Partículas emitidas por carros tendem a aumentar níveis de ozônio e de dióxido de carbono, dizem pesquisadores
Partículas emitidas por carros tendem a aumentar níveis de ozônio e de dióxido de carbono, dizem pesquisadores
Martha San Juan França
O governo brasileiro temamania de decidir questões de energia sem pensar no bem-estar da população. É o que afirma o médico patologista Paulo Saldiva, membro do comitê de saúde ambiental da Organização Mundial da Saúde e chefe do Laboratório de Poluição da Faculdade de Medicina da USP.
Para ele, a redução de 25% para 20% na mistura de etanol anidro à gasolina, a partir de outubro, terá impactos graves sobre a saúde. “O maior efeito será sobre o ozônio, gerado na atmosfera a partir das partículas voláteis que os carros emitem”, afirma.
Segundo Saldiva, o aumento do ozônio na atmosfera a partir dessa mudança na gasolina será de apenas 2%, o que por si só não é significativo. “Mas quando esse aumento é multiplicado por 11 milhões de veículos, passa a ser preocupante”, alerta.
“Nos nossos estudos, isso pode levar a mais 400 internações por doenças respiratórias e cardiovasculares no ano. O custo disso para o sistema de saúde será da ordem de US$ 1 milhão.” Saldiva é autor de vários estudos que medem a poluição decorrente do uso de carros e ônibus movidos a derivados de petróleo na região metropolitana de São Paulo. Um deles calcula qual seria o impacto da substituição total do etanol pela gasolina na capital paulista, considerando a mistura de 22% de álcool. Nesse caso, o número de internações hospitalares decorrentes de problemas cardiorrespiratórios aumentaria em 16.850 casos por ano, com 273 mortes. Se a gasolina fosse pura, sem mistura, o impacto seria ainda mais preocupante: mais de 25 mil internações e mais de 400 mortes.
Segundo Saldiva, além dos danos à saúde e a qualidade de vida nos meios urbanos, a medida do Ministério de Minas e Energia também deverá levar a um aumento ainda a ser calculado de dióxido de carbono na atmosfera, que se reflete no aquecimento global e nas metas brasileiras de contenção de gases do efeito estufa.
Novos cálculos
Para Maria de Fátima Andrade, do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, o impacto da mudança ainda pode reservar surpresas. “Nossas medições foram realizadas no ano passado, quando a população usava mais etanol por conta do preço”, afirma. “Os dados atuais, coma valorização do preço do etanol e a consequente migração para a gasolina, podem apresentar um aumento maior do ozônio na atmosfera.”
Marcelo Bales, gerente do setor de avaliação e programas de transporte da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) de São Paulo, acredita que a tecnologia empregada nos veículos mais novos, como a injeção eletrônica e os catalisadores, atenuam os efeitos da poluição, independentemente do tipo de combustível que utilizam. “O que faz diferença é a quantidade de veículos emcirculação, o quanto eles rodam e em que condições”, afirma. “O aumento da frota nos últimos anos em mais de 10% contribui muito mais para a poluição do que o tipo de combustível, desde que seja regulamentado.”
Os dados da Cetesb mostram que o número de dias em que a qualidade do ar ficou imprópria na cidade de São Paulo aumentou 146% nos primeiros sete meses de 2011, mesmo com a implantação da inspeção veicular e as chuvas.
FONTE: Brasil Econômico