A língua portuguesa é, sem dúvida, o nosso maior patrimônio cultural, por um fato muito simples: é por meio dela que tomamos conhecimento e expressamos a nossa opinião sobre qualquer assunto, sobre qualquer cultura; é o nosso principal instrumento de comunicação.
A língua portuguesa é, sem dúvida, o nosso maior patrimônio cultural, por um fato muito simples: é por meio dela que tomamos conhecimento e expressamos a nossa opinião sobre qualquer assunto, sobre qualquer cultura; é o nosso principal instrumento de comunicação.
Apesar disso, ninguém lhe dá importância, ninguém do povo, nenhuma das autoridades, e vamos vendo instaurar-se em nosso meio e registrar-se em nossa língua (intencionalmente com letra minúscula) uma série infindável de exemplos de ignorância, a se repetir e se multiplicar no tempo e no espaço.
Como modelo recente, veja-se o nome do vírus da gripe que invadiu o noticiário: influenza. O país inteiro alterou a original e, portanto, verdadeira sonoridade da palavra, que, por ter sido tomada de empréstimo ao espanhol, onde o Z soa como Ç, deveria ser pronunciada e escrita influença. É o que também acontece com zara, cuja pronúncia e grafia deveria ser sara, para respeitar a sonoridade de origem. Agora temos o exemplo da Jabulani, que, com a força da comunicação oral da TV, todos pronunciam como paroxítona, tendo la como sílaba tônica - jabuLAni -, o que é correto, pois respeita a maneira de falar dos donos dessa palavra, os africanos.
Porém, daqui a alguns anos, quando novas gerações estiverem lendo os textos escritos hoje, vão ler essa palavra como oxítona, pronunciando jabulaNI, em função das nossas regras de acentuação, que determinam serem oxítonas as palavras sem acento gráfico terminadas em "i", como acontece em guarani, javali, bani (do verbo banir) etc. Se estivéssemos escrevendo jabulâni, estaríamos desde já respeitando a ortografia e fixando definitivamente a pronúncia correta para todas as gerações. Mas não temos quem se preocupe com a defesa, preservação e continuidade de nossa expressão escrita, de nossa ortografia.
Por isso, vai-se degradando a importância do português como língua internacional, sendo suplantada cada vez mais pelo espanhol, cuja ortografia se mostra muito mais consistente e orientada, o que nem de perto acontece conosco. Em todos os países de língua castelhana, a pronúncia e a escrita das palavras é orientada pela Real Academia Espanhola, que atua, através dos séculos, unificando-as responsavelmente.
O Brasil tem conquistado espaços internacionais na área econômica e política e, se quer reforçar essas conquistas, precisa atuar seriamente no campo linguístico, para que a sua língua seja mais bem difundida e aceita no mundo, necessitando, pois, de criar urgentemente uma Política da Língua, a ser implantada interna e externamente. Porém, é necessário que se dedique a isso com profundidade e fuja dos erros simplistas do passado, que demonstraram, nas ilogicidades e incongruências do último acordo ortográfico, serem apenas uma ou duas academias insuficientes para um trabalho de tal envergadura. É o que se pode conferir lendo os artigos disponíveis no www.acordarmelhor.com.br.
É imprescindível que o governo federal acione o Ministério da Cultura, o da Comunicação, o das Relações Exteriores e outros que possam interagir, com o fim de se criar uma comissão de alto nível para delinear tal política e implantá-la. Mas que se convoquem linguistas, comunicadores, jornalistas, professores, pedagogos, juristas e se tenha aberta a porta para receber colaboração espontânea de quem possa e queira contribuir. Só não se pode cometer novamente o erro de, por interesses corporativos e menores, privilegiar esta ou aquela instituição e perder o foco e a objetividade.
Ernani Pimentel (Professor, escritor, conferencista, presidente do Grupo Vestcon)
Fonte: Correio Braziliense