O dólar nosso de cada dia

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Mesmo quem não consome importados começará a sentir o impacto da valorização da moeda norte-americana. Depois de três anos com a cotação baixa, o dólar alto vai pesar no bolso do brasileiro. Isso porque os produtos agropecuários, chamados commodities, e as tarifas públicas, além de serviços que dependem de insumos estrangeiros, como os médicos e os odontológicos, são influenciados pelo câmbio. Veja como fica o seu orçamento

Mesmo quem não consome importados começará a sentir o impacto da valorização da moeda norte-americana. Depois de três anos com a cotação baixa, o dólar alto vai pesar no bolso do brasileiro. Isso porque os produtos agropecuários, chamados commodities, e as tarifas públicas, além de serviços que dependem de insumos estrangeiros, como os médicos e os odontológicos, são influenciados pelo câmbio. Veja como fica o seu orçamento

Do café da manhã aos tratamentos de saúde, a moeda norte-americana determina o valor de itens presentes no cotidiano do brasileiro.

Nos últimos três anos, o brasileiro acostumou-se com o dólar baixo, na casa de R$ 1,60. Foi uma época de mais fartura: ele adquiriu produtos importados e nacionais produzidos com insumos estrangeiros por preços atrativos, viajou ao exterior gastando menos e também pôde comer melhor. Mas a cotação da moeda norte-americana iniciou uma escalada, bateu em R$ 1,96 em 22 de setembro e recuou. Embora o trabalhador não perceba, pois paga as contas em real, o dólar é um companheiro inseparável, independentemente de sua classe social, da mais baixa ao teto.

O que acontece com a moeda americana influi até no café com pão que os brasileiros tomam todos os dias e no cardápio tradicional do almoço e do jantar, com arroz, carne, farofa e sobremesa. É por isso que ninguém está a salvo da oscilação do câmbio.

Mesmo cultivados em terras brasileiras, produtos agropecuários, como açúcar, arroz, café, soja, milho, trigo, laranja e carne (bovina, suína e de frango), são a base das exportações do país e têm o preço definido no mercado internacional em dólar. São conhecidos como commodities (mercadorias, em inglês). Se a moeda norte-americana fica mais valorizada em relação ao real, os preços dos itens em estado bruto ou industrializados vendidos internamente também sobem em reais. Até as roupas ficam mais caras, porque o algoo também é cotado em dólar.

No mês passado, a cesta de commodities agropecuárias acompanhadas pelo Banco Central subiu 8,8% em reais, absorvendo parte da variação cambial no período, que chegou a 18%. Mais uma vez, as famílias pobres devem ser as maiores prejudicadas. "Entre as classes de renda mais baixa, os gastos majoritários são com alimentos básicos, que quase não têm substitutos. A opção que teríamos para o arroz, que é o macarrão, é pior, pois também fica mais caro por causa do trigo", avalia o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. Trocar oo pelo biscoito ou pelo bolo no café da manhã também não altera o orçamento, pois todos são feitos de trigo ou milho, além do açúcar.

Os analistas acreditam que o impacto sobre os preços em geral não será tão expressivo se o dólar permanecer entre R$ 1,70 e R$ 1,80. Na inflação de um ano, o reflexo deverá ser em torno de 0,5 a 1 ponto percentual, projeta Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC). As estimativas do Espírito Santo Investment Bank apontam para impacto de 0,8 ponto percentual em 12 meses. "A demanda interna continua relativamente forte, o que aumenta o potencial de repasse para os preços", diz o economista-chefe do banco, Flávio Serrano.

Tarifas
O orçamento das famílias também deverá sentir o impacto da disparada do câmbio nas tarifas públicas, como de energia elétrica, telefonia e pedágios, indexadas ao Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas. O indicador tem, em seu cálculo, grande influência de mercadorias cotadas na moeda norte-americana.

A alta do dólar também torna mais cara a aquisição de produtos e serviços que dependem de insumos estrangeiros. Mesmo artigos brasileiros que não têm em sua fabricação matéria-prima de fora podeo ficar mais caros. É o caso daqueles feitos por empresas que têm dívidas de empréstimos contraídos no exterior, que costumam repassar para os seus preços o aumento da despesa financeira.

Carlos Thadeu de Freitas acredita que o câmbio se estabilize na faixa de R$ 1,70 a R$ 1,80, a não ser que haja uma crise sistêmica na Europa e uma quebradeira de bancos. "Com o mundo crescendo quase nada e o Brasil acima de 3% no ano que vem, a nossa moeda sempre será procurada", justifica.

Em baixa
O dólar fechou em queda na última sexta-feira pelo terceiro dia consecutivo e voltou a R$ 1,73, valor registrado pela última vez em 16 de setembro. O mercado se animou com o resultado das vendas no varejo nos Estados Unidos em setembro, acima das expectativas, e com a expectativa sobre o desfecho da reunião de ministros das Finanças dos países do G-20, na França. Na semana, a queda foi de 1,93%, amenizando o recuo no mês, de 7,87%.

MOVIMENTO INVERSO
O peso da alta da divisa norte-americana sobre os alimentos pode ser atenuado pela dinâmica do mercado mundial, apontam os especialistas. Muitas vezes, quando há valorização cambial, o preços das commodities cai em dólar, moeda em que são cotadas. Isso ocorre porque essas mercadorias também são negociadas no mercado futuro, como ativos financeiros. Quando há maior procura por dólar e sua cotação sobe, diminui a demanda por contratos futuros de commodities. Daí, o preço cai. Além dos produtos agropecuários, isso também ocorre com minérios e energia — ferro, cobre, níquel, petróleo, prata e ouro, entre outros.

FONTE: Correio Braziliense

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