Com a queda da taxa de juros e o aumento da volatilidade no mercado acionário, as entidades de previdência complementar podem ter dificuldade para a atingir a meta atuarial, hoje em 6% mais a variação de um índice de inflação, seja o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) ou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Com a queda da taxa de juros e o aumento da volatilidade no mercado acionário, as entidades de previdência complementar podem ter dificuldade para a atingir a meta atuarial, hoje em 6% mais a variação de um índice de inflação, seja o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) ou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
No ano passado, vários fundos de pensão não atingiram sua meta atuarial e registraram rentabilidade negativa de 1,27%, segundo dados da Secretaria de Previdência Complementar (SPC). Dos 1.037 planos previdenciários cadastrados, cerca de 120 registraram déficit atuarial de R$ 15 bilhões em 2008.
Segundo o consultor sênior da área de previdência da Mercer, François Racicot, os fundos de pensão se encontram em posição confortável de liquidez e registraram superávits nos últimos cinco anos. "A maior parte dos fundos acumularam reservas e, por isso, não deve ser necessário um aumento do aporte dos participantes."
De acordo com o consultor líder da área de investimentos da Mercer, Lauro Araújo, os fundos acumularam desde 2002 até 2007 um retorno médio de 10% acima da inflação. Ele ressalta que a maior da carteira dos fundos está aplicada em títulos públicos. No ano passado, 66,2% da carteira dos fundos estavam alocados em renda fixa. Segundo Araújo, cerca de 10% desses investimentos são em crédito privado, e esse número, na sua opinião poderia dobrar.
Araújo destaca que emissões de empresas de primeira linha têm pago taxas atraentes. "Nesse momento ser credor é melhor do que ser sócio das empresas."
Os fundos ainda vem tendo ganho com títulos públicos, principalmente com os papéis indexados a índices de inflação como as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), que chegaram a pagar no ano passado 8% de juro mais variação do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA).
Já as aplicações em renda variável, que representam 28% da carteira, foram as que mais impactaram o patrimônio dos fundos, com Ibovespa registrando queda superior a 41% no ano passado. Vale destacar que essas perdas não são efetivas, e representam apenas uma queda do valor das ações em carteira. Apesar da recuperação da bolsa no início deste ano, que acumula alta de 36,47% até ontem, Araújo disse que a recuperação se deve mais ao aumento do fluxo do que a uma mudança de fundamentos. Ele alerta que a rotatividade da carteira pode ter um alto custo nesse momento de volatilidade. Uma alternativa para reduzir as perdas da carteira seria adotar estruturas de capital protegido, usando opções.
Para Araújo, a situação das entidades de previdência complementar brasileiras é melhor do que a dos fundos norte-americanos, cujas alocação em renda variável é da ordem de 50% a 60% da carteira.
Araújo também adverte para as aplicações em fundos de hedge e multimercados. "Esses investimento só seria interessante se os fundos oferecessem uma rentabilidade muito alta que compensasse o risco." Ele destaca que os fundos devem privilegiar gestores especializados e que adotem uma gestão ativa da carteira.
O investimento em ativos no exterior pode ser uma opção para diversificar o portfólio. "Os fundos podem aplicar até 3% da carteira no exterior, mas esse limite deve aumentar para 10%", diz Araújo.
Araújo alerta, no entanto, que as condições de mercado que evitaram que os fundos passassem por uma crise não devem prevalecer, com a taxa de juro real já se aproximando de 5%. "É inevitavelmente os fundos terão que rediscutir suas metas atuariais.