O mercado abre a semana com uma teste no horizonte: o Brasil terá pela primeira vez uma taxa básica de juros inalterada por oito reuniões consecutivas do Comitê de Política Monetária (Copom)? Afinal, embora o Boletim Focus do Banco Central aponte que a Selic fechará o próximo ano em 8%, acima da taxa atual de 7,25%, há economistas que acreditam na manutenção. Mas desde que o Copom passou a ser usado pelo Banco Central para definir a taxa básica de juros, em junho de 1996, a maior sequência foi de sete encontros sucessivos sem alteração - entre abril e novembro de 1997, quando a Selic ainda era mensal (1,78% ao mês). No ciclo de afrouxamento que parece ter se encerrado na semana passada, a taxa foi alterada nos últimos 15 encontros do Copom. E o país já atravessou 18 reuniões consecutivas em que a Selic foi trocada sempre, entre agosto de 2005 e setembro de 2007. Por que agora seria diferente? Para o economista do HSBC Brasil, Jancsó Constantin, há um desejo de política econômica com a frustração de crescimento abaixo do esperado. Para ele, o juro real neutro - que permite à economia crescer sem gerar pressão inflacionária - caiu no Brasil. "Eu não tenho dúvida que o juro de equilíbrio baixou". O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, diz que essa taxa caiu de 10%, uma década atrás, para uma faixa entre 4,5% e 5,5% atualmente. Acima, portanto, da taxa real atual, na casa de 2%, que o BC vem tolerando. "A taxa de juros real, apesar de abaixo da taxa neutra [do país] é compatível com o fato de a taxa de juros mundial também estar abaixo da neutra", avalia Oliveira. O ex-economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Roberto Troster, sócio da consultoria que leva seu nome, diz que quanto maior a meta de inflação, maior a taxa neutra de juro. "Depende ainda de condições institucionais, como indexação e prazos de ativos que podem ser alteradas", diz Troster, para quem a Selic sobe ano que vem para 9% quando as pressões inflacionárias levarem os índices de preços para acima dos 6%. Mas além de um cenário macroeconômico que permite juros reais abaixo da taxa neutra no mundo, outro fator que pode permitir uma Selic congelada é a postura da própria autoridade monetária. Há entre economistas a percepção de que o BC do presidente Alexandre Tombini é diferente dos anteriores. Para o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, a autoridade monetária é mais sensível a variáveis como atividade e emprego. O economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, concorda: "em algum momento o estatuto do BC será alterado para incorporar formalmente outras obrigações". Profissionais de mercado são quase unânimes em dizer que o BC segue guiado primordialmente pela inflação. O que muda é o prazo com o qual trabalha para conduzir a política monetária. "Isso ocorre quando o BC admite que flutuações de curto prazo provoquem uma convergência não linear da inflação para o centro da meta", diz Caio Megale, economista do Itaú Unibanco. Combat, da Concórdia, acredita que o horizonte mais largo usado pelo Banco Central terá um limite em 2014. "Expansão da demanda interna num ritmo de crescimento superior ao da oferta e taxa de câmbio em patamar desvalorizado dificultando a cobertura de excesso de demanda local por importações, e pressão de commodities vão levar a Selic a subir no começo de 2014". Mesmo os profissionais que admitem pressões inflacionárias no horizonte dizem que o BC vai usar outros instrumentos antes de sacar a alta da Selic. "O BC tem revelado preferência por outros instrumentos de atuação, além de juros", afirma Megale, que projeta Selic voltando a subir no segundo semestre de 2013 até chegar a 8,5% em dezembro.
O mercado abre a semana com uma teste no horizonte: o Brasil terá pela primeira vez uma taxa básica de juros inalterada por oito reuniões consecutivas do Comitê de Política Monetária (Copom)? Afinal, embora o Boletim Focus do Banco Central aponte que a Selic fechará o próximo ano em 8%, acima da taxa atual de 7,25%, há economistas que acreditam na manutenção.
Mas desde que o Copom passou a ser usado pelo Banco Central para definir a taxa básica de juros, em junho de 1996, a maior sequência foi de sete encontros sucessivos sem alteração - entre abril e novembro de 1997, quando a Selic ainda era mensal (1,78% ao mês).
No ciclo de afrouxamento que parece ter se encerrado na semana passada, a taxa foi alterada nos últimos 15 encontros do Copom. E o país já atravessou 18 reuniões consecutivas em que a Selic foi trocada sempre, entre agosto de 2005 e setembro de 2007. Por que agora seria diferente?
Para o economista do HSBC Brasil, Jancsó Constantin, há um desejo de política econômica com a frustração de crescimento abaixo do esperado. Para ele, o juro real neutro - que permite à economia crescer sem gerar pressão inflacionária - caiu no Brasil. "Eu não tenho dúvida que o juro de equilíbrio baixou".
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, diz que essa taxa caiu de 10%, uma década atrás, para uma faixa entre 4,5% e 5,5% atualmente. Acima, portanto, da taxa real atual, na casa de 2%, que o BC vem tolerando. "A taxa de juros real, apesar de abaixo da taxa neutra [do país] é compatível com o fato de a taxa de juros mundial também estar abaixo da neutra", avalia Oliveira.
O ex-economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Roberto Troster, sócio da consultoria que leva seu nome, diz que quanto maior a meta de inflação, maior a taxa neutra de juro. "Depende ainda de condições institucionais, como indexação e prazos de ativos que podem ser alteradas", diz Troster, para quem a Selic sobe ano que vem para 9% quando as pressões inflacionárias levarem os índices de preços para acima dos 6%.
Mas além de um cenário macroeconômico que permite juros reais abaixo da taxa neutra no mundo, outro fator que pode permitir uma Selic congelada é a postura da própria autoridade monetária. Há entre economistas a percepção de que o BC do presidente Alexandre Tombini é diferente dos anteriores.
Para o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, a autoridade monetária é mais sensível a variáveis como atividade e emprego. O economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, concorda: "em algum momento o estatuto do BC será alterado para incorporar formalmente outras obrigações".
Profissionais de mercado são quase unânimes em dizer que o BC segue guiado primordialmente pela inflação. O que muda é o prazo com o qual trabalha para conduzir a política monetária. "Isso ocorre quando o BC admite que flutuações de curto prazo provoquem uma convergência não linear da inflação para o centro da meta", diz Caio Megale, economista do Itaú Unibanco.
Combat, da Concórdia, acredita que o horizonte mais largo usado pelo Banco Central terá um limite em 2014. "Expansão da demanda interna num ritmo de crescimento superior ao da oferta e taxa de câmbio em patamar desvalorizado dificultando a cobertura de excesso de demanda local por importações, e pressão de commodities vão levar a Selic a subir no começo de 2014".
Mesmo os profissionais que admitem pressões inflacionárias no horizonte dizem que o BC vai usar outros instrumentos antes de sacar a alta da Selic. "O BC tem revelado preferência por outros instrumentos de atuação, além de juros", afirma Megale, que projeta Selic voltando a subir no segundo semestre de 2013 até chegar a 8,5% em dezembro.
FONTE: Valor Econômico