SÃO PAULO e BRASÍLIA Pressionados pelo governo, os bancos privados começam a reduzir as taxas de juros dos cartões de crédito. O Bradesco cortou ontem à metade - de 14,9% para 6,9% ao mês - a taxa máxima por atraso no pagamento da fatura dos seus plásticos. A alteração, porém, só entra em vigor em 1º de novembro. Apesar da redução, a taxa anualizada ainda chega a 122,71% - ou seja, bem acima da média internacional. Diante do movimento do concorrente, HSBC e Santander informaram que estudam a possibilidade de fazer cortes, mas não deram detalhes sobre prazos. Os primeiros bancos a reduzirem as taxas dos cartões foram os públicos Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica, no fim de agosto e início de setembro. No dia 6, em pronunciamento na TV pelo Dia da Independência, a presidente Dilma Rousseff cobrou dos bancos que praticassem juros menores. Entre as instituições privadas, o Itaú Unibanco já havia ensaiado um movimento nesse sentido. Ainda em agosto, o banco lançou um novo cartão com juro fixo de 5,99% ao mês (o equivalente a 100,99% em 12 meses) e mudanças na forma de cobrar pelo atraso no pagamento. Quando o cliente entra no rotativo, aquela taxa retroage para o dia da compra, repetindo o modelo de cobrança de empresas nos EUA. Mas, no caso do Bradesco, a redução é ampla e contempla, de maneira uniforme, todos os cartões de todas as bandeiras (Visa, American Express, ELO e Mastercard). O banco também diminuiu os juros para parcelamento da fatura em atraso, de 8,9% ao mês para 4,9% mensais. O diretor-executivo do Bradesco, Marcelo Noronha, disse que os bancos estão "colocando o cartão de crédito em xeque" com as taxas praticadas atualmente. - A decisão do banco é sempre tomada olhando para a sociedade. Temos uma pressão dos clientes. Mas há também a pressão dos órgãos de defesa do consumidor e do governo. O governo representa a sociedade. Viramos a página do juro de dois dígitos - disse Noronha, durante teleconferência com jornalistas. A Fundação Procon e a Associação Proteste batem na tecla de que os juros no Brasil são extorsivos. A Proteste, por exemplo, realiza desde 2002 uma pesquisa trimestral para comparar os percentuais de juro cobrado em cada cartão. Segundo Maria Inês Dolci, diretora da associação, os resultados das pesquisas sempre foram enviados ao governo, sem qualquer resposta. Desta vez, o Planalto procurou a entidade para dizer que tomaria uma posição. - O governo nos informou que reduzir o juro do cartão de crédito seria a próxima bandeira deles, depois da redução dos juros do empréstimo - conta Maria Inês. Em seu pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, em comemoração ao dia 7 de setembro, a presidente Dilma Rousseff demonstrou especial preocupação com o assunto. "Estamos conseguindo, por exemplo, uma marcha inédita de redução constante e vigorosa nos juros (...). Isso me alegra, mas confesso que ainda não estou satisfeita, porque os bancos, as financeiras e, de forma muito especial, os cartões de crédito podem reduzir ainda mais as taxas cobradas ao consumidor final", afirmou a presidente na ocasião. bb E CAIXA CORTARAM TAXAS EM ATÉ 79% Rumores de mercado vêm apontando que os bancos queriam do governo, como contrapartida para a redução dos juros, o direito de cobrar taxas no parcelamento das compras no cartão concedido pelo varejo - prática comum apenas no mercado brasileiro, e que aqui tomou o lugar do antigo cheque pré-datado. Nessa condição, o risco de inadimplência é assumido pelo banco que emite o cartão. Durante a teleconferência com jornalistas, Noronha negou essa possibilidade. - Não temos nenhuma contrapartida. Vamos lucrar com ganho de escala e com o maior número de transações no cartão - explicou. A discussão de cobrar o parcelamento de compras é antigo, afirmou Renan Ferraciolli, diretor do Procon-SP. Ele ressaltou que é preciso haver muito debate para definir uma mudança nesse sentido. - Tanto o consumidor quanto o comerciante dependem desse parcelamento. Esse é o modelo de consumo que temos e não pode ser alterado de uma hora para outra - afirmou. Os bancos públicos foram os primeiros a cortar os juros do cartão de crédito. No fim de agosto, o BB anunciou uma redução da taxa no rotativo do cartão Ourocard de 58%. Com isso, a taxa máxima caiu de 13,7% ao mês para 5,7%. Para quem é cliente e recebe salário pela instituição, o corte chegou a 79%, com uma tarifa mínima de 2,88% ao mês dentro do programa "Bompratodos". O BB também diminuiu os juros do parcelamento da fatura em cerca de 30%. Neste caso, o custo para o consumidor caiu para um percentual entre 1,94% e 3,94% ao mês. A Caixa Econômica Federal, no ínicio deste mês, reduziu a taxa mensal cobrada no rotativo do cartão Nacional em 40,34%. O percentual saiu de 9,47% ao mês para 5,65%. Já a taxa de parcelamento da fatura do cartão Nacional caiu 19,25%, de 4,83% ao mês para 3,90%. No cartão Azul, que foi lançado em abril no programa "Caixa Melhor Crédito", a queda chegou a 33,33%, de 2,85% ao mês para 1,90% para quem recebe salário pela instituição. De acordo com a Caixa, as novas taxas do cartão vão vigorar até dezembro deste ano. Segundo as assessorias de imprensa dos dois bancos, não há, por enquanto, previsão de novos cortes nos juros de seus cartões.
