O momento do Brasil nos mercados é como o de um namoro que vive uma fase ruim, mas que não necessariamente deve culminar em uma separação. Assim poderia ser descrita a percepção atual de Mauro Leos, analista de risco da América Latina da agência Moody"s, e um dos principais responsáveis pela determinação da nota soberana do Brasil. "Em 2010, todos estavam apaixonados pelo Brasil. Agora, a situação é completamente diferente. Nós achamos que o mercado foi de um extremo ao outro", afirma Leos. Na visão dele, aproveitar o momento para fazer uma boa "discussão da relação" pode ser positivo no longo prazo. "As pessoas ficam felizes com um crescimento forte e rápido. Mas muitas vezes ele pode gerar alguns desequilíbrios", complementa o analista. A agência tem até o fim do ano para decidir se a atual classificação "Baa2" - grau de investimento, e a mesma de Itália, Bulgária e Cazaquistão -, anunciada em junho de 2011 com perspectiva positiva, volta para o patamar "estável" ou se avança um degrau, para "Baa1", e se iguala a de países como México, Rússia e Tailândia. Todos os anos, o analista vem ao país para conversar com diferentes representantes do setor privado, analistas econômicos e membros do governo, com encontros em São Paulo e Brasília - "sem o Rio na agenda este ano, por mero acaso." No primeiro dia da visita de uma semana, ele não deu dicas sobre qual o rumo da nota brasileira para a Moody"s, mas deixou claro que o país deve encarar como positivo o atual momento de "desempolgação." Leos considera que alguns problemas estruturais já vistos em 2010 e 2011 continuam a frear o avanço da economia nacional, como a baixa produtividade da indústria nacional, o baixo índice de investimento e a poupança interna ainda pequena. Mas ressalta que, desde a última mudança de classificação, um outro ponto estrutural importante para o crescimento sustentado do país foi encarado domesticamente: o alto nível da taxa básica de juros. "Há alguns anos, nem mesmo no ano passado, ninguém imaginava o corte [da taxa básica] da forma como aconteceu. Agora, o mercado já trabalha com a taxa [Selic] por volta de 7%", diz, ao comentar a pesquisa Focus, feita pelo Banco Central. Na divulgação de ontem, o Focus mostrava previsão para a Selic em 7,25% no fim de 2012 e em 8,5% em dezembro do ano que vem. Daqui por diante, explica o analista mexicano, o foco da agência estará em entender com quais medidas o país pretende enfrentar um cenário de desaquecimento da economia que ocorrerá em concomitância com investimentos estrangeiros menos abundantes. "O país já é grau de investimento, o que significa que é resiliente a choques. Há custos em crescer, e queremos saber como o governo encarará tais custos", observou, ao acrescentar que o governo Dilma parece estar "mais consciente de tais custos do que o anterior", que terminou em meio à euforia de um crescimento de 7,5% do PIB em 2010. "[A mudança de percepção do governo] é uma grande diferença", acrescenta. Como aspectos positivos que continuam a ser reconhecidos estão as reservas internacionais abundantes e um sistema financeiro sólido e bem fiscalizado - apesar dos escândalos recentes de fraudes em bancos médios, como no Cruzeiro do Sul. Entretanto, ele reforça o discurso elaborado em junho do ano passado, quando o país teve sua nota soberana elevada: é preciso economizar, e elevar a poupança interna. "Você precisa economizar mais quando a economia cresce, e isso não foi visto no Brasil. Daqui por diante, o país precisa gastar menos, para então poder se valer dessa vantagem em momentos mais difíceis." Leos conta que um aspecto característico da avaliação do Brasil é que, "sempre que olhamos para o país, o governo está fazendo alguma coisa. Seja em época de crescimento ou não, está sempre no jogo. Em outros países nem sempre é assim". Para a Moody"s, o Brasil não enfrenta uma bolha de crédito nos moldes observados em algumas economias europeias - especialmente na Espanha -, e ainda há espaço para o crescimento do crédito nos próximos anos. Segundo Leos, a taxa de crédito em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB), na casa dos 50%, ainda é baixa no país, e deve chegar próxima de 70% em um período entre três e cinco anos. Na sua visão, a rodada de cortes dos spreads (diferença entre o custo de captação dos bancos e os juros cobrados dos clientes nos empréstimos) percebida nos bancos públicos e também nos privados não prejudicará a solidez do sistema financeiro. "Dada a má qualidade de parte dos empréstimos, isso pode até afetar o resultado dos bancos, de certa forma", disse o analista. "Mas as instituições têm capital e liquidez para passar por muita coisa. Não há motivo para preocupação", disse Leos, que estará acompanhado durante as visitas da semana por Ceres Lisboa, a responsável pela análise do setor de bancos da agência.
