A cada ano, a população brasileira envelhece mais. Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007, aponta duas tendências que contribuem para a constatação: enquanto a expectativa de vida no país aumenta, diminuem as taxas de natalidade. Em outras palavras, os brasileiros vivem mais e querem ter menos filhos.
A cada ano, a população brasileira envelhece mais. Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007, aponta duas tendências que contribuem para a constatação: enquanto a expectativa de vida no país aumenta, diminuem as taxas de natalidade. Em outras palavras, os brasileiros vivem mais e querem ter menos filhos.
Segundo o estudo, denominado Síntese de Indicadores Sociais, a expectativa de vida nacional é de 72,7 anos. Dez anos antes, em 1997, o mesmo levantamento apontava uma expectativa de 69,3 anos. Em 2006, era de 72,3 anos. As mulheres continuam vivendo mais que os homens — elas atingem, em média, os 76,5 anos; eles, os 69.
A Pnad revelou a existência, no Brasil, de quase 20 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que corresponde a 10,5% do total da população. Enquanto no período de 1997 a 2007 a população brasileira apresentou um crescimento de 21,6%, o avanço do contingente de idosos foi bem mais acentuado: 47,8%. O segmento populacional de 80 anos ou mais de idade teve uma variação ainda maior: 86,1%.
Vivendo mais, os brasileiros buscam formas de ter uma melhor qualidade de vida na velhice. Foi quando completou 68 anos que Ivan Antônio Miranda resolveu se dedicar a uma antiga paixão, mantida afastada por ter de se dedicar a outras atividades: as artes plásticas. Hoje com 73 anos, Miranda cria quadros com papel machê. Desde que se aposentou, há 13 anos, ele busca atividades para preencher o dia. Fora as artes, escreveu um livro em 2002 sobre experiências com jogo de roleta, paixão iniciada também depois dos 60 anos, e faz diariamente exercícios de alongamento em uma academia. “Querem que a gente vire campeão olímpico, mas como não tenho essa pretensão, vou no meu ritmo, devagar mesmo, diverte-se o aposentado.
Vida a dois
Na tendência oposta, a taxa de fecundidade cai no Brasil. Em 1997, havia uma média de 2,54 filhos para cada mulher. Dez anos mais tarde, essa média caiu para 1,95 filho. A pesquisa do IBGE identifica ainda um aumento significativo dos casais que optam por não ter filhos e nos quais os dois cônjuges trabalham.
Os chamados Dincs (em inglês, double income e no children — dupla renda e sem filhos) saltaram de 2,4% do total de domicílios, em 1997, para 3,4% no ano passado. Em números, a mudança é mais impressionante: 997 mil para 1,9 milhão no período, um aumento de 94,78%. Hoje, 16% dos casais afirmam que não têm filhos por opção.
Ao longo de 19 anos de casamento, Luzia Alves Chirici Nogueira e o marido, Alexis, optaram por uma vida literalmente a dois. Preferem cultivar um dia-a-dia com menos apego ao relógio e mais tempo para o lazer. “Com criança a gente fica muito preso. Nós gostamos de viajar, de sair sem ter hora para chegar”, conta Luzia. Nem a cobrança de parentes e amigos fez os dois, ambos funcionários públicos, arredarem o pé da decisão, tomada quando eles ainda namoravam.
A região onde esse tipo de formação familiar tem mais peso é o Centro-Oeste, representando 4,27% do total. O Nordeste é o outro extremo, com apenas 2,99% dos casais. Esses casais são mais comuns nas faixas de 35 a 44 anos e acima de 45 anos.
“É uma mudança de valores”, analisa a antropóloga Alinne Bonetti, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo ela, há uma mudança do modelo da família mais tradicional, com pai, mãe e filhos, para outro, mais individualista, como nos países desenvolvidos. “Há mais investimento em projetos pessoais. Muitos casais adiam os filhos, outros escolhem não ter.” Para Bonetti, como o fenômeno é concentrado na classe média, que forma opinião, há possibilidade de, no futuro, esse comportamento chegar a outras classes.
"Há mais investimento em projetos pessoais. Muitos casais adiam os filhos, outros escolhem não ter" - Alinne Bonetti, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)