Em uma semana, a expectativa de inflação do mercado financeiro para 2017 sofreu considerável deterioração, subindo de 4,65% para 5%, conforme mostram os mais recentes números da pesquisa do Banco Central (BC) com analistas do setor privado. Diante da piora permanente no cenário de longo prazo, como ocorre hoje, seria oportuno questionar se não há algo errado na operação do regime de metas de inflação.
A meta de inflação do governo, submetida ao presidente da República e aprovada anualmente pelo Conselho Monetário Nacional, é de 4,5% desde 2005. Se houvesse total confiança dos agentes econômicos na gestão da política monetária, muito provavelmente os economistas privados não perderiam tempo com o assunto -- 4,5% seria a melhor projeção para a inflação daqui a cinco anos. Entre eles, porém, há quem já veja inflação de 6,5% em 2017, no limite do intervalo de tolerância do regime de metas.
As atenções do mercado financeiro estão voltadas para a inflação mais imediata, de 2013 e 2014, em grande parte determinada pelas ações de política monetária tomadas neste momento. A taxa de inflação daqui cinco, dez ou trinta anos, porém, é a mais relevante para as decisões de investimentos, fundamentais para ampliar a oferta agregada da economia.
Na última semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central disse, em sua ata, que o baixo crescimento da economia se deve primordialmente aos constrangimentos de oferta, os quais não podem ser combatidos com a política monetária, que por excelência é voltada para a demanda agregada.
Com tal declaração, a autoridade monetária se eximiu de responsabilidade sobre o baixo crescimento. É como se a ampliação da oferta decorresse apenas de fatores exógenos à sua atuação, definidos pelo ambiente financeiro global e por outras áreas do governo, que influenciam o nível de investimentos e o aumento da produtividade da economia.
O Banco Central, no entanto, também tem um importante papel a desempenhar nessa questão. Não por meio de estímulos monetários de curto prazo à demanda agregada que criam bolhas de crescimento, mas pela garantia de um ambiente de estabilidade monetária no país que dê mais segurança aos investidores.
Essa, aliás, não é uma função estranha ao Copom, na sua formação atual. Na mais recente ata, divulgada na semana passada, o comitê volta a afirmar que "a evidência internacional, que é ratificada pela experiência brasileira, indica que taxas de inflação elevadas levam ao aumento dos prêmios de risco, tanto para o financiamento privado quanto para o público, e ao encurtamento dos horizontes de planejamento, tanto das famílias quanto das empresas".
Mais do que palavras e diagnósticos, portanto, há espaço para uma ação efetiva do BC em busca de maior credibilidade, ingrediente necessário para ser bem-sucedido na administração das expectativas.
Um passo inicial nessa direção poderia ser a explicitação de como pretende, ao longo do ano, desinflacionar o IPCA dos atuais cerca de 6% para 4,5% até o fim do exercício, a despeito das evidências em contrário. Os modelos de projeção do Banco Central já apontavam, no relatório de inflação de dezembro, uma inflação de 4,8% em 2013. Apesar disso e calçado no baixo desempenho da atividade econômica, o Copom manteve a tese de que a estabilidade dos juros nos atuais 7,25% ao ano é a estratégia mais adequada para fazer a inflação convergir à meta.
O regime de metas é flexível e demanda transparência. No passado, quando se viu diante da impossibilidade de cumprir a meta, a autoridade monetária considerou mais apropriado adotar o conceito de meta ajustada - um desvio temporário - e explicou as razões pelas quais fez tal opção.
Há muitas incertezas minando a credibilidade do BC neste ambiente pós-quebra do Banco Lehman Brothers. Os banqueiros centrais, que até então acreditavam que o controle da inflação era a única meta a ser perseguida, foram chamados a zelar também por outros objetivos, como a solidez do sistema financeiro, a correção de distorções no mercado cambial e o nível de atividade.
Com objetivos diversos e não raro contraditórios, o mais importante para o BC, agora, é buscar um caminho para reforçar sua credibilidade e coordenar as expectativas.
Em uma semana, a expectativa de inflação do mercado financeiro para 2017 sofreu considerável deterioração, subindo de 4,65% para 5%, conforme mostram os mais recentes números da pesquisa do Banco Central (BC) com analistas do setor privado. Diante da piora permanente no cenário de longo prazo, como ocorre hoje, seria oportuno questionar se não há algo errado na operação do regime de metas de inflação.
A meta de inflação do governo, submetida ao presidente da República e aprovada anualmente pelo Conselho Monetário Nacional, é de 4,5% desde 2005. Se houvesse total confiança dos agentes econômicos na gestão da política monetária, muito provavelmente os economistas privados não perderiam tempo com o assunto -- 4,5% seria a melhor projeção para a inflação daqui a cinco anos. Entre eles, porém, há quem já veja inflação de 6,5% em 2017, no limite do intervalo de tolerância do regime de metas.
As atenções do mercado financeiro estão voltadas para a inflação mais imediata, de 2013 e 2014, em grande parte determinada pelas ações de política monetária tomadas neste momento. A taxa de inflação daqui cinco, dez ou trinta anos, porém, é a mais relevante para as decisões de investimentos, fundamentais para ampliar a oferta agregada da economia.
Na última semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central disse, em sua ata, que o baixo crescimento da economia se deve primordialmente aos constrangimentos de oferta, os quais não podem ser combatidos com a política monetária, que por excelência é voltada para a demanda agregada.
Com tal declaração, a autoridade monetária se eximiu de responsabilidade sobre o baixo crescimento. É como se a ampliação da oferta decorresse apenas de fatores exógenos à sua atuação, definidos pelo ambiente financeiro global e por outras áreas do governo, que influenciam o nível de investimentos e o aumento da produtividade da economia.
O Banco Central, no entanto, também tem um importante papel a desempenhar nessa questão. Não por meio de estímulos monetários de curto prazo à demanda agregada que criam bolhas de crescimento, mas pela garantia de um ambiente de estabilidade monetária no país que dê mais segurança aos investidores.
Essa, aliás, não é uma função estranha ao Copom, na sua formação atual. Na mais recente ata, divulgada na semana passada, o comitê volta a afirmar que "a evidência internacional, que é ratificada pela experiência brasileira, indica que taxas de inflação elevadas levam ao aumento dos prêmios de risco, tanto para o financiamento privado quanto para o público, e ao encurtamento dos horizontes de planejamento, tanto das famílias quanto das empresas".
Mais do que palavras e diagnósticos, portanto, há espaço para uma ação efetiva do BC em busca de maior credibilidade, ingrediente necessário para ser bem-sucedido na administração das expectativas.
Um passo inicial nessa direção poderia ser a explicitação de como pretende, ao longo do ano, desinflacionar o IPCA dos atuais cerca de 6% para 4,5% até o fim do exercício, a despeito das evidências em contrário. Os modelos de projeção do Banco Central já apontavam, no relatório de inflação de dezembro, uma inflação de 4,8% em 2013. Apesar disso e calçado no baixo desempenho da atividade econômica, o Copom manteve a tese de que a estabilidade dos juros nos atuais 7,25% ao ano é a estratégia mais adequada para fazer a inflação convergir à meta.
O regime de metas é flexível e demanda transparência. No passado, quando se viu diante da impossibilidade de cumprir a meta, a autoridade monetária considerou mais apropriado adotar o conceito de meta ajustada - um desvio temporário - e explicou as razões pelas quais fez tal opção.
Há muitas incertezas minando a credibilidade do BC neste ambiente pós-quebra do Banco Lehman Brothers. Os banqueiros centrais, que até então acreditavam que o controle da inflação era a única meta a ser perseguida, foram chamados a zelar também por outros objetivos, como a solidez do sistema financeiro, a correção de distorções no mercado cambial e o nível de atividade.
Com objetivos diversos e não raro contraditórios, o mais importante para o BC, agora, é buscar um caminho para reforçar sua credibilidade e coordenar as expectativas.
Fonte: Valor Econômico