Alta dos alimentos leva o IPCA de novembro a 0,52%, índice acima do esperado. A um mês do fim do ano, o limite de 6,5% só será respeitado se os preços subirem apenas 0,5% em dezembro, uma hipótese improvável. Nem o ritmo mais moderado da economia livrou o brasileiro de pagar mais caro por itens básicos do orçamento doméstico em novembro.
Alta dos alimentos leva o IPCA de novembro a 0,52%, índice acima do esperado. A um mês do fim do ano, o limite de 6,5% só será respeitado se os preços subirem apenas 0,5% em dezembro, uma hipótese improvável
Nem o ritmo mais moderado da economia livrou o brasileiro de pagar mais caro por itens básicos do orçamento doméstico em novembro.
Puxada pela alta dos alimentos, a inflação do mês passado surpreendeu as expectativas do mercado e acelerou para 0,52%, valor 0,9 ponto percentual acima do registrado em outubro.
A apenas um mês de encerrar 2011, o resultado aumentou a chance de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estourar o teto da meta de 6,5%, estipulada pelo governo.
Para isso ocorrer, basta que a carestia em dezembro avance mais de 0,50%, o que, na visão da maior parte dos economistas, é o cenário mais provável.
As instituições consultadas semanalmente pelo Banco Central apostam que, em dezembro, o IPCA chegará, pelo menos, a 0,51%.
Se as projeções se confirmarem, o acumulado nos últimos 12 meses passará dos 6,64% em novembro para 6,54% em 2011. Como a meta, estrategicamente, não considera a segunda casa decimal depois da vírgula, teoricamente a missão do BC estará cumprida.
Entretanto, caso as estimativas mais pessimistas se concretizem e o IPCA registre 0,56% em dezembro, por exemplo, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, terá que explicar ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, os motivos do fracasso em controlar a inflação.
Carta aberta
Por lei, o chefe da autoridade monetária é obrigado a detalhar, em carta aberta à Fazenda, os motivos que levaram a carestia a sair dos trilhos.
A última vez em que a explicação foi necessária foi em 2004, quando o IPCA do ano anterior chegou a 9,30%, ante uma meta de 8,5%.
A economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos definiu a única solução sem a qual Tombini terá que se justificar: "Para fechar dentro da meta de 6,5%, o IPCA de dezembro tem que ser, no máximo, de 0,50%".
A inflação de novembro foi puxada pelo grupo de alimentos, que praticamente dobrou o ritmo de reajustes, passando de 0,56% para 1,08%, e representou 48% do IPCA, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Individualmente, o produto que mais pesou foi a carne, com alta de 2,63%.
Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, o fato de as pressões estarem localizadas nos alimentos torna o risco da inflação maior. "Como esse é um grupo sensível a turbulências, podemos considerar que o resultado de novembro pode ser revertido no mês seguinte ou não. Considerando a situação atual, vemos uma probabilidade maior de que o teto da meta seja rompido", afirmou.
Serviços
Para escapar do peso das compras no açougue, a dona de casa Maria Venâncio da Silva, 60 anos, passou a evitar a carne vermelha. "Nas últimas vezes que vim ao mercado, passei a comprar frango ou peixe justamente porque a carne bovina está muito cara", contou.
Entre os produtos não alimentícios, a inflação desacelerou de 0,39% para 0,35%. Apesar da redução, a contratação de empregados domésticos registrou o segundo maior impacto no IPCA, com reajuste de 1,36% em relação a outubro.
Outros itens, como manicure, cabeleireiro e costureira, também aceleraram, pressionando ainda mais o conjunto dos preços de serviços. O grupo registra alta de 8,46% nos últimos 12 meses e é uma perigo para a inflação dos próximos meses.
Otimista, o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, disse acreditar que a inflação encerrará o ano em torno dos 6,5%.
"Pode ficar um pouco acima, um pouco abaixo, mas não será uma grande preocupação. O IPCA deste ano está resolvido", ressaltou. Se para este ano não há mais o que fazer, o consumidor deve se preparar para 2012.
Uma série de gastos comuns ao início do ano deve apertar o orçamento. A partir de janeiro, a entressafra do álcool pesará sobre os combustíveis, além dos custos com matrículas e material escolar.
O reajuste do salário mínimo, que tem efeito em cascata sobre os serviços e a alimentação fora, também promete índices de inflação mais salgados.
FONTE: Correio Braziliense