O número de cartões de crédito emitidos no Brasil dobrou nos últimos cinco anos. Existem hoje quase 180 milhões deles em circulação, praticamente um para cada habitante. No ano passado, as transações feitas com eles movimentaram 426 bilhões de reais. As vantagens dos cartões são muitas. Além de o seu uso ser muito mais seguro do que carregar altas somas em dinheiro ou talões de cheques, eles restringem a sonegação. Para os lojistas, a venda com o chamado dinheiro de plástico elimina o risco da inadimplência. No Brasil. porém, os juros elevados do crediário deram aos cartões uma particularidade: a possibilidade de parcelar em diversas vezes a compra de um bem, em alguns casos em até dezoito vezes. sem juros. Essa foi a maneira encontrada pelos bancos e pelas operadoras de cartão para conquistar um espaço antes ocupado pelos cheques pré-datados. Dividir a aquisição de um aparelho eletrônico ou de materiais de construção em diversas vezes no cartão é uma vantagem para os consumidores (que evitam os juros do crediário) e para as lojas (que não ficam expostas a eventuais calotes). Metade do volume gasto atualmente com os cartões de crédito é de compras parceladas. Quem cobre as perdas. no caso da inadimplência dos consumidores, são os bancos emissores do cartões. Essa é a razão principal. segundo as instituições financeiras, de outra particularidade brasileira: os juros elevadíssimos do crédito rotativo. Segundo dados do Banco Central, aproximadamente 10% do valor total das faturas não é pago no prazo e, por isso, cai no rotativo. Dessas dívidas, 28% não são quitadas em noventa dias. A inadimplência elevada, segundo os bancos, empurra as taxas de juros para o alto. O financiamento dos cartões é o dinheiro mais caro do mercado. Um brasileiro chega a pagar em juros, num único mês, o que americanos e europeus desembolsam em um ano. Tem-se aí um exemplo de como as distorções existentes na economia brasileira acabam por criar novas distorções. Os bancos só podem oferecer a vantagem do parcelamento sem juros, um recurso para driblar o custo elevado do crediário. cobrando taxas pesadíssimas dos inadimplentes. Afirma Fernando Teles, diretor de cartões do Itaú Unibanco: "Se não houvesse o parcelamento, a taxa média efetiva de juros de todas as vendas seria de 2.5% ao ano". Em outras palavras, os juros do rotativo servem não só para cobrir o alto índice de insolvência (28%. contra 3% nos EUA), mas também para tornar possível o parcelamento sem acréscimo. Formou-se, no entanto. um ciclo vicioso, em que os juros são altos por causa da inadimplência elevada, mas os juros altos dificultam o pagamento das dívidas atrasadas e mantêm a inadimplência elevada. A questão entrou na lista de prioridades do governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou os juros de "escorchantes". Sua equipe, em conjunto com técnicos do Banco Central, está discutindo com executivos do sistema financeiro para encontrar uma maneira de reduzir as taxas e, assim, estimular o aumento do consumo. Mas, como em outras distorções na economia, não haverá saída simples. Recentemente, o BC elevou o pagamento mínimo da fatura de 10% para 15%. O governo avaliou a possibilidade de aumentar esse porcentual para 20%, mas, por ora, a medida está descartada. Seu efeito, no curto prazo, seria dificultar ainda mais o pagamento dos débitos. Outra opção seria limitar o número das parcelas sem juros. Nesse caso, poderia haver duas consequências adversas: a queda nas vendas do comércio e o ressurgimento dos pré-datados. "Qualquer transição terá de ser feita com extrema cautela". afirma o presidente de um dos maiores bancos do país. Reforça o presidente de uma das principais operadoras de cartão: "Extinguir o parcelamento. agora, seria um retrocesso. Levará anos para o país se livrar de mais essa distorção". Enquanto isso, o governo tenta usar os bancos públicos para forçar a queda nos juros. A Caixa e o BANCO DO BRASIL, assim como haviam feito com o cheque especial. reduziram as taxas de seus cartões para perto de 5%. O risco, nesse caso, é de eventuais perdas operacionais desses bancos serem cobertas pelo Tesouro Nacional, com o dinheiro dos contribuintes brasileiros.
