do sistema financeiro ficou praticamente estável, a R$ 2,367 trilhão, após subida de 2,42% em dezembro. Com isso, caiu como proporção do PIB, de 53,6% para 53,2%. O saldo não cresceu diante do baixo volume de concessões no mês, 16,7% inferior ao de dezembro. O fluxo de crédito novo com recursos direcionados especificamente caiu quase 50%. O fato de não ter havido queda do estoque e sim aumento de 1% indica que o patamar de amortizações no mês também foi fraco. As concessões do crédito livre recuaram menos, 9,5%, mas ainda assim não foram suficientes para evitar queda do respectivo saldo. Maciel vê efeitos da sazonalidade nos dados de concessões e de estoque. A demanda por crédito costuma subir no fim do ano e depois arrefecer em janeiro, lembrou. A queda das concessões foi mais forte nas operações com empresas, o que, na opinião dele, só reforça o caráter sazonal. As concessões do BNDES, que lida principalmente com empresas, por exemplo, caíram 65,6%, com destaque para os financiamentos de investimentos (menos 67,4%). Apesar de mais fraco, o fluxo foi suficiente para evitar queda do saldo da carteira de operações do banco estatal, que fechou janeiro em R$ 448,036 bilhões, 0,3% acima do que era em fim de dezembro. A metodologia do BC revelou que a inadimplência também é menor do que sugeria a amostra antiga, baseada em parte do crédito livre. Na nova forma de apurar, as operações com pagamento em atraso há mais de 90 dias representavam, no fim de dezembro, 3,7% do total e não 5,8%, como indicava a amostra sem o crédito direcionado, cuja inadimplência também é menor. Em janeiro, essa taxa se manteve estável no geral e para empresas (2,2%). No caso das operações com pessoas físicas recuou de 5,6% para 5,5%.
Os números de crédito divulgados ontem pelo Banco Central (BC), com base numa nova metodologia, confirmaram que o custo médio do crédito para o tomador final no Brasil é mais baixo do que se pensava. Incluídas informações sobre o crédito direcionado, parte relevante mas até então ignorada, o BC concluiu que a taxa média de juros estava em 18% e não em 28,1% ao ano em dezembro de 2012, como indicava a amostra anterior - que limitava-se a operações com recursos de livre aplicação pelo sistema financeiro.
No início de 2013, porém, a taxa subiu a 18,5% ao ano, interrompendo uma trajetória de queda de 10 meses. Em janeiro, tomar crédito ficou mais caro tanto para famílias quanto para empresas. A demanda foi menor nos dois segmentos, enquanto a inadimplência deu sinais de estabilidade.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, vê esse movimento como uma acomodação de taxas e não como início de um ciclo de alta. Para ele, "era natural" que os juros registrassem alguma oscilação para cima após tantos meses de recuo.
A queda nos meses anteriores foi favorecida não só pela redução das taxas de captação. Houve também redução do spread bancário, que caiu de 15,6 pontos percentuais para 11,5 pontos percentuais de fevereiro a dezembro. Em janeiro, foi justamente o spread que voltou a subir, alcançando na média 12,2 pontos percentuais, pois a taxa média de captação seguiu recuando, para 6,3%.
O juro médio final apurado de acordo com a metodologia nova subiu de 24,3% para 24,6% ao ano nas operações com pessoas físicas e de 13,3% para 13,9% para as pessoas jurídicas. Ainda assim, ficou em patamar abaixo do que estava em fevereiro de 2012 (respectivamente 31,1% e 18,4% ao ano), como mostrou a nova série histórica do BC, retroativa a março de 2011.
A inclusão do crédito direcionado nas estatísticas revelou taxas médias menores mesmo com um ajuste no conceito adotado pelo BC. A autoridade passou a classificar todas as operações contratadas com recursos de aplicação obrigatória pelas instituições financeiras (caderneta de poupança, por exemplo), mesmo que parcela delas seja a taxas de mercado.
O crédito direcionado é mais barato que o livre porque, na sua maior parte, as taxas são reguladas. Na média, o crédito livre foi tomado a 26,1% ao ano em janeiro, sendo 34,5% ao ano para famílias e 18,8% ao ano para empresas. Enquanto isso, as taxas do direcionado foram, respectivamente, de 7,2%, 6,6% e 7,6% ao ano apenas.
A opção do BC de mudar a metodologia é importante não só pela fatia que o direcionado representa no estoque total de crédito, superior a 40%. É relevante também por causa da política do atual governo para os bancos federais, pressionados a acelerar operações para ajudar no crescimento da economia. Tal política tende a fazer com que o crédito direcionado, mais forte nos estatais, siga se expandindo a taxas maiores que o crédito livre e ganhando espaço.
Em janeiro, essa tendência se manteve, com o estoque aplicações obrigatórias subindo 1% e o de aplicações livres caindo 0,7%. Em 12 meses, enquanto o primeiro registrou expansão de 21,5%, o segundo avançou somente 13,1%.
No total, o estoque de empréstimos e financiamentos do sistema financeiro ficou praticamente estável, a R$ 2,367 trilhão, após subida de 2,42% em dezembro. Com isso, caiu como proporção do PIB, de 53,6% para 53,2%.
O saldo não cresceu diante do baixo volume de concessões no mês, 16,7% inferior ao de dezembro. O fluxo de crédito novo com recursos direcionados especificamente caiu quase 50%. O fato de não ter havido queda do estoque e sim aumento de 1% indica que o patamar de amortizações no mês também foi fraco. As concessões do crédito livre recuaram menos, 9,5%, mas ainda assim não foram suficientes para evitar queda do respectivo saldo.
Maciel vê efeitos da sazonalidade nos dados de concessões e de estoque. A demanda por crédito costuma subir no fim do ano e depois arrefecer em janeiro, lembrou. A queda das concessões foi mais forte nas operações com empresas, o que, na opinião dele, só reforça o caráter sazonal.
As concessões do BNDES, que lida principalmente com empresas, por exemplo, caíram 65,6%, com destaque para os financiamentos de investimentos (menos 67,4%). Apesar de mais fraco, o fluxo foi suficiente para evitar queda do saldo da carteira de operações do banco estatal, que fechou janeiro em R$ 448,036 bilhões, 0,3% acima do que era em fim de dezembro.
A metodologia do BC revelou que a inadimplência também é menor do que sugeria a amostra antiga, baseada em parte do crédito livre. Na nova forma de apurar, as operações com pagamento em atraso há mais de 90 dias representavam, no fim de dezembro, 3,7% do total e não 5,8%, como indicava a amostra sem o crédito direcionado, cuja inadimplência também é menor. Em janeiro, essa taxa se manteve estável no geral e para empresas (2,2%). No caso das operações com pessoas físicas recuou de 5,6% para 5,5%.
FONTE: Valor Econômico