O real terminou julho com uma queda de 1,95% em relação ao dólar, voltando a ficar na contramão de seus pares internacionais, como o dólar australiano, grande destaque do mês nos mercados globais de câmbio. E, segundo profissionais da área, ainda que a divisa doméstica mostre alguma recuperação até o fim do ano, esse movimento não deve ser consistente, diante da avaliação de que o Banco Central defenderá o piso de R$ 2 sugerido pela própria autoridade monetária no início deste mês. Além disso, especialistas argumentam que a desaceleração maior que a esperada da economia doméstica, a queda da taxa básica de juros e a expectativa de contínua deterioração na balança comercial também jogam contra a moeda brasileira. "Esse quadro é incompatível com uma perspectiva de recuperação firme do real", diz o economista-chefe do Crédit Agricole Brasil, Vladimir Caramaschi. A fraqueza do real fica ainda mais evidente quando se olha para o desempenho de divisas de perfil semelhante à brasileira. O dólar australiano, por exemplo, sobe 2,60% ante a moeda americana no acumulado de julho. Essa performance decorre da resiliência da economia da Austrália, que deve levar o Banco Central do país a interromper neste mês o atual ciclo de queda do juro, mantendo a taxa básica em 3,5% ao ano. No começo da semana, o "Aussie", como a moeda é conhecida, bateu a máxima em quatro meses em relação ao dólar, pouco acima de US$ 1,05, e voltou a cravar novo recorde de alta ante o euro. O real também fica atrás no mês quando comparado ao dólar canadense (+1,35%), ao dólar neozelandês (+0,91%) e ao peso mexicano (+0,24%). Mas a moeda brasileira ainda está à frente do euro, que amargou perdas de 2,87%. Na comparação anual, a divisa brasileira segue como a de pior desempenho ante o dólar quando comparado às principais divisas, com um tombo de 8,83% (Ptax), atrás até mesmo do euro, que registra baixa de 5,07%. Na ponta de cima, o peso mexicano sobe 4,55%, e os dólares da Nova Zelândia e da Austrália ganham 4,05% e 2,89%, respectivamente. "O que se observa é que a moeda brasileira sofreu mais por conta da mudança de visão sobre o Brasil, em parte devido às intervenções do governo no câmbio", disse o economista-chefe do HSBC para a América Latina, André Loes. O governo tem adotado desde o ano passado uma série de medidas para conter a desvalorização do dólar, buscando aumentar a competitividade da indústria nacional. Entre elas, a que mais afetou o mercado de câmbio foi a adoção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre derivativos cambiais, que, na visão de especialistas, tem provocado disfunções nas operações cambiais por penalizar apenas um dos lados, os vendedores de dólar. O exterior continuará tendo peso importante para a moeda brasileira, na avaliação de Loes. Segundo ele, há dois cenários possíveis para o real. O primeiro contempla uma depreciação gradual da taxa de câmbio, que seria ditada por sinais de desaceleração contínua na economia da China, maior parceiro comercial do Brasil. O segundo considera uma rápida e intensa desvalorização do real, provocada por uma ruptura na zona do euro. Nesse caso, a cotação do dólar poderia superar R$ 2,20, recuando depois entre R$ 2,00 e R$ 2,10. Por ora, a expectativa é que o dólar se mantenha nessa estreita banda de oscilação nos próximos meses. "E, se for para ameaçar uma das pontas, acredito que há mais riscos de o teto de R$ 2,10 ser superado, dadas as incertezas no exterior e a postura do governo no câmbio", afirmou Caramaschi. Já o economista para a América Latina do Standard Chartered, Italo Lombardi, prevê que o dólar engate um movimento contrário e teste os níveis de R$ 1,95 e R$ 1,90. "Os fluxos de investimento direto continuam fortes e podem fazer o dólar descer a esses níveis, mas com o BC acompanhando de perto esse movimento", afirma.
