Dispositivo é reabsorvido pelo corpo seis meses depois de ser colocado no paciente Stent feito de polímeros pode evitar inflamações causadas pelos modelos de metal usados até agora, dizem médicos
Dispositivo é reabsorvido pelo corpo seis meses depois de ser colocado no paciente Stent feito de polímeros pode evitar inflamações causadas pelos modelos de metal usados até agora, dizem médicos
Daqui a duas semanas, terá início no Brasil e em mais 67 centros do mundo a maior pesquisa já feita sobre um novo dispositivo que desobstrui artérias do coração bloqueadas por gordura. O modelo que será testado é feito de um material que é absorvido pelo corpo.
O implante, um stent, é uma espécie de mola colocada via cateter (sem cirurgia aberta) na artéria coronária, para abri-la e permitir o fluxo sanguíneo. A prótese é uma alternativa menos invasiva à ponte de safena.
Depois de seis meses, quando o dispositivo já cumpriu sua função, ele começa a ser absorvido pelo corpo, diferentemente dos similares metálicos, usados hoje. Os stents de metal ficam no corpo depois de implantados, o que pode causar problemas em novas cirurgias cardíacas e prejudicar a contração e a dilatação dos vasos.
Eles também podem atrapalhar a visualização de artérias coronárias em exames de imagem e causar inflamações, como queloides. Os dispositivos bioabsorvíveis, feitos de um tipo de polímero, já foram aprovados na Europa no começo deste ano, mas, segundo especialistas, ainda não começaram a ser usados na prática.
Cardiologistas brasileiros dizem que as pesquisas sobre o novo stent são pequenas e faltam dados sobre sua segurança e eficácia a longo prazo.
Revolução cardíaca
Agora, o novo estudo envolverá mil pacientes, sendo cerca de 50 brasileiros. Eles serão avaliados no Instituto Dante Pazzanese e no hospital Albert Einstein, em São Paulo, e no Instituto do Coração do Triângulo Mineiro, em Uberlândia (MG).
"Se a pesquisa comprovar que ele pode substituir os stents metálicos, teremos a nova revolução da cirurgia cardíaca", diz Alexandre Abizaid, chefe da seção de intervenções em coronárias do Instituto Dante Pazzanese.
Abizaid é também um dos diretores do encontro de inovações na cardiologia intervencionista que acontecerá em São Paulo nesta semana. Várias palestras terão o stent bioabsorvível como tema.
Segundo Expedito Ribeiro, supervisor do serviço de hemodinâmica do InCor, a tecnologia é promissora, mas ainda não há dados conclusivos. "Questões como os efeitos da absorção do material na artéria não foram esclarecidas", afirma.
Para Marco Antônio Perin, chefe da cardiologia intervencionista do hospital Albert Einstein, o stent bioabsorvível só tem vantagens. Ele afirma, porém, que é necessário ver seus efeitos a longo prazo. "Precisamos analisar se não criará uma reação inflamatória maior nas artérias."
Abizaid acredita que o dispositivo começará a ser usado comercialmente no Brasil daqui a um ano e meio.
Troca de válvula feita por cateter reduz mortalidade
Uma técnica que substitui uma válvula no coração por meio de cateter tem taxa menor de mortalidade do que a cirurgia aberta. A conclusão é de um estudo com 699 pacientes, apresentado na semana passada no encontro do American College of Cardiology, nos EUA.
A substituição da válvula aórtica, que sofre degeneração com o tempo, em geral é feita em idosos, que correm maior risco em cirurgias complexas.
Para Alexandre Abizaid, do Instituto Dante Pazzanese, o estudo comprova a eficácia da técnica, usada no país há dois anos.
A pesquisa mostrou, porém, um risco maior de derrame entre os que se submeteram à técnica menos invasiva (5,1% para o stent, contra 2,4% de risco da cirurgia).
(Mariana Versolato)
FONTE: Folha de S.P