Opinião - O inefável "recado das urnas"

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"É a economia, seu burro"? Mas mais da metade votou na oposição. "Recado das urnas" é quase um oráculo

É A ECONOMIA, seu burro!" Não, é o Bolsa Família. Ou o carisma. Antes da votação já se ouve o debate sobre os motivos que explicariam o destino eleitoral de Maria ou João. Mas mesmo resultados detalhados são mais manhosos que as espertezas de econometristas e politólogos -e os melhores sabem disso. A estatística mais competente oferece mais oráculos matematizados do que conclusões evidentes por si mesmas.

Para começar, considere-se o palpite mais intuitivo: a economia é decisiva. Ou, menos genérico, a "sensação de bem-estar material" é decisiva (pois, como já disse um ditador brasileiro, a economia pode ir bem, e o povo, mal). Aceite-se, sem mais, que a sensação de bem-estar seria de fato geral e, mais difícil ainda, que tal sentimento depende apenas do progresso econômico individual. Ainda assim, cerca de 53% dos eleitores que foram às urnas e não votaram em branco ou nulo prefeririam ter um candidato de oposição.

Ou seja, mais da metade do eleitorado pode estar satisfeita com "seu bolso" e ainda assim acha que "um outro mundo é possível". Trata-se de um resíduo enorme a ser explicado pelo economicismo.

Uns "estudos" dizem, por exemplo, que existe uma associação entre o voto de uma cidade em Lula e, agora, em Dilma Rousseff, e o fato de tal município ter mais recipientes do Bolsa Família.

Mas se pode dizer, com ainda mais "certeza" estatística, que essas "cidades vermelhas" são também as de IDH mais baixo, com chefes de família menos instruídos etc.
Talvez então tenha sido o aumento da renda? Não temos dados diretos de aumento da renda per capita em municípios (apenas o PIB per capita). Relevada a precariedade do indicador, ainda assim ele não é uma "explicação" muito melhor que outras. De resto, o Bolsa Família é responsável pela melhoria de vida de parte menor do eleitorado adulto e de parte menor da renda geral.

Para complicar ainda mais, esse tipo de análise trata dos votos por município: os eleitores são agregados, em bloco. Infere-se seu comportamento por meio de técnicas mais ou menos controversas.

Mas parece claro, na intuição ou na alta econometria politológica (cadê os sociólogos?), que a economia e programas sociais importam. Tudo isso, porém, é insuficiente. A estatística permite eliminar palpites ruins. Não permite dizer como melhorias econômicas, programas sociais específicos para cada grupo social e o discurso político interagem e formam conceitos ou outras construções imaginárias a respeito de quem deve ser o eleito, o que cada grupo de eleitor espera do futuro, seu e coletivo etc. É o efeito combinado de várias políticas diferentes e de seu impacto simbólico que deve indicar como se comporta o eleitor.

Carisma? Lula não o tinha quando perdeu três eleições. Mas seu discurso político, "compromisso com os pobres", teve relação com a realidade, tenha sido ele ou não o propiciador do maná. Ausência de oposição importa? Lula fechou um grande pacto político, da banca ao empresariado, passando por excluídos, trabalhadores etc. O fato de quase não haver contraponto social e político ao discurso presidencial teve que influência na eleição? Ainda assim, Dilma vai para o segundo turno. Irritação religiosa e repulsa à corrupção impediu sua vitória.

A coisa é bem mais complicada.

(Vinicius Torres Freire )

FONTE: Folha de São Paulo

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