Catarata pode ficar no passado

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Comum, a doença é a maior causa de cegueira tratável nos países em desenvolvimento, segundo a OMS. Avanços tecnológicos tornam a cirurgia de correção cada vez mais segura e menos invasiva

Comum, a doença é a maior causa de cegueira tratável nos países em desenvolvimento, segundo a OMS. Avanços tecnológicos tornam a cirurgia de correção cada vez mais segura e menos invasiva

Márcia Neri

Sensação de visão turva, borrada ou embaçada, alteração na percepção das cores, sensibilidade à luz e dificuldade para enxergar de perto e de longe são os sintomas mais evidentes da catarata, doença comum que afeta os olhos. Embora tenha tratamento, o problema é apontado como a maior causa de cegueira tratável nos países em desenvolvimento. Dados da Organização Mundial da Saúde revelam que, dos 45 milhões de deficientes visuais do mundo, 40% ficaram cegos devido à catarata.

Não existem estudos epidemiológicos que estimem o número de brasileiros diagnosticados com catarata anualmente. No entanto, especialistas acreditam que ao menos 100 mil pessoas são vitimadas pelo mal a cada ano no Brasil. Nem todas têm acesso à intervenção que substitui o cristalino por uma lente intraocular capaz de devolver a boa visão. Os hospitais públicos geralmente não contam com instrumentos cirúrgicos avançados e as novas técnicas nem sempre podem ser utilizadas nessas unidades. Algumas pesquisas demonstram que somente 40% dos pacientes que necessitam da cirurgia de catarata são operados no país. No Distrito Federal, apenas o Hospital de Base e o Hospital Regional de Taguatinga oferecem o procedimento gratuitamente à população.

A catarata é uma doença que deixa o cristalino — lente natural dos olhos — parcial ou totalmente opaco. “Como o próprio nome sugere, o cristalino é uma estrutura transparente que permite que a luz chegue ao fundo de olho de forma nítida. A catarata é uma lesão ocular que impede que a luz passe de forma correta, fazendo com que a imagem chegue borrada ao fundo do olho”, explica o oftalmologista Daniel Moon Lee.

As pessoas com uma vida longa em algum momento serão atingidas pela catarata senil, tipo mais comum da doença. “É um processo natural do envelhecimento, e a cirurgia é o único tratamento para corrigir a deficiência visual resultante dessa manifestação. O momento ideal para realizá-la varia de acordo com cada caso. Em alguns, o procedimento deve ser feito aos 50 anos de idade, em outros aos 60 ou 70”, observa Lee. Segundo ele, a técnica usada atualmente em hospitais bem equipados é menos invasiva. A evolução da medicina e os avanços tecnológicos que beneficiam a oftalmologia contribuem para que o procedimento fique a cada dia mais seguro. “Hoje, nosso objetivo com a cirurgia é substituir o cristalino, permitir que o paciente tenha uma boa visão e ainda tentar fazer com que ele fique livre dos óculos de grau, o que é perfeitamente possível com os cálculos biométricos que fazemos”, afirma.

Alegria

A dona de casa Dejanira Garcia de Andrade, 71 anos, fez a operação de catarata e não se arrepende. Os óculos bifocais ficaram no passado. “Há 20 anos, esse procedimento era muito mais arriscado, e o pós-operatório, sofrível. A pessoa ficava sete dias internada e mal podia se movimentar. Foi assim com meu padrasto. Todos tinham medo”, lembra. Quando Dejanira foi diagnosticada com a doença, a realidade já era outra. “Há quatro anos, comecei a notar a visão turva. O mal estava afetando a minha qualidade de vida e resolvi me submeter ao procedimento para a substituição do cristalino. Comprovei o quanto a técnica evoluiu. A cirurgia é muito rápida e minha recuperação foi ótima. Operei os dois olhos em um intervalo de 10 dias e não senti dor alguma. Segui as recomendações do pós-operatório e, hoje, uso óculos apenas para leitura. É uma maravilha poder dirigir sem eles. Agora, somente os de sol me acompanham nos passeios”, brinca ela.

O oftalmologista Mário Pacini Neto afirma que os avanços na área oftalmológica permitem, hoje, a indicação precoce da cirurgia, possibilitando que os pacientes não fiquem com a visão muito afetada antes de operar. “A catarata em estado avançado deixa o cristalino mais resistente e demanda maior quantidade de ultrassom e de energia no olho para quebrá-lo e substituí-lo. Por isso, desde que os sinais se manifestem e a doença seja diagnosticada, o quanto antes a operação for feita, menores os riscos, as chances de complicações e uma melhor recuperação do paciente”, garante Pacini Neto.

O médico alerta que, embora segura, a cirurgia não é simples. “Como todo procedimento cirúrgico, o de catarata também tem riscos. Eles são raros, mas podem acontecer. Os mais leves, como a elevação da pressão intraocular, irritação ou inflamação inespecífica não acometem nem 7% dos operados. Os mais graves, como deslocamento da retina, impossibilidade de implante da lente e infecção acontecem em menos de 1% dos casos”, assegura. “A cooperação do paciente no pós-operatório é importante. Quem faz a cirurgia volta para casa no mesmo dia, mas deve pingar os colírios indicados e repousar. Após a alta médica, a vida segue normal”, explica o oftalmologista.

A aposentada Chloé de Oliveira e Cruz, 80 anos, recebeu alta na última terça-feira. Ela operou o olho direito há dois anos e há um mês fez a cirurgia no esquerdo. “Segui todas as recomendações e, agora, vou curtir a boa visão nos dois olhos. Estou usando um óculos escuro especial porque a claridade ainda incomoda, mas me sinto muito bem. Não podemos temer o que a vida nos apresenta. A visão é muito importante para a qualidade de vida de qualquer um. Gosto de ir ao cinema, viajar, passear. Não conseguiria fazer tudo isso enxergando embaçado. A catarata está vencida”, comemora a animada senhora.

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