Depois de um pedido formal e de um pito público da presidente Dilma Rousseff para que os bancos reduzam as taxas de juros com o intuito de ajudar o governo a estimular o consumo e os investimentos produtivos, o Palácio do Planalto decidiu intervir no mercado de crédito. Ontem, por determinação explícita da presidente, o Banco do Brasil anunciou redução de taxas em várias linhas de empréstimos e financiamento, medida que será reforçada na próxima semana pela Caixa Econômica Federal. O objetivo é forçar as instituições privadas a também reduzirem os encargos cobrados de consumidores e empresas, sob o risco de perderam participação nos negócios. Esse movimento, segundo assessores de Dilma, é mais uma etapa do pacote anunciado na terça-feira para garantir avanço de pelo menos 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Com juros menores, acredita o ministro da Fazenda, Guido Mantega, as famílias terão condições de encaixar novas prestações no orçamento. O alto endividamento dos lares é um dos principais entraves para uma recuperação mais rápida e forte da atividade. Apesar dos sinais explícitos emitidos pelo Planalto, os bancos privados não reagiram imediatamente. O Bradesco informou que está avaliando o tema. O Itaú Unibanco e o Santander não responderam aos questionamentos do Correio. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que representa todas as instituições, também optou pelo silêncio. "Podem ter certeza: os bancos que não seguirem o BB e a Caixa vão comer poeira. A ordem da presidente Dilma é sermos ousados, sem, é claro, pôr em risco a qualidade do crédito das duas instituições. Não custa lembrar que temos os menores índices de inadimplência do mercado", destacou um assessor da Fazenda. Ele destacou que Dilma está particularmente irritada com o aumento do spread bancário, diferença entre o que os bancos pagam aos investidores e o que cobram dos devedores. Isso está acontecendo porque as instituições não estão repassando a seus clientes os consecutivos cortes da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central. Calote O conjunto de medidas do Banco do Brasil para a redução dos juros ganhou o nome de BomPraTodos. Mas, ao contrário do que o nome diz, as bondades não são para todos e dependem muito do relacionamento que o cliente, pessoa física e jurídica, tem com a instituição. A taxa mensal de 3% para o crédito rotativo do cartão de crédito, por exemplo, hoje em 12,25%, em média, só estará acessível para os assalariados que receberem pelo banco e aderirem a um dos pacotes de serviços oferecidos. Os beneficiados receberão ainda um cartão da família Ourocard BomPraTodos e poderão usar o limite do cheque especial por 10 dias sem pagar juros. Para as empresas, a regra é a mesma. As que centralizarem seu movimento financeiro no BB e optarem pela adesão ao parcelamento automático da fatura do cartão receberão o novo Ourocard Empresarial Giro BomPraTodos e passarão a contar com a taxa de 3% no rotativo. O BB promete, para breve, acesso direto a uma linha de capital de giro, no momento das compras. Além de juros mais baixos, o banco público anunciou a ampliação de R$ 43,1 bilhões na oferta de crédito, sendo R$ 26,8 bilhões às micro e pequenas empresas e R$16,3 bilhões às pessoas físicas. O presidente do BB, Aldemir Bendine, disse que "esse movimento só foi possível graças aos baixos níveis de inadimplência". A instituição espera compensar as perdas de receitas com juros menores por meio da ampliação do volume de negócios. Ações recuam O mercado, no entanto, pelo menos num primeiro momento, mostrou forte ceticismo. As ações do BB, que já caíam cerca de 1% na Bolsa de Valores de São Paulo antes do anúncio das medidas, aceleram a perda para 5,91% após a confirmação do pacote. Mas o vice-presidente de Atacado e Negócios Internacionais do banco, Paulo Rogério Caffarelli, considerou a reação normal. Para ele, o mesmo movimento ocorreu quando o banco deu início a uma política semelhante em 2008. As instituições privadas não aderiram e perderam mercado. O Banco do Brasil conta, no momento, com 55 milhões de