Elas baixaram? Ha bancos e financeiras cobrando 688% ao ano por empréstimos Apesar da pressão do governo, a redução das taxas pelos grandes bancos públicos e privados ainda está longe de aliviar o consumidor. Financeiras lideram os abusos A presidente Dilma Rousseff não escondeu a satisfação, nos últimos dias, diante do anúncio de que bancos públicos e privados haviam reduzido os juros aos consumidores. Mas, ainda que a pressão do governo tenha dado algum resultado, os brasileiros estão longe de comemorar. Quem precisa de dinheiro emprestado está sujeito a arcar com taxas de até 688,71% ao ano (18,78% mensais), cobrados pela Agiplan Financeira, conforme levantamento realizado pelo Banco Central. Se o cidadão ficar pendurado no cheque especial, correrá o risco de pagar encargos de até 275,68% anuais (10,34% ao mês) no Banco Santander. "É preciso deixar claro que a redução dos juros dos empréstimos e financiamentos ainda está no começo. Há muito espaço para que as taxas recuem", diz o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes. Ele ressalta que o processo de barateamento do crédito será mais lento do que o desejado pela presidente Dilma, já que os bancos resistirão ao máximo em abrir mão de uma fatia de seus lucros. A maior parte dos ganhos do sistema financeiro, 32%, vem do que os especialistas chamam de spread. Trata-se da diferença entre o que as instituições pagam aos investidores e o que cobram dos devedores. No Brasil, o spread médio é de 30 pontos percentuais, seis vezes maior do que os cinco pontos registrados nos países mais ricos, que integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), apenas o Zimbábue registra spread maior que o do Brasil, com 70 pontos. "A grande pergunta que todos estão fazendo hoje é: os bancos vão continuar reduzindo os spreads? Infelizmente, não há sinais concretos de que isso ocorrerá. Mas não há outro caminho para se baixar as taxas de juros com maior vigor", diz Thadeu. Agiotagem Técnicos do Banco Central asseguram que, entre as grandes instituições, lideradas pelas públicas, já se percebe um movimento real de queda dos juros. Para ter acesso às taxas menores, no entanto, é preciso um amplo processo de negociação. "Mas os clientes não podem desistir. Devem cobrar a redução das taxas, se possível, apresentando aos gerentes as tabelas de encargos divulgadas em panfletos de publicidade. As instituições que resistirem devem ser denunciadas ao BC e aos Procons", aconselha um funcionário da autoridade monetária responsável pelo atendimento ao público. Os mesmos técnicos do BC ressaltam que, no caso dos empréstimos pessoais, as maiores taxas são cobradas pelas financeiras independentes, não ligadas a bancos. E, normalmente, os que recorrem a elas já estouraram todas as linhas de crédito disponibilizadas em suas contas-correntes. "Só mesmo em situação de desespero uma pessoa aceita pagar juros de 18% ao mês", enfatiza um assessor do Ministério da Fazenda. Ele acrescenta que as pessoas menos informadas, que não têm conta bancária, acabam sendo fisgadas "por essa agiotagem regulamentada". "E é muita gente, senão essas financeiras não estariam proliferando Brasil afora", afirma. Apesar dos juros menores, nos financiamentos de automóveis também há exageros. Os carros financiados pelo Banco Azteca, por exemplo, têm taxas de 73,92% ao ano. Ou seja, em apenas 12 prestações, o comprador paga quase dois veículos. "Esse abuso ocorre mesmo com a instituição tendo a possibilidade de retomar o veículo em caso de não pagamento. Quer dizer: há garantia para o financiamento, o que, teoricamente, deveria jogar os encargos para baixo", assinala outro técnico do BC. Ele não consegue entender como o Banco Ibi, que pertencia à rede de varejo C&A e foi comprado pelo Bradesco, cobra juros de 139,78% ao ano no crédito direto ao consumidor. "A única receita para que bancos e financeiras de menor porte reduzam os juros é a clientela se recusar a pagar o que cobram. Sabemos que vai demorar para que essas instituições entendam que o sistema está mudando e que o país não comporta mais taxas abusivas. Mas ou se adaptam, ou fecharão as portas", sentencia um assessor da presidente Dilma.
