Editorias - Inflação em alta

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A forte elevação dos preços em 2010 exige atuação mais rigorosa do governo tanto na política monetária quanto no controle de gastos públicos

A forte elevação dos preços em 2010 exige atuação mais rigorosa do governo tanto na política monetária quanto no controle de gastos públicos

O novo governo começa com uma missão urgente na área econômica: conter a inflação que ameaça se generalizar. Os resultados recentes não são animadores. O IPCA, que mede a inflação oficial do consumidor, fechou 2010 em 5,9% contra 4,3% no ano retrasado. A meta, como se sabe, é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais.

É certo que parte importante da elevação dos últimos meses se deveu aos alimentos, cujos preços subiram 10,4% no ano em comparação com mais de 3% em 2009. Mas isso não é tudo. O setor de serviços enfrenta excesso de demanda, o mercado de trabalho está muito aquecido e é forte o crescimento da massa salarial.

Para este ano, as projeções de inflação ficam entre 5% e 6%, embora o grau de incerteza seja alto. Os preços dos alimentos devem continuar pressionados, tendo em vista os baixos estoques mundiais e os riscos climáticos. São comuns estimativas de alta entre 10% e 20% na cotação dos grãos. Nos serviços, apesar da perspectiva de uma correção moderada do salário mínimo, a escassez de mão de obra deve permanecer.

Há ainda o efeito da indexação, contra a qual o governo Lula nada fez. O IGP, índice que corrige itens de peso, como algumas tarifas públicas e aluguéis, chegou a mais de 10%. Por fim, na área de bens duráveis, o melhor desempenho que se espera da economia mundial e uma taxa de câmbio provavelmente menos valorizada devem favorecer aumentos.

Na soma geral, não seria uma grande surpresa se a inflação deste ano se aproximasse ainda mais do teto da meta -6,5%. A margem de manobra, portanto, é estreita. Não há mais dúvida de que o Banco Central iniciará um necessário ciclo de elevação dos juros na reunião do Copom do dia 20. Espera-se um acréscimo de meio ponto percentual, que elevaria a taxa básica para 11,25% ao ano.

Um aspecto positivo a considerar são os sinais de que o novo governo não deixará todo o trabalho de combate à inflação a cargo da política de juros. As medidas recentes para conter o crédito e os cortes de gastos em estudo no Ministério da Fazenda deverão auxiliar o BC na tarefa de manter a evolução dos preços dentro da meta.

Mas não deve haver ilusões. Uma mudança mais profunda e persistente quanto ao papel que a política de controle das finanças públicas pode exercer no combate à inflação está longe de garantida. Mesmo que o enxugamento de despesas comece neste ano, será preciso dar tempo ao tempo para verificar até que ponto irá o ânimo do novo governo para conter a gastança do Estado.

FONTE: Folha de S.P

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