correntistas. Mas, dos 44 milhões de brasileiros que recebem salários em bancos, apenas 13 milhões têm conta na instituição pública. Além dos trabalhadores, a instituição quer ampliar o volume de negócios com os aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Dos 24,7 milhões de segurados atuais, 6,9 milhões integram a clientela do BB. No financiamento de veículos, o tombo dos juros foi de 19%, passando de 1,24% a 3,79% ao mês para 0,99% a 2,65% mensais. No BB Crediário, voltada para o consumo das famílias, as recuaram de 2,26% a 4% para 1,60% a 1,98% ao mês. A queda dos juros do BB mostra que o sistema financeiro tem muito o que cortar. Mão pesada Palácio do Planalto cumpre a ameaça e manda instituições públicas reduzirem os encargos de empréstimos e financiamentos Pesos pesados (Em R$ bilhões) Bancos controlados pelo governo tem forte participação no crédito Total de empréstimos de financiamentos 2.034,8 Instituições estatais 890,9 Instituições privadas nacionais 793,4 Instituições estrangeiras 350,4 Qualidade das carteiras de crédito (Em bilhões) Mesmo sendo mais agressivos, bancos públicos têm inadimplência menor. Veja as reservas para devedores duvidosos, exigidas pelo Banco Central Total de provisões 117,9 Instituições estatais 38,6 Instituições privadas nacionais 58,3 Instituições estrangeiras 21,0 O que está fazendo o Banco do Brasil As novas taxas passarão a vigorar para as pessoas físicas a partir de 12 de abril Tipo de crédito - Juros atuais - Novos juros BB crediário - 2,26% a 4% - 1,60% a 1,98% Financiamento de veículos - 1,24% a 3,79% - 0,99% a 2,65% Crédito consignado/INSS - 0,85% a 2,04% - 0,85% a 1,80% Crédito benefício/INSS - 2,27% a 3,89% - 2,27% a 2,34% 13º para aposentado/INSS - 3,21% - 2,34% Cartão de crédito (rotativo) - 3,96% a 13,62% - 3% Cheque Especial - 8% - 8% * (*) 10 dias sem juros. Se o cliente permanecer por 60 dias usando mais da metade do cheque especial terá financiamento imediato em 24 vezes, a juros a 3% ao mês Fontes: Banco Central e Banco do Brasil
Depois de um pedido formal e de um pito público da presidente Dilma Rousseff para que os bancos reduzam as taxas de juros com o intuito de ajudar o governo a estimular o consumo e os investimentos produtivos, o Palácio do Planalto decidiu intervir no mercado de crédito. Ontem, por determinação explícita da presidente, o Banco do Brasil anunciou redução de taxas em várias linhas de empréstimos e financiamento, medida que será reforçada na próxima semana pela Caixa Econômica Federal.
O objetivo é forçar as instituições privadas a também reduzirem os encargos cobrados de consumidores e empresas, sob o risco de perderam participação nos negócios. Esse movimento, segundo assessores de Dilma, é mais uma etapa do pacote anunciado na terça-feira para garantir avanço de pelo menos 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Com juros menores, acredita o ministro da Fazenda, Guido Mantega, as famílias terão condições de encaixar novas prestações no orçamento. O alto endividamento dos lares é um dos principais entraves para uma recuperação mais rápida e forte da atividade.
Apesar dos sinais explícitos emitidos pelo Planalto, os bancos privados não reagiram imediatamente. O Bradesco informou que está avaliando o tema. O Itaú Unibanco e o Santander não responderam aos questionamentos do Correio. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que representa todas as instituições, também optou pelo silêncio. "Podem ter certeza: os bancos que não seguirem o BB e a Caixa vão comer poeira. A ordem da presidente Dilma é sermos ousados, sem, é claro, pôr em risco a qualidade do crédito das duas instituições. Não custa lembrar que temos os menores índices de inadimplência do mercado", destacou um assessor da Fazenda.
Ele destacou que Dilma está particularmente irritada com o aumento do spread bancário, diferença entre o que os bancos pagam aos investidores e o que cobram dos devedores. Isso está acontecendo porque as instituições não estão repassando a seus clientes os consecutivos cortes da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central.
