Economia - Banquete à brasileira

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Animados com o incremento da renda, os trabalhadores diversificam os produtos que fazem parte de sua dieta. Consultoria identifica expansão de 10% no número de produtos adquiridos, com destaque para as classes D e E

Em um ano de forte recuperação econômica, o colorido das prateleiras tem seduzido o consumidor a gastar como nunca com comida. A alta generalizada da renda abriu caminho para lançamentos e todo tipo de novidades. Produtos mais nutritivos, práticos, personalizados no tamanho e no gosto, além da linha saudável, estão entre as preferências do brasileiro, que, eventualmente, nem se incomoda tanto em pagar um pouco a mais para rechear a despensa. A mudança no padrão de consumo de quem come em restaurante ou cozinha em casa já é percebida pela indústria e pelo varejo.

Itens que mais pesam no orçamento doméstico, os alimentos puxaram as compras de bens não duráveis no primeiro trimestre do ano. Pesquisa da Kantar Worldpanel, consultoria especializada em consumo e que monitora semanalmente 8,2 mil domicílios, identificou uma expansão de 10% em número de produtos adquiridos e de 16% em valor. Conforme o levantamento, as classes D e E foram as que mais se empolgaram ao encher o carrinho e ao esvaziar os bolsos.

Outra pesquisa, realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em parceria com o Ibope, mapeou os novos hábitos das pessoas. O estudo descobriu que produtos clássicos da dieta nacional continuam imbatíveis, mas identificou também que a grande maioria das pessoas não abre mão da praticidade na hora do almoço ou do jantar. “O consumidor está em busca de um alimento prático, que ele consiga comer no trabalho ou no caminho para chegar lá. E, mesmo em casa, ele prefere comodidade. Por isso, os congelados e as porções individuais estão tão em alta”, diz Antônio Carlos Costa, gerente de Agronegócio da Fiesp.

Entre os produtos que mais despertam o interesse dos clientes que frequentam os supermercados, estão os iogurtes, as bolachas e biscoitos e os sucos prontos. O desejo de colocá-los no carrinho passa por critérios que vão do preço e do valor nutricional até o tempo de preparo e as calorias contidas na porção. Um dado curioso da pesquisa da Fiesp revelou, no entanto, que, quando o assunto é arroz, feijão e café, o brasileiro é conservador. “A marca exerce maior influência no caso do consumo desses itens. Os consumidores são muito fiéis. Principalmente nas classes menos favorecidas, prefere-se errar no supérfluo, mas não no que é básico”, reforça Costa. No estudo da Fiesp, 1.500 pessoas foram entrevistadas em nove capitais, incluindo Brasília.

Chamariz
Sempre atenta à gôndola, a servidora pública Luana Maciel, 35 anos, diz que a grande oferta de produtos funciona como um chamariz. Olhando para os últimos 10 anos, ela reconhece que compra mais e que coloca na sacola produtos que vão muito além do básico. “Hoje, a variedade permite que eu troque os produtos tradicionais pelos light ou por outros alimentos mais funcionais”, explica.

Para a técnica em radiologia Marta Paiva, 38 anos, ganhar melhor foi fundamental para ampliar o menu. “Antigamente, era impossível comprar frutas especiais, como ameixa ou kiwi. Hoje, uma vez por semana levo esses produtos para casa, para dar ao meu bebê de um ano”, comemora. Mas não foram só os alimentos saudáveis que estrearam na lista de compras do brasileiro. O militar Wesley Veiga, 19 anos, assegura que iogurtes, pizzas e lasanhas congeladas, sorvetes e chocolates especiais deixaram de ser eventuais. “Eles se tornaram comuns, tanto na minha casa como na de todos os brasileiros”, afirma.

Passada a crise mundial, as empresas de alimentos e bebidas calculam crescer entre 5% e 6% neste ano — a média histórica é de 2%. Em faturamento, os números são ainda mais promissores: as companhias vão movimentar R$ 310 bilhões. O gerente de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia), Amílcar Lacerda, destaca o amadurecimento do mercado interno e a disposição do consumidor em gastar. “É como se as pessoas estivessem mudando de classe social”, lembra. Bebidas e laticínios são os carros-chefes de 2010, segundo Lacerda. Outra alavanca é a capacidade das companhias de se adaptar ao público-alvo. “Cresce cada vez mais a produção de itens adequados ao clima e ao padrão de renda das regiões”, justifica.

FONTE: Correio Brasiliense/Luciano Pires

 

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