Falsas esperanças à venda

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Estou desesperado. Tenho 40 anos, dois filhos e acabo de descobrir um câncer de pulmão. Encontrei o site de vocês pela internet e preciso saber quanto custaria ser tratado com células-tronco e quais são as chances reais." A mensagem foi enviada na quinta-feira pela reportagem à clínica Emcell, com sede na Ucrânia. Em seu site, ela afirma ter tratado milhares de pacientes com diabetes tipos 1 e 2, esclerose múltipla, mal de Parkinson, distrofia muscular, câncer, doenças do sangue (incluindo doenças genéticas raras).

Estou desesperado. Tenho 40 anos, dois filhos e acabo de descobrir um câncer de pulmão. Encontrei o site de vocês pela internet e preciso saber quanto custaria ser tratado com células-tronco e quais são as chances reais.” A mensagem foi enviada na quinta-feira pela reportagem à clínica Emcell, com sede na Ucrânia. Em seu site, ela afirma ter tratado milhares de pacientes com diabetes tipos 1 e 2, esclerose múltipla, mal de Parkinson, distrofia muscular, câncer, doenças do sangue (incluindo doenças genéticas raras).

Menos de 24 horas depois, a resposta chegou assinada pelo chefe da instituição, o professor Alexandr Smikodub, que se intitula “inventor do método de tratamento com células-tronco embrionárias”.
 
Na mensagem, ele afirma que ajuda pessoas com vários tipos de câncer. “Nossa experiência se cerca de diferentes tumores sólidos e hematotumores em mais de 300 pacientes.
 
Muitos anos de observação têm mostrado que a taxa de sobrevida em pessoas tratadas com suspensões de células-tronco embrionárias é 30% mais alta que nas terapias rotineiras”, afirmou o “especialista”.
 
De acordo com Smikodub, a aplicação de células-tronco é bem efetiva, ajuda a restaurar as forças vitais do corpo e a combater o câncer. As promessas não param por aí. “Como resultado do tratamento, a imunidade contra o câncer será recuperada, a força aumentada, a habilidade para trabalhar e o apetite melhorados, os sinais de depressão vão desaparecer, trazendo esperança”, acrescentou. Depois, solicitou
o envio, por fax ou e-mail, de hemograma completo, detalhes do diagnóstico (em ucraniano, russo, inglês ou alemão) e exame histológico do suposto tumor.
 
Transplante
Recorrendo à mesma estratégia, a reportagem recebeu informações de outra clínica, sediada na Califórnia. A diretora de Medicina e Relações com os Pacientes enviou um e-mail para o Correio detalhando o transplante de células-tronco humanas fetais. “As células-tronco que você receberá serão de longe mais poderosas e eficazes do que qualquer outro tipo”, prometeu. O preço cobrado é de US$ 30 mil (cerca de R$ 74,1 mil) — outros US$ 12,5 mil (R$ 30,8 mil) podem ser exigidos “para continuidade do tratamento, se necessário”. Segundo ela, “infelizmente o seguro médico não cobre esses transplantes”.
 
A Emcell foi citada em estudo da Universidade de Alberta (Canadá), publicado pela revista Cell Stem Cell. A pesquisa analisou 19 sites especializados na comercialização de terapias com células-tronco — 47% (9) “vendem” tratamentos com células adultas, 32% (6) oferecem transplante das do tipo embrionário. As principais indicações mencionadas pelas “clínicas virtuais” se referem a doenças cardiovasculares (63%) e neurológicas (84%), incluindo esclerose múltipla, derrame, mal de
Parkinson, lesão na medula espinhal e mal de Alzheimer.
 
“Muitas dessas ‘terapias’ simplesmente não estão prontas para uso clínico. E há um grande potencial de que as pessoas seriamente doentes sejam facilmente exploradas”, disse ao Correio Timothy Caulfield, principal autor da pesquisa. Ele admitiu que em algumas jurisdições a oferta de terapias não-comprovadas
é vista mais como uma brecha na conduta profissional do que como irregularidade. “Os tratamentos não são baratos. A média dos custos é de US$ 20 mil (cerca de R$ 49,4 mil) por ciclo.”
 
Fraude
“A venda de terapias a base de células-tronco, sem testes clínicos, torna médicos e cientistas fraudulentos”, alertou Sean Morrison, diretor do Centro para Biologia de Células-Tronco da Universidade
de Michigan e pioneiro nas pesquisas. “Infelizmente, várias empresas têm sido instaladas em países que oferecem ‘terapias com células-tronco’ para diversas doenças, com poucas evidências críveis de que elas ajudem os pacientes”, comentou. Segundo ele, as análises laboratoriais indicam que ainda é impossível tratar a esclerose múltipla e o mal de Parkinson com transplante de células-tronco. “Pacientes com mal
de Parkinson que receberam células neurais não melhoraram, e alguns até pioraram”, disse.
 
O estudo da Universidade de Alberta foi publicado junto com novas diretrizes de pesquisa com células-tronco em seres humanos, definidas pela Sociedade Internacional para Pesquisas com Células-Tronco (ISSCR, em inglês).
 
A entidade planeja incluir em seu portal de internet (www.isscr.org) um manual para ajudar pacientes que buscam esses tratamentos. É o caso do gaúcho Fábio Henrique Grando, de 24 anos. Em 2006, o morador de Brasília pulou na piscina e ficou tetraplégico. “Quem passa por essa situação sabe como é difícil”,
disse, ao admitir que pagaria para recuperar os movimentos das pernas e dos dedos das mãos.]
 
“Acho que os benefícios compensariam os riscos. Os paraplégicos têm mais facilidade com a cadeira
de rodas. Eu sempre dependo de alguém”, justificou-se. Fábio chegou a entrar em contato com um hospital de Portugal que oferecia o transplante de célulastronco adultas, retiradas do nariz do próprio paciente, por 35 mil euros (cerca de R$ 109 mil).

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