Calote
O conjunto de medidas do Banco do Brasil para a redução dos juros ganhou o nome de BomPraTodos. Mas, ao contrário do que o nome diz, as bondades não são para todos e dependem muito do relacionamento que o cliente, pessoa física e jurídica, tem com a instituição. A taxa mensal de 3% para o crédito rotativo do cartão de crédito, por exemplo, hoje em 12,25%, em média, só estará acessível para os assalariados que receberem pelo banco e aderirem a um dos pacotes de serviços oferecidos. Os beneficiados receberão ainda um cartão da família Ourocard BomPraTodos e poderão usar o limite do cheque especial por 10 dias sem pagar juros.
Para as empresas, a regra é a mesma. As que centralizarem seu movimento financeiro no BB e optarem pela adesão ao parcelamento automático da fatura do cartão receberão o novo Ourocard Empresarial Giro BomPraTodos e passarão a contar com a taxa de 3% no rotativo. O BB promete, para breve, acesso direto a uma linha de capital de giro, no momento das compras.
Além de juros mais baixos, o banco público anunciou a ampliação de R$ 43,1 bilhões na oferta de crédito, sendo R$ 26,8 bilhões às micro e pequenas empresas e R$16,3 bilhões às pessoas físicas. O presidente do BB, Aldemir Bendine, disse que "esse movimento só foi possível graças aos baixos níveis de inadimplência". A instituição espera compensar as perdas de receitas com juros menores por meio da ampliação do volume de negócios.
Ações recuam
O mercado, no entanto, pelo menos num primeiro momento, mostrou forte ceticismo. As ações do BB, que já caíam cerca de 1% na Bolsa de Valores de São Paulo antes do anúncio das medidas, aceleram a perda para 5,91% após a confirmação do pacote. Mas o vice-presidente de Atacado e Negócios Internacionais do banco, Paulo Rogério Caffarelli, considerou a reação normal. Para ele, o mesmo movimento ocorreu quando o banco deu início a uma política semelhante em 2008. As instituições privadas não aderiram e perderam mercado.
O Banco do Brasil conta, no momento, com 55 milhões de correntistas. Mas, dos 44 milhões de brasileiros que recebem salários em bancos, apenas 13 milhões têm conta na instituição pública. Além dos trabalhadores, a instituição quer ampliar o volume de negócios com os aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Dos 24,7 milhões de segurados atuais, 6,9 milhões integram a clientela do BB.
No financiamento de veículos, o tombo dos juros foi de 19%, passando de 1,24% a 3,79% ao mês para 0,99% a 2,65% mensais. No BB Crediário, voltada para o consumo das famílias, as recuaram de 2,26% a 4% para 1,60% a 1,98% ao mês. A queda dos juros do BB mostra que o sistema financeiro tem muito o que cortar.
Mão pesada
Palácio do Planalto cumpre a ameaça e manda instituições públicas
reduzirem os encargos de empréstimos e financiamentos
Pesos pesados (Em R$ bilhões)
Bancos controlados pelo governo tem forte participação no crédito
Total de empréstimos de financiamentos 2.034,8
Instituições estatais 890,9
Instituições privadas nacionais 793,4
Instituições estrangeiras 350,4
Qualidade das carteiras de crédito (Em bilhões)
Mesmo sendo mais agressivos, bancos públicos têm inadimplência menor. Veja as reservas para devedores duvidosos, exigidas pelo Banco Central
Total de provisões 117,9
Instituições estatais 38,6
Instituições privadas nacionais 58,3
Instituições estrangeiras 21,0
O que está fazendo o Banco do Brasil
As novas taxas passarão a vigorar para as pessoas físicas a partir de 12 de abril
Tipo de crédito - Juros atuais - Novos juros
BB crediário - 2,26% a 4% - 1,60% a 1,98%
Financiamento de veículos - 1,24% a 3,79% - 0,99% a 2,65%
Crédito consignado/INSS - 0,85% a 2,04% - 0,85% a 1,80%
Crédito benefício/INSS - 2,27% a 3,89% - 2,27% a 2,34%
13º para aposentado/INSS - 3,21% - 2,34%
Cartão de crédito (rotativo) - 3,96% a 13,62% - 3%
Cheque Especial - 8% - 8% *
(*) 10 dias sem juros. Se o cliente permanecer por 60 dias usando mais da metade do cheque especial terá financiamento imediato em 24 vezes, a juros a 3% ao mês
Fontes: Banco Central e Banco do Brasil
FONTE: Correio Braziliense