As ações preferenciais da Vale (VALE5) estão negociando com desconto em relação à sua média histórica e a seus principais competidores. Não seria uma oportunidade de compra para investidores com horizonte de longo prazo? Indefinições sobre a demanda chinesa e sobre o preço do minério de ferro, riscos tributários e riscos políticos como a destituição do presidente do fundo de pensão Previ, um dos acionistas da mineradora, têm prejudicado o desempenho das ações da Vale.
As ações preferenciais da Vale (VALE5) estão negociando com desconto em relação à sua média histórica e a seus principais competidores. Não seria uma oportunidade de compra para investidores com horizonte de longo prazo?
Indefinições sobre a demanda chinesa e sobre o preço do minério de ferro, riscos tributários e riscos políticos como a destituição do presidente do fundo de pensão Previ, um dos acionistas da mineradora, têm prejudicado o desempenho das ações da Vale.
Em 1979, o conhecido investidor americano Warren Buffett disse: "A incerteza é o melhor amigo do investidor de longo prazo". Nessas oportunidades é possível adquirir bons ativos a preços convidativos, pois o preço corrente da ação apresenta desconto em relação ao seu valor justo.
Embora não haja catalisadores para as ações apresentarem bom desempenho no curto prazo, há boas razões para investir nas ações preferencias de Vale (VALE5) com objetivo de longo prazo:
1) VALE5 está negociando com desconto em relação a seus principais competidores, BHP Biliton e Rio Tinto, tomando por base o múltiplo FV sobre o Ebitda (uma medida simplificada de geração de caixa) projetado para os próximos doze meses. O múltiplo de VALE5 é de 4,07 vezes, desconto de 16% em relação à BHP (múltiplo de 4,85 vezes) e de 14,5% na comparação com Rio Tinto (múltiplo de 4,76 vezes);
2) Considerando a média dos últimos três anos, o desconto de Vale em relação às duas companhias era menor: de 9,8% para BHP e de 11,5% para Rio Tinto;
3) A ação negocia também com desconto de 34% em relação a sua média dos últimos três anos, que é de 6,2 vezes;
4) Com a queda da ação, o retorno com dividendos ("dividend yield") esperado para 2012 atinge atrativos 6,5%;
5) Embora haja divergências, a maioria dos analistas acredita que o preço do minério de ferro deve se manter acima de US$ 100/tonelada ao se comparar a demanda e a oferta projetadas para os próximos anos. Esse nível é muito superior aos US$ 60 da época do colapso do Lehman Brothers e dos US$ 20 antes do boom de 2004;
6) O novo arcabouço macroeconômico brasileiro parece se caracterizar por juros mais baixos e por um real mais depreciado. Essa nova política cambial é benéfica para a exportadora Vale;
7) A inflação doméstica mais comportada deve ter um impacto positivo sobre os custos e as despesas, o que será benéfico para as margens operacionais da companhia;
8) Apesar das incertezas, o preço-alvo médio de VALE5 captado junto aos analistas de mercado pelo sistema de análise fundamentalista S&P Capital IQ é de R$ 55,10, potencial de valorização de 55%;
9) Os riscos já parecem estar precificados.
Vejamos o risco de desaceleração da economia chinesa. No primeiro semestre de 2010, os múltiplos de Vale, BHP e Rio Tinto se encontravam ao redor de 10 vezes. Na ocasião, dados sobre aumento da inflação chinesa e de que o governo do país asiático tomaria medidas restritivas de forma a reduzir a atividade econômica foram danosos para as ações das mineradoras. Com isso, os múltiplos correntes, entre 4 ou 5 vezes, são uma fração daqueles negociados no início de 2010.
O mercado passou a ter receio de cobranças tributárias referentes a lucros de operações no exterior e a cobrança de royalties de mineração. A cotação de Vale se encontrava em torno de R$ 44 em fevereiro e recuou para R$ 37 em maio. Esse risco também já não está precificado?
Essa recomendação serve para investidores com visão de longo prazo. Para aqueles que buscam ganhos imediatos é mais prudente ficar fora.
Admito que não é fácil indicar uma ação quando os riscos estão à espreita. Nesses momentos, nada melhor do que escutarmos novamente Buffett: "A maioria das pessoas fica interessada em ações quando todo mundo está. A hora de se interessar é quando ninguém está. Você não pode comprar o que é popular e ter boa rentabilidade".
André Rocha é analista certificado pela Apimec e atua há 20 anos como especialista na avaliação de companhias listadas na bolsa
FONTE: Valor Econômico