De volta para o futuro

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NESTA SEMANA o Fed (Federal Reserve), banco central dos Estados Unidos, inicia uma nova rodada de expansão monetária quantitativa -isto é, a compra de ativos de médio e longo prazo no mercado por meio de emissão monetária.

NESTA SEMANA o Fed (Federal Reserve), banco central dos Estados Unidos, inicia uma nova rodada de expansão monetária quantitativa -isto é, a compra de ativos de médio e longo prazo no mercado por meio de emissão monetária.

A iniciativa visa reforçar a anêmica recuperação econômica em curso e, com isso, reduzir o desemprego e alinhar a inflação ao seu objetivo de médio prazo -próximo a 2%. Há muitas dúvidas sobre as chances de sucesso da expansão quantitativa. Os economistas diferem amplamente quanto ao impacto que tal política pode ter sobre a atividade econômica.

Não está claro, por exemplo, por que consumidores superendividados passariam a comprar mais depois de uma provavelmente modesta alta dos preços de ativos de longo prazo. Além disso, há o temor sobre as consequências inflacionárias da expansão monetária.

Mesmo assim, a visão dominante no Fed é a de que boa parte da diferença entre a taxa de desemprego atualmente observada, de 9,6%, e a de longo prazo, próxima a 5,5%, deve-se à insuficiência de demanda, que pode ser combatida com alguma iniciativa de política econômica. Como há paralisia na política fiscal, resta ao Fed seguir tentando inovações, mesmo que com chances de sucesso questionáveis.

Muitos observadores têm atribuído, ao menos parcialmente, a esse ativismo do BC norte-americano o período de instabilidade monetária global no qual parecemos ter entrado -suas contrapartes chinesas seriam os outros grandes responsáveis pela situação.

Há semelhanças de fato com a situação vivida pela economia mundial na virada dos anos 60 para 70 do século passado, quando os Estados Unidos resolveram abandonar o regime de câmbio fixo que vigorava desde o final da Segunda Guerra Mundial -o chamado regime de Bretton Woods.

O episódio mais marcante foi a declaração do secretário do Tesouro americano, John Connolly, em 1971, a ministros das Finanças europeus, de que o dólar "é nossa moeda, mas é seu problema".

A década seguinte foi marcada por forte instabilidade monetária, e desaceleração econômica, nas economias maduras. Pode-se dizer mesmo que os anos 1970 estiveram para as economias avançadas como os anos 1980 para as latino-americanas, isto é, foram décadas perdidas. Dados os paralelos com a situação atual, vale recapitular o que ocorreu nos anos 1970 com variáveis macroeconômicas e preços de ativos.

O período foi caracterizado por elevação dos preços de matérias-primas, notadamente petróleo, e do ouro -este último certamente influenciado pela elevação da inflação. Nos Estados Unidos, esta saiu de 3% em média nos anos 60 para 8% nos anos 1970, com o pico de 13,3% em 1979. O aumento da inflação teve o efeito de reduzir as taxas de juros reais, beneficiando devedores, em especial o governo, a expensas do público poupador.

Os anos 1970 assistiram também à forte depreciação do dólar ante as principais moedas, notadamente o marco alemão e o iene. Esse movimento cambial foi acompanhado por acumulação de reservas, os notórios petrodólares das economias neorricas do Oriente Médio.

O crescimento da economia dos EUA nos anos 1970 foi errático e modesto. Nesse ambiente, e com pressões de custos renitentes, a lucratividade das empresas ficou comprometida. Não surpreende, portanto, que os preços de ações, descontada a inflação, tenham recuado.

A análise histórica, para ser verdadeiramente útil, deve levar em conta fatores condicionantes que podem influenciar a probabilidade de que experiências anteriores sejam repetidas ou não. Nesse sentido, há uma importante diferença entre o momento atual e o início dos anos 1970, a saber, o grau de ociosidade na economia americana (e em outras economias maduras), que parece ser hoje sensivelmente maior.

Por esse quesito, a situação atual se parece mais com o período de instabilidade monetária dos anos 1930 do século passado. O problema é que, nesse segundo paralelo, as perspectivas para os preços de ativos de economias maduras são ainda piores.

(MARIO MESQUITA, 44, doutor em economia pela Universidade de Oxford, escreve quinzenalmente, às quartas-feiras, neste espaço.)

FONTE: Correio Braziliense

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