Elas baixaram? Ha bancos e financeiras cobrando 688% ao ano por empréstimos
Apesar da pressão do governo, a redução das taxas pelos grandes bancos públicos e privados ainda está longe de aliviar o consumidor. Financeiras lideram os abusos
A presidente Dilma Rousseff não escondeu a satisfação, nos últimos dias, diante do anúncio de que bancos públicos e privados haviam reduzido os juros aos consumidores. Mas, ainda que a pressão do governo tenha dado algum resultado, os brasileiros estão longe de comemorar. Quem precisa de dinheiro emprestado está sujeito a arcar com taxas de até 688,71% ao ano (18,78% mensais), cobrados pela Agiplan Financeira, conforme levantamento realizado pelo Banco Central. Se o cidadão ficar pendurado no cheque especial, correrá o risco de pagar encargos de até 275,68% anuais (10,34% ao mês) no Banco Santander.
"É preciso deixar claro que a redução dos juros dos empréstimos e financiamentos ainda está no começo. Há muito espaço para que as taxas recuem", diz o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes. Ele ressalta que o processo de barateamento do crédito será mais lento do que o desejado pela presidente Dilma, já que os bancos resistirão ao máximo em abrir mão de uma fatia de seus lucros. A maior parte dos ganhos do sistema financeiro, 32%, vem do que os especialistas chamam de spread. Trata-se da diferença entre o que as instituições pagam aos investidores e o que cobram dos devedores.
No Brasil, o spread médio é de 30 pontos percentuais, seis vezes maior do que os cinco pontos registrados nos países mais ricos, que integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), apenas o Zimbábue registra spread maior que o do Brasil, com 70 pontos. "A grande pergunta que todos estão fazendo hoje é: os bancos vão continuar reduzindo os spreads? Infelizmente, não há sinais concretos de que isso ocorrerá. Mas não há outro caminho para se baixar as taxas de juros com maior vigor", diz Thadeu.
Agiotagem
Técnicos do Banco Central asseguram que, entre as grandes instituições, lideradas pelas públicas, já se percebe um movimento real de queda dos juros. Para ter acesso às taxas menores, no entanto, é preciso um amplo processo de negociação. "Mas os clientes não podem desistir. Devem cobrar a redução das taxas, se possível, apresentando aos gerentes as tabelas de encargos divulgadas em panfletos de publicidade. As instituições que resistirem devem ser denunciadas ao BC e aos Procons", aconselha um funcionário da autoridade monetária responsável pelo atendimento ao público.
Os mesmos técnicos do BC ressaltam que, no caso dos empréstimos pessoais, as maiores taxas são cobradas pelas financeiras independentes, não ligadas a bancos. E, normalmente, os que recorrem a elas já estouraram todas as linhas de crédito disponibilizadas em suas contas-correntes. "Só mesmo em situação de desespero uma pessoa aceita pagar juros de 18% ao mês", enfatiza um assessor do Ministério da Fazenda. Ele acrescenta que as pessoas menos informadas, que não têm conta bancária, acabam sendo fisgadas "por essa agiotagem regulamentada". "E é muita gente, senão essas financeiras não estariam proliferando Brasil afora", afirma.
Apesar dos juros menores, nos financiamentos de automóveis também há exageros. Os carros financiados pelo Banco Azteca, por exemplo, têm taxas de 73,92% ao ano. Ou seja, em apenas 12 prestações, o comprador paga quase dois veículos. "Esse abuso ocorre mesmo com a instituição tendo a possibilidade de retomar o veículo em caso de não pagamento. Quer dizer: há garantia para o financiamento, o que, teoricamente, deveria jogar os encargos para baixo", assinala outro técnico do BC.
Ele não consegue entender como o Banco Ibi, que pertencia à rede de varejo C&A e foi comprado pelo Bradesco, cobra juros de 139,78% ao ano no crédito direto ao consumidor. "A única receita para que bancos e financeiras de menor porte reduzam os juros é a clientela se recusar a pagar o que cobram. Sabemos que vai demorar para que essas instituições entendam que o sistema está mudando e que o país não comporta mais taxas abusivas. Mas ou se adaptam, ou fecharão as portas", sentencia um assessor da presidente Dilma.
FONTE: Correio Braziliense