SÃO PAULO e BRASÍLIA Pressionados pelo governo, os bancos privados começam a reduzir as taxas de juros dos cartões de crédito. O Bradesco cortou ontem à metade - de 14,9% para 6,9% ao mês - a taxa máxima por atraso no pagamento da fatura dos seus plásticos. A alteração, porém, só entra em vigor em 1º de novembro. Apesar da redução, a taxa anualizada ainda chega a 122,71% - ou seja, bem acima da média internacional. Diante do movimento do concorrente, HSBC e Santander informaram que estudam a possibilidade de fazer cortes, mas não deram detalhes sobre prazos.
Os primeiros bancos a reduzirem as taxas dos cartões foram os públicos Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica, no fim de agosto e início de setembro. No dia 6, em pronunciamento na TV pelo Dia da Independência, a presidente Dilma Rousseff cobrou dos bancos que praticassem juros menores.
Entre as instituições privadas, o Itaú Unibanco já havia ensaiado um movimento nesse sentido. Ainda em agosto, o banco lançou um novo cartão com juro fixo de 5,99% ao mês (o equivalente a 100,99% em 12 meses) e mudanças na forma de cobrar pelo atraso no pagamento. Quando o cliente entra no rotativo, aquela taxa retroage para o dia da compra, repetindo o modelo de cobrança de empresas nos EUA.
Mas, no caso do Bradesco, a redução é ampla e contempla, de maneira uniforme, todos os cartões de todas as bandeiras (Visa, American Express, ELO e Mastercard). O banco também diminuiu os juros para parcelamento da fatura em atraso, de 8,9% ao mês para 4,9% mensais. O diretor-executivo do Bradesco, Marcelo Noronha, disse que os bancos estão "colocando o cartão de crédito em xeque" com as taxas praticadas atualmente.
- A decisão do banco é sempre tomada olhando para a sociedade. Temos uma pressão dos clientes. Mas há também a pressão dos órgãos de defesa do consumidor e do governo. O governo representa a sociedade. Viramos a página do juro de dois dígitos - disse Noronha, durante teleconferência com jornalistas.
A Fundação Procon e a Associação Proteste batem na tecla de que os juros no Brasil são extorsivos. A Proteste, por exemplo, realiza desde 2002 uma pesquisa trimestral para comparar os percentuais de juro cobrado em cada cartão. Segundo Maria Inês Dolci, diretora da associação, os resultados das pesquisas sempre foram enviados ao governo, sem qualquer resposta. Desta vez, o Planalto procurou a entidade para dizer que tomaria uma posição.
- O governo nos informou que reduzir o juro do cartão de crédito seria a próxima bandeira deles, depois da redução dos juros do empréstimo - conta Maria Inês.
Em seu pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, em comemoração ao dia 7 de setembro, a presidente Dilma Rousseff demonstrou especial preocupação com o assunto. "Estamos conseguindo, por exemplo, uma marcha inédita de redução constante e vigorosa nos juros (...). Isso me alegra, mas confesso que ainda não estou satisfeita, porque os bancos, as financeiras e, de forma muito especial, os cartões de crédito podem reduzir ainda mais as taxas cobradas ao consumidor final", afirmou a presidente na ocasião.
bb E CAIXA CORTARAM TAXAS EM ATÉ 79%
Rumores de mercado vêm apontando que os bancos queriam do governo, como contrapartida para a redução dos juros, o direito de cobrar taxas no parcelamento das compras no cartão concedido pelo varejo - prática comum apenas no mercado brasileiro, e que aqui tomou o lugar do antigo cheque pré-datado. Nessa condição, o risco de inadimplência é assumido pelo banco que emite o cartão. Durante a teleconferência com jornalistas, Noronha negou essa possibilidade.
- Não temos nenhuma contrapartida. Vamos lucrar com ganho de escala e com o maior número de transações no cartão - explicou.
A discussão de cobrar o parcelamento de compras é antigo, afirmou Renan Ferraciolli, diretor do Procon-SP. Ele ressaltou que é preciso haver muito debate para definir uma mudança nesse sentido.
- Tanto o consumidor quanto o comerciante dependem desse parcelamento. Esse é o modelo de consumo que temos e não pode ser alterado de uma hora para outra - afirmou.
Os bancos públicos foram os primeiros a cortar os juros do cartão de crédito. No fim de agosto, o BB anunciou uma redução da taxa no rotativo do cartão Ourocard de 58%. Com isso, a taxa máxima caiu de 13,7% ao mês para 5,7%. Para quem é cliente e recebe salário pela instituição, o corte chegou a 79%, com uma tarifa mínima de 2,88% ao mês dentro do programa "Bompratodos". O BB também diminuiu os juros do parcelamento da fatura em cerca de 30%. Neste caso, o custo para o consumidor caiu para um percentual entre 1,94% e 3,94% ao mês.
A Caixa Econômica Federal, no ínicio deste mês, reduziu a taxa mensal cobrada no rotativo do cartão Nacional em 40,34%. O percentual saiu de 9,47% ao mês para 5,65%.
Já a taxa de parcelamento da fatura do cartão Nacional caiu 19,25%, de 4,83% ao mês para 3,90%. No cartão Azul, que foi lançado em abril no programa "Caixa Melhor Crédito", a queda chegou a 33,33%, de 2,85% ao mês para 1,90% para quem recebe salário pela instituição.
De acordo com a Caixa, as novas taxas do cartão vão vigorar até dezembro deste ano. Segundo as assessorias de imprensa dos dois bancos, não há, por enquanto, previsão de novos cortes nos juros de seus cartões.
FONTE: O Globo