O número de cartões de crédito emitidos no Brasil dobrou nos últimos cinco anos. Existem hoje quase 180 milhões deles em circulação, praticamente um para cada habitante. No ano passado, as transações feitas com eles movimentaram 426 bilhões de reais. As vantagens dos cartões são muitas. Além de o seu uso ser muito mais seguro do que carregar altas somas em dinheiro ou talões de cheques, eles restringem a sonegação. Para os lojistas, a venda com o chamado dinheiro de plástico elimina o risco da inadimplência. No Brasil. porém, os juros elevados do crediário deram aos cartões uma particularidade: a possibilidade de parcelar em diversas vezes a compra de um bem, em
alguns casos em até dezoito vezes. sem juros. Essa foi a maneira encontrada pelos bancos e pelas operadoras de cartão para conquistar um espaço antes ocupado pelos cheques pré-datados.
Dividir a aquisição de um aparelho eletrônico ou de materiais de construção em diversas vezes no cartão é uma vantagem para os consumidores (que evitam os juros do crediário) e para as lojas (que não ficam expostas a eventuais calotes). Metade do volume gasto atualmente com os cartões de crédito é de compras parceladas. Quem cobre as perdas. no caso da inadimplência dos consumidores, são os bancos emissores do cartões. Essa é a razão principal. segundo as instituições financeiras, de outra particularidade brasileira: os juros elevadíssimos do crédito rotativo. Segundo dados do Banco Central, aproximadamente 10% do valor total das faturas não é pago no prazo e, por isso, cai no rotativo. Dessas dívidas, 28% não são quitadas em noventa dias. A inadimplência elevada, segundo os bancos, empurra as taxas de juros para o alto. O financiamento dos cartões é o dinheiro mais caro do mercado. Um brasileiro chega a pagar em juros, num único mês, o que americanos e europeus desembolsam em um ano. Tem-se aí um exemplo de como as distorções existentes na economia brasileira acabam por criar novas distorções. Os bancos só podem oferecer a vantagem do parcelamento sem juros, um recurso para driblar o custo elevado do crediário. cobrando taxas pesadíssimas dos inadimplentes. Afirma Fernando Teles, diretor de cartões do Itaú Unibanco: "Se não houvesse o parcelamento, a taxa média efetiva de juros de todas as vendas seria de 2.5% ao ano". Em outras palavras, os juros do rotativo servem não só para cobrir o alto índice de insolvência (28%. contra 3% nos EUA), mas também para tornar possível o parcelamento sem acréscimo.
Formou-se, no entanto. um ciclo vicioso, em que os juros são altos por causa da inadimplência elevada, mas os juros altos dificultam o pagamento das dívidas atrasadas e mantêm a inadimplência elevada. A questão entrou na lista de prioridades do governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou os juros de "escorchantes". Sua equipe, em conjunto com técnicos do Banco Central, está discutindo com executivos do sistema financeiro para encontrar uma maneira de reduzir as taxas e, assim, estimular o aumento do consumo. Mas, como em outras distorções na economia, não haverá saída simples. Recentemente, o BC elevou o pagamento mínimo da fatura de 10% para 15%. O governo avaliou a possibilidade de aumentar esse porcentual para 20%, mas, por ora, a medida está descartada. Seu efeito, no curto prazo, seria dificultar ainda mais o pagamento dos débitos. Outra opção seria limitar o número das parcelas sem juros. Nesse caso, poderia haver duas consequências adversas: a queda nas vendas do comércio e o ressurgimento dos pré-datados.
"Qualquer transição terá de ser feita com extrema cautela". afirma o presidente de um dos maiores bancos do país. Reforça o presidente de uma das principais operadoras de cartão: "Extinguir o parcelamento. agora, seria um retrocesso. Levará anos para o país se livrar de mais essa distorção".
Enquanto isso, o governo tenta usar os bancos públicos para forçar a queda nos juros. A Caixa e o BANCO DO BRASIL, assim como haviam feito com o cheque especial. reduziram as taxas de seus cartões para perto de 5%. O risco, nesse caso, é de eventuais perdas operacionais desses bancos serem cobertas pelo Tesouro Nacional, com o dinheiro dos contribuintes brasileiros.
FONTE: Veja