Preparem o bolso

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Com a chegada do fim do ano, o brasileiro precisa preparar o bolso para uma extensa agenda de reajustes de preços que promete corroer o orçamento familiar. A despeito de a inflação no acumulado de 12 meses seguir em desaceleração, muitos solavancos devem incomodar até março do próximo ano. Alimentos, combustível e passagens aéreas serão alguns dos vilões do período.

A inflação não vai dar trégua. Daqui até março, vários itens ficarão mais caros, como alimentos, combustíveis e mensalidades escolares

Com a chegada do fim do ano, o brasileiro precisa preparar o bolso para uma extensa agenda de reajustes de preços que promete corroer o orçamento familiar. A despeito de a inflação no acumulado de 12 meses seguir em desaceleração, muitos solavancos devem incomodar até março do próximo ano. Alimentos, combustível e passagens aéreas serão alguns dos vilões do período.

As empresas aéreas até já mandaram o recado: quem não se programou vai pagar mais caro para viajar. Os próximos meses são de entressafra de cana-de-açúcar, que deve influenciar os valores nas bombas de abastecimento, e de baixa produção de carne bovina. O Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC–S), que começou a captar as elevações, registrou alta de 0,38% na segunda semana de novembro. No ano, ele acumula 4,97%.

O primeiro trimestre de 2012 não dará alívio. O reajuste de 14% no salário mínimo, por exemplo, vai elevar os custos, sobretudo de empregados domésticos, e permitir que empresas aumentem preços.

Somada a isso, a previsão de que as mensalidades escolares subam de 11% a 14% em fevereiro vai contribuir para gerar uma carestia média mensal de 0,70% até março, segundo cálculos de Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra. "É um número alto para o sistema de metas de inflação, mas é um arrefecimento comparado ao que registramos no início de 2010", ponderou.

Cautela

O indicador oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve seguir alto nas variações mensais até dezembro, mas diminuindo o ritmo no acumulado em 12 meses. De acordo com analistas, deve sair dos cerca de 6,97% atuais para algo próximo de 5% em maio do próximo ano — uma tendência que foi comemorada, ontem, pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

Durante a posse de analistas do órgão, ele afirmou que o tempo deu razão às previsões da autoridade monetária de que o cenário seria melhor no fim do ano. Integrantes do mercado, em contraponto, são mais cautelosos, e lembram que a política monetária está trabalhando em um cenário econômico bastante conturbado, principalmente com a crise europeia caminhando para o ápice em 2012.

Até julho, o preço das carnes não preocupava. Mas, em agosto, a situação se reverteu. Em três meses, o item subiu mais de 4% e deve continuar a escalada. "O preço dos alimentos, depois de algum tempo de recuo, voltou a pressionar.

A carne bovina é uma das que mais subiram porque parte do gado tem de ficar confinado nesse período", explicou Felipe Katsumata, economista da consultoria LCA. Contrafilé, filé-mignon e alcatra subiram, em média, 8,5% entre agosto e outubro.

Os serviços também pressionam bastante o bolso do brasileiro. Os considerados pessoais, como manicure, cabeleireiro e empregado doméstico, dispararam 8,57% até outubro — os de saúde, 7,54%. Entre os itens agrícolas, o tomate é um dos que mais pesam, subindo 10,38% no último mês. A batata foi ainda pior: encareceu 22,03%.

Promoções

A servidora pública Regina Pontes, 47 anos, está preocupada com a escalada de preços. Apenas na semana passada, ela gastou R$ 70 em frutas e verduras. "Faço compras com frequência e notei que hortaliças, legumes e frutas estão aumentando muito.

Tive de diminuir o consumo de alguns produtos, como banana e pêra, que estão muito caros", queixou-se. Regina contou que, para driblar a inflação, ela acompanha as promoções. "Fico de olho nos descontos. Na quarta-feira, por exemplo, algumas frutas são mais baratas, então, aproveito para comprá-las."

Segundo Katsumata, até setembro o IPC-S registrou uma desaceleração no preço das hortaliças, mas voltou a pressionar fortemente. A servidora Maria de Jesus Lima, 63 anos, é uma das muitas brasileiras que perceberam a alta.

Ela se diz insatisfeita com a evolução dos preços nas últimas semanas. "Sou dona de casa e sempre comparo os valores. Não só os alimentos me preocupam, mas a inflação como um todo", reclamou. O servidor Antônio Cardoso, 45, concorda. "O tomate está o olho da cara. Estou preocupado com o futuro. Meu salário não está mais suportando as despesas", desabafou. "Para mim, estamos caminhando para uma inflação exagerada."

Paulo Piquet, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), explicou que a aceleração dos preços era prevista. "Desde a semana passada, o grupo alimentação, principalmente in natura, tem puxado a inflação. Até o fim do mês, a nossa expectativa é que essa alta permaneça", esclareceu. Ainda assim, ele é otimista e espera que o ano termine com uma diminuição no ritmo de evolução. "A estimativa é que haja freio no fechamento do ano."

Resistência

Aumentaram as chances de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) convergir para o teto da meta perseguida pelo Banco Central. De acordo com o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), a inflação não deve romper o limite de tolerância de 6,5% neste ano.

A instituição considerou que o cenário atual é um pouco melhor do que o projetado em meados do ano, mas alertou que o número de 2011, mesmo que termine abaixo do teto da meta, ainda é elevado.

O objetivo central é que a carestia fique em 4,5% ao ano, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Este ano, o BC correu um risco considerável de errar para mais. "É uma inflação resistente, alta e preocupante", observou Silvia Matos, do Ibre.

 

FONTE: Correio Braziliense

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