O real terminou julho com uma queda de 1,95% em relação ao dólar, voltando a ficar na contramão de seus pares internacionais, como o dólar australiano, grande destaque do mês nos mercados globais de câmbio. E, segundo profissionais da área, ainda que a divisa doméstica mostre alguma recuperação até o fim do ano, esse movimento não deve ser consistente, diante da avaliação de que o Banco Central defenderá o piso de R$ 2 sugerido pela própria autoridade monetária no início deste mês.
Além disso, especialistas argumentam que a desaceleração maior que a esperada da economia doméstica, a queda da taxa básica de juros e a expectativa de contínua deterioração na balança comercial também jogam contra a moeda brasileira.
"Esse quadro é incompatível com uma perspectiva de recuperação firme do real", diz o economista-chefe do Crédit Agricole Brasil, Vladimir Caramaschi.
A fraqueza do real fica ainda mais evidente quando se olha para o desempenho de divisas de perfil semelhante à brasileira. O dólar australiano, por exemplo, sobe 2,60% ante a moeda americana no acumulado de julho. Essa performance decorre da resiliência da economia da Austrália, que deve levar o Banco Central do país a interromper neste mês o atual ciclo de queda do juro, mantendo a taxa básica em 3,5% ao ano.
No começo da semana, o "Aussie", como a moeda é conhecida, bateu a máxima em quatro meses em relação ao dólar, pouco acima de US$ 1,05, e voltou a cravar novo recorde de alta ante o euro.
O real também fica atrás no mês quando comparado ao dólar canadense (+1,35%), ao dólar neozelandês (+0,91%) e ao peso mexicano (+0,24%). Mas a moeda brasileira ainda está à frente do euro, que amargou perdas de 2,87%.
Na comparação anual, a divisa brasileira segue como a de pior desempenho ante o dólar quando comparado às principais divisas, com um tombo de 8,83% (Ptax), atrás até mesmo do euro, que registra baixa de 5,07%. Na ponta de cima, o peso mexicano sobe 4,55%, e os dólares da Nova Zelândia e da Austrália ganham 4,05% e 2,89%, respectivamente.
"O que se observa é que a moeda brasileira sofreu mais por conta da mudança de visão sobre o Brasil, em parte devido às intervenções do governo no câmbio", disse o economista-chefe do HSBC para a América Latina, André Loes.
O governo tem adotado desde o ano passado uma série de medidas para conter a desvalorização do dólar, buscando aumentar a competitividade da indústria nacional. Entre elas, a que mais afetou o mercado de câmbio foi a adoção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre derivativos cambiais, que, na visão de especialistas, tem provocado disfunções nas operações cambiais por penalizar apenas um dos lados, os vendedores de dólar.
O exterior continuará tendo peso importante para a moeda brasileira, na avaliação de Loes. Segundo ele, há dois cenários possíveis para o real. O primeiro contempla uma depreciação gradual da taxa de câmbio, que seria ditada por sinais de desaceleração contínua na economia da China, maior parceiro comercial do Brasil. O segundo considera uma rápida e intensa desvalorização do real, provocada por uma ruptura na zona do euro. Nesse caso, a cotação do dólar poderia superar R$ 2,20, recuando depois entre R$ 2,00 e R$ 2,10.
Por ora, a expectativa é que o dólar se mantenha nessa estreita banda de oscilação nos próximos meses. "E, se for para ameaçar uma das pontas, acredito que há mais riscos de o teto de R$ 2,10 ser superado, dadas as incertezas no exterior e a postura do governo no câmbio", afirmou Caramaschi.
Já o economista para a América Latina do Standard Chartered, Italo Lombardi, prevê que o dólar engate um movimento contrário e teste os níveis de R$ 1,95 e R$ 1,90. "Os fluxos de investimento direto continuam fortes e podem fazer o dólar descer a esses níveis, mas com o BC acompanhando de perto esse movimento", afirma.
FONTE: Valor Econômico