O momento do Brasil nos mercados é como o de um namoro que vive uma fase ruim, mas que não necessariamente deve culminar em uma separação. Assim poderia ser descrita a percepção atual de Mauro Leos, analista de risco da América Latina da agência Moody"s, e um dos principais responsáveis pela determinação da nota soberana do Brasil.
"Em 2010, todos estavam apaixonados pelo Brasil. Agora, a situação é completamente diferente. Nós achamos que o mercado foi de um extremo ao outro", afirma Leos. Na visão dele, aproveitar o momento para fazer uma boa "discussão da relação" pode ser positivo no longo prazo. "As pessoas ficam felizes com um crescimento forte e rápido. Mas muitas vezes ele pode gerar alguns desequilíbrios", complementa o analista.
A agência tem até o fim do ano para decidir se a atual classificação "Baa2" - grau de investimento, e a mesma de Itália, Bulgária e Cazaquistão -, anunciada em junho de 2011 com perspectiva positiva, volta para o patamar "estável" ou se avança um degrau, para "Baa1", e se iguala a de países como México, Rússia e Tailândia.
Todos os anos, o analista vem ao país para conversar com diferentes representantes do setor privado, analistas econômicos e membros do governo, com encontros em São Paulo e Brasília - "sem o Rio na agenda este ano, por mero acaso." No primeiro dia da visita de uma semana, ele não deu dicas sobre qual o rumo da nota brasileira para a Moody"s, mas deixou claro que o país deve encarar como positivo o atual momento de "desempolgação."
Leos considera que alguns problemas estruturais já vistos em 2010 e 2011 continuam a frear o avanço da economia nacional, como a baixa produtividade da indústria nacional, o baixo índice de investimento e a poupança interna ainda pequena. Mas ressalta que, desde a última mudança de classificação, um outro ponto estrutural importante para o crescimento sustentado do país foi encarado domesticamente: o alto nível da taxa básica de juros.
"Há alguns anos, nem mesmo no ano passado, ninguém imaginava o corte [da taxa básica] da forma como aconteceu. Agora, o mercado já trabalha com a taxa [Selic] por volta de 7%", diz, ao comentar a pesquisa Focus, feita pelo Banco Central. Na divulgação de ontem, o Focus mostrava previsão para a Selic em 7,25% no fim de 2012 e em 8,5% em dezembro do ano que vem.
Daqui por diante, explica o analista mexicano, o foco da agência estará em entender com quais medidas o país pretende enfrentar um cenário de desaquecimento da economia que ocorrerá em concomitância com investimentos estrangeiros menos abundantes.
"O país já é grau de investimento, o que significa que é resiliente a choques. Há custos em crescer, e queremos saber como o governo encarará tais custos", observou, ao acrescentar que o governo Dilma parece estar "mais consciente de tais custos do que o anterior", que terminou em meio à euforia de um crescimento de 7,5% do PIB em 2010. "[A mudança de percepção do governo] é uma grande diferença", acrescenta.
Como aspectos positivos que continuam a ser reconhecidos estão as reservas internacionais abundantes e um sistema financeiro sólido e bem fiscalizado - apesar dos escândalos recentes de fraudes em bancos médios, como no Cruzeiro do Sul.
Entretanto, ele reforça o discurso elaborado em junho do ano passado, quando o país teve sua nota soberana elevada: é preciso economizar, e elevar a poupança interna. "Você precisa economizar mais quando a economia cresce, e isso não foi visto no Brasil. Daqui por diante, o país precisa gastar menos, para então poder se valer dessa vantagem em momentos mais difíceis."
Leos conta que um aspecto característico da avaliação do Brasil é que, "sempre que olhamos para o país, o governo está fazendo alguma coisa. Seja em época de crescimento ou não, está sempre no jogo. Em outros países nem sempre é assim".
Para a Moody"s, o Brasil não enfrenta uma bolha de crédito nos moldes observados em algumas economias europeias - especialmente na Espanha -, e ainda há espaço para o crescimento do crédito nos próximos anos. Segundo Leos, a taxa de crédito em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB), na casa dos 50%, ainda é baixa no país, e deve chegar próxima de 70% em um período entre três e cinco anos.
Na sua visão, a rodada de cortes dos spreads (diferença entre o custo de captação dos bancos e os juros cobrados dos clientes nos empréstimos) percebida nos bancos públicos e também nos privados não prejudicará a solidez do sistema financeiro.
"Dada a má qualidade de parte dos empréstimos, isso pode até afetar o resultado dos bancos, de certa forma", disse o analista. "Mas as instituições têm capital e liquidez para passar por muita coisa. Não há motivo para preocupação", disse Leos, que estará acompanhado durante as visitas da semana por Ceres Lisboa, a responsável pela análise do setor de bancos da agência.
FONTE: Valor Econômico