A tensão nos ciclos econômicos e financeiros nos Estados Unidos começa a ganhar contornos dramáticos, à medida que o relógio avança e o mundo político não consegue chegar a um acordo para elevar o teto da dívida antes de 2 de agosto.
China, Japão, Reino Unido e Brasil são os maiores credores do governo norte-americano
A tensão nos ciclos econômicos e financeiros nos Estados Unidos começa a ganhar contornos dramáticos, à medida que o relógio avança e o mundo político não consegue chegar a um acordo para elevar o teto da dívida antes de 2 de agosto. O Tesouro garante que, se não houver entendimento entre governo e Congresso, a partir dessa data, não terá mais dinheiro para honrar compromissos simples, como o pagamento de aposentadorias. Os apelos do presidente Barack Obama sensibilizaram os eleitores, que passaram a apoiá-lo. Mas continuam não convencendo a oposição republicana, que quer cortar despesas e evitar o aumento de impostos.
Os governos estrangeiros, que não têm como decidir a batalha, podem ter que arcar com pesadas perdas em caso de calote, hipótese que já passa a ser considerada pelos analistas. Um terço dos US$ 9,6 trilhões em títulos da dívida norte-americana em poder do mercado está nas reservas de outros países, estima o Citigroup. Por isso, a pressão chega a Obama também por vias diplomáticas. As autoridades chinesas já reclamaram abertamente do impasse, que já dura três meses. Segundo dados do Tesouro dos EUA, a China é seu maior credor, com US$ 1,15 trilhão a receber, seguida do Japão (US$ 882,3 bilhões), do Reino Unido (US$ 272,1 bilhões) e do Brasil (US$ 187 bilhões), o quarto maior detentor.
Embora corram um risco cada vez maior de acabar com títulos podres nas mãos, os governos estrangeiros não têm muitas alternativas para aplicar as reservas internacionais. O administrador de recursos de um grande banco no Brasil assegura que as opções lembradas recentemente, como o ouro e o franco suíço, podem não ser um negócio atraente. Esses dois ativos já se valorizaram muito nos últimos meses e não existem, no mercado, na mesma quantidade que o dólar. "Quantos trilhões de dólares em ouro existem no mundo? Esses são segmentos muito pequenos", disse.
Ainda assim, o derretimento da divisa dos EUA vai forçar as autoridades monetárias a se mexerem para encontrar opções seguras. Num mundo em que os títulos norte-americanos não mais teriam a melhor classificação de risco, o que pode ocorrer mesmo que um acordo salve o orçamento, novos padrões para os investimentos seriam criados. "Isso pode acelerar a diversificação por parte de bancos centrais e de fundos soberanos estrangeiros, o que já vem ocorrendo nas últimas décadas", apontou o Citigroup em um relatório.
A necessidade de encontrar outros destinos para o dinheiro também deve atingir entidades privadas, como os grandes fundos de pensão ao redor do mundo. Eles podem ser obrigados a substituir os títulos dos EUA por papéis com classificação AAA, como os bônus alemães e franceses. O objetivo seria cumprir os níveis de segurança exigidos pelos órgãos de regulação do setor. No entanto, o relatório do Citigroup minimiza os efeitos dessa migração. "Avaliamos que poucos investidores serão forçados a vender e outros poucos farão essa escolha por causa de uma redução à faixa AA", afirmaram os especialistas.
O maior prejuízo no Brasil seria de quem aplica na Bolsa de Valores de São Paulo, que já caiu mais de 13% em 2011. "Se a aversão ao risco cresce, é difícil imaginar a bolsa subindo", afirmou Jorge Simino, diretor de Investimentos do fundo de pensão da Cesp (Funcesp). Para ele, o ponto-chave será o tipo de acordo a ser alcançado no Congresso. "O perigo de uma solução de curto prazo é que ela vai jogar tudo para 2012, no olho do furacão das eleições. A tensão entre democratas e republicanos, que já é elevada, tenderia a ser muito maior. Provavelmente é isso que vai doer, talvez mais do que o rebaixamento em si." O teto da dívida, de US$ 14,3 trilhões, foi alcançado em maio.
FONTE: Correio Braziliense