Momento pede um crédito responsável de todos os bancos

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Análise: As intervenções recentes em instituições de menor porte levantam a questão se foram eventos isolados que ocorreram simultaneamente ou sintomas de disfunções na intermediação. Coincidência, mas todos eles operavam em consignado e veículos usados, nichos com inadimplência baixa e prazos longos e faziam cessão de carteiras para financiar-se. Os problemas foram causados por duas distorções: o padrão de concorrência entre as instituições e as regras de contabilização. No caso do consignado, pagava-se comissão aos "pastinhas", que são representantes comerciais que atraem os tomadores de crédito. A mesma era adiantada na ordem de 10% a 20% do montante liberado, reduzindo a margem. Num segundo momento, o próprio "pastinha", após alguns meses, convencia os mesmos clientes a refinanciar suas operações em outro banco a uma taxa menor. Com isso, ele obtinha uma segunda comissão de um concorrente e causava um prejuízo ao que tinha feito a concessão original. Uma segunda distorção ocorreu porque, na cessão de carteiras, tanto de consignado como de veículos, a contabilização superestimava o lucro da operação na instituição que cedia os créditos num primeiro momento e prejudicava os resultados de exercícios futuros. Com o aumento da inadimplência na crise de 2009, o quadro se agravou mais ainda e as distorções nos balanços se tornaram evidentes. Em alguns casos, os bancos tentaram escondê-las com artifícios contábeis, mas, aparentemente, o tema já é página virada e as distorções corrigidas. A bem da verdade, o ocorrido aponta para o fato de que distorções, no caso no padrão de concorrência e nas regras de contabilização, impõem um custo à sociedade. Há mais sintomas de disfunções na intermediação financeira no Brasil: as margens (spreads) são absurdamente elevadas, a demanda de crédito está em queda, a inadimplência em alta e os prazos são curto. É necessária uma readequação da intermediação financeira aos novos tempos. Devem-se apurar as demais falhas existentes, algumas são gritantes como a tributação do crédito, compulsórios draconianos, os direcionamentos e os custos de observância elevados e tomar as providências necessárias. O momento pede um crédito responsável de todos os bancos.

Análise:

As intervenções recentes em instituições de menor porte levantam a questão se foram eventos isolados que ocorreram simultaneamente ou sintomas de disfunções na intermediação. Coincidência, mas todos eles operavam em consignado e veículos usados, nichos com inadimplência baixa e prazos longos e faziam cessão de carteiras para financiar-se. Os problemas foram causados por duas distorções: o padrão de concorrência entre as instituições e as regras de contabilização.

No caso do consignado, pagava-se comissão aos "pastinhas", que são representantes comerciais que atraem os tomadores de crédito. A mesma era adiantada na ordem de 10% a 20% do montante liberado, reduzindo a margem. Num segundo momento, o próprio "pastinha", após alguns meses, convencia os mesmos clientes a refinanciar suas operações em outro banco a uma taxa menor. Com isso, ele obtinha uma segunda comissão de um concorrente e causava um prejuízo ao que tinha feito a concessão original.

Uma segunda distorção ocorreu porque, na cessão de carteiras, tanto de consignado como de veículos, a contabilização superestimava o lucro da operação na instituição que cedia os créditos num primeiro momento e prejudicava os resultados de exercícios futuros. Com o aumento da inadimplência na crise de 2009, o quadro se agravou mais ainda e as distorções nos balanços se tornaram evidentes. Em alguns casos, os bancos tentaram escondê-las com artifícios contábeis, mas, aparentemente, o tema já é página virada e as distorções corrigidas.

A bem da verdade, o ocorrido aponta para o fato de que distorções, no caso no padrão de concorrência e nas regras de contabilização, impõem um custo à sociedade. Há mais sintomas de disfunções na intermediação financeira no Brasil: as margens (spreads) são absurdamente elevadas, a demanda de crédito está em queda, a inadimplência em alta e os prazos são curto.

É necessária uma readequação da intermediação financeira aos novos tempos. Devem-se apurar as demais falhas existentes, algumas são gritantes como a tributação do crédito, compulsórios draconianos, os direcionamentos e os custos de observância elevados e tomar as providências necessárias. O momento pede um crédito responsável de todos os bancos.

FONTE: O Estado de S. Paulo

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