Inflação de 7,3% castiga principalmente as famílias mais pobres

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Arroz, feijão e carne, itens tradicionais na mesa do brasileiro, apertaram o orçamento das famílias em agosto, sobretudo das que têm renda mais baixa.

Arroz, feijão e carne, itens tradicionais na mesa do brasileiro, apertaram o orçamento das famílias em agosto, sobretudo das que têm renda mais baixa. O Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostrou que, em relação a julho, a inflação dos mais pobres subiu 0,33%. Com esse resultado, o índice acumula altas de 3,73% no ano e de 7,3% em 12 meses. Os alimentos foram os principais responsáveis pela escalada no mês passado, com elevação média de 0,52%.

Usada para medir o impacto da elevação dos preços em famílias que recebem até 2,5 salários mínimos, a inflação da baixa renda voltou a subir depois de duas quedas consecutivas — o índice havia caído 0,31% em junho e 0,25% em julho. A alta já faz diferença no bolso desses consumidores, que chegam a usar cerca de 40% do salário para comprar alimentos. Desempregada, Lourdes Calisto, 29 anos, conta que, com o aumento dos preços, itens básicos tiveram de ser cortados da despensa. “Não tenho dinheiro para comprar carne. O jeito é me virar com sardinha e salsicha”, lamentou.

Na casa de Lourdes, dois salários mínimos são divididos para o sustento de três pessoas. “Além dos alimentos, produtos de higiene pessoal também estão absurdamente caros”, reclamou. Ela conta que costumava comprar feijão a R$ 1,79, e hoje não consegue encontrar o produto a menos de R$ 3. “Diminuí o consumo mesmo. Em certos dias, como apenas arroz com ovo”, contou.

Prioridade

Situação parecida experimenta a empregada doméstica Deusa dos Santos, 51 anos. Ela vive com um salário mínimo e argumenta que a quantia não é suficiente para suas necessidades básicas. “A carne é um exemplo. Subiu tanto que, para levá-la para casa, tive de cortar outros produtos, como achocolatado e macarrão. É questão de prioridade”, relatou. Dos R$ 545 mensais, R$ 320 vão para o aluguel. “Sobra pouco. Não tenho condições de comprar roupas. Minhas filhas cuidam disso”, revelou.

Deusa ensina ainda que a melhor maneira de driblar a inflação é optar por marcas mais baratas e aproveitar as promoções. “Só compro com descontos e rótulos desconhecidos, que costumam serem mais em conta”, disse.

Economista da FGV, André Braz acredita que, apesar da alta de produtos essenciais, a tendência é de que os preços fiquem estáveis até o fim do ano. “Arroz, feijão, carne, açúcar, leite e frango foram os que mais subiram, o que é preocupante, já que não podem faltar na compra de mês. Mas não é alarmante. Esses itens caíram durante todo o ano. Consideramos uma recuperação de margem e custo. Eles devem manter esse patamar. Além disso, há variação de entressafra, como no caso da cana de açúcar”, ponderou.

O especialista destacou ainda elevação nos valores cobrados em aluguéis, assim como custos com água e esgoto. “Poucos setores tiveram diminuição, como vestuário, saúde e transporte — que recuou devido ao serviço público urbano, que não teve alta”, observou Braz. Serviços e produtos relacionados à educação, à leitura e à recreação também ficaram mais baratos. “Nesse caso, o lazer puxou o índice para baixo”, disse.


Juros já caem na ponta

Depois da decisão do Banco Central de baixar a taxa básica de juros (Selic) de 12,50% para 12% ao ano, as empresas começam a reduzir o custo do dinheiro. Para pessoas físicas, a média geral sofreu uma redução de 0,09 ponto percentual no mês, passando de 6,84% para 6,75% — a menor desde fevereiro. Todas as linhas de crédito tiveram as taxas reduzidas em agosto. Já para as empresas, houve redução de 0,06 ponto percentual na média geral, correspondendo a uma queda de 1,48% no mês e de 1,82% no acumulado do ano. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o recuo das taxas de juros foi influenciado, principalmente, pelo bom momento da economia brasileira, apesar da recente desaceleração no ritmo da atividade, e pela maior oferta de crédito.

 

FONTE: Correio